ESMERALDAS NEGRAS - PARTE 7

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Dargo se contorcia de dor à medida que mais setas envenenadas o atingiam. Vindas de quase todas as direções possíveis, perfuravam armadura e carne como fariam com papel. “O veneno vai demorar a fazer efeito”, pensou, fazendo força para não gritar de dor. “Vou resistir o máximo que puder, e matar o máximo que puder”. Sua espada movia-se instintivamente tentando acertar o maior número possível de alvos. Cortes profundos foram abertos, cabeças foram arrancadas, sangue escorreu, e cadáveres caíram. Mas os trogloditas ainda eram muitos, e também atacavam. Dargo não resistiu a uma estocada nas costas e tombou. 

- Já que você estava atrás das esmeraldas – Murdaryk colocou uma das pedras na manopla que tinha em sua mão esquerda – devia ter, pelo menos, pesquisado direito quantas elas eram.

- Mesmo que essa esmeralda seja verdadeira – o Conquistador guardou sua espada na bainha – ela é apenas uma. Eu tenho quatro. Quem você acha que está em vantagem? 

O Conquistador Negro fechou os olhos. Uma fração de segundo de concentração foi suficiente para que ele fosse circundado por uma aura negra. Mais do que um simples brilho ao redor de seu corpo, aquilo era a essência de sua maldade materializando-se. Um ódio palpável impregnou o ambiente, gerando medo, calafrios e sensação de impotência. Murdaryk, pela primeira vez, achou que poderia perder. 

- Chegou a hora de você descobrir a extensão do meu poder. 

Mesmo já sendo noite, uma doentia luz negra conspurcou o horizonte, cobrindo ainda mais os céus com trevas. Nem a lua e nem as estrelas conseguiram brilhar o bastante para sobrepujar a penumbra que se formara. O Conquistador mantinha os olhos fechados. Não se movia, não falava, e parecia nem respirar. Apenas se concentrava, mais e mais, trazendo mais escuridão, mais trevas e mais medo.

Então, o chão começou a tremer. Violentamente, como se algo debaixo da terra quisesse vir à superfície. Galhos, folhas, frutos, tronco e árvores inteiras começaram a subir, junto com pedregulhos, arbustos e quantidades generosas de terra. Murdaryk procurava manter o equilíbrio, não tendo mais em que se apoiar. O vento soprou feroz, levando para longe tudo que não teve forças para se proteger. A floresta inteira, os trogloditas, o corpo de Dargo. Tudo foi arremessado a uma distância impressionante. O tufão recém-formado recusava-se a diminuir sua intensidade e Murdaryk não resistiu. Pássaros começaram a cair sem vida. Trovões eclodiam seguidos por relâmpagos furiosos. A floresta tornara-se um deserto devastado por um furacão. 

- Eis parte do que posso fazer com minhas esmeraldas. E você, seu verme? Por que não me mostra o que sua única esmeralda pode fazer? 

O medo foi sobrepujado pela fúria. Murdaryk encrespou o cenho, segurou o cabo do machado com uma força quase tão sobrenatural quanto a de seu oponente, e avançou em desabalada carreira pronto para golpear. Seu ataque seria capaz de partir ao meio mil rochas. Mas o Conquistador Negro se esquivou com uma velocidade impressionante. 

- Isso foi tudo?

- Não preciso de esmeraldas para te matar – o bárbaro respondeu colérico. 

Mesmo frente a frente com o oponente, o machado não encontrava o alvo. A lâmina cruzava o ar em todas as direções, sedenta por sangue, mas o adversário era sempre mais ágil. Por mais velozes que fossem as investidas, mesmo antevendo os próximos movimentos do rival, não havia como superar sua velocidade. Subitamente, a aura negra que cercava o Conquistador ganhou proporções maiores arremessando Murdaryk para longe. 

- Você teve sua chance e não aproveitou. Prepare-se, pois agora é a minha vez de atacar.

O bárbaro levantou-se com cortes profundos na teste e em um dos supercílios. O sangue banhava o rosto, dificultando a visão. Tinha também a sensação de ter partido algumas costelas com o impacto da queda.

- Se essa esmeralda tem mesmo algum poder, esse é o momento de manifestar.

Murdaryk respirou fundo e fechou os olhos como o Conquistador Negro havia feito antes. Concentrou-se, esperançoso de que o poder da esmeralda fluísse. 

***

Proximidades de Zyephyn.

- Afinal, o que Murdaryk pretende? – Tahya aproveitou para alisar seus longos cabelos enquanto aguardava a resposta do sábio.

- Ele acha que pode deter o Conquistador usando a quinta esmeralda negra – Vierhut, com um estalo dos dedos, fez seu cajado materializar-se em suas mãos – Ele acha que pode vencer esta batalha.

- E pode? – Durud questionou.

- Não. Ninguém pode.

- A Rainha tinha falado alguma coisa sobre um lugar chamado Zona Negativa. O que sabe sobre esse lugar? – a druida certificava-se que suas mãos não estavam esfoladas e que suas unhas estavam intactas.

- Sei que com a quinta esmeralda é possível realizar um feitiço que aprisiona o portador das outras quatro esmeraldas para sempre na Zona Negativa – um brilho vermelho surgiu nos olhos de Vierhut – Esse é o poder do quinto semideus.

Tahya e Durud se entreolharam.

- Seu amigo bárbaro não saberá usar adequadamente o poder da quinta esmeralda. Nossa única chance é irmos até lá. Enquanto vocês fazem o possível para deter o Conquistador Negro, eu uso a esmeralda para fazer o feitiço que vai aprisioná-lo.

- Não gosto da idéia de eu ter que lutar com alguém tão mais forte – Tahya respondeu – E se eu quebrar minhas unhas?

- Acha que a sua rainha gostaria de ouvir você dizer isso? – o sábio se irritou.

- Sua Majestade também tem unhas. Tenho certeza que ela entenderia.

- Pior do que acontecer algo ruim a suas unhas é se acontecer algo ruim a nossos amigos. E se Dargo e Murdaryk estiverem morrendo na batalha? – Durud refletiu.

- Dargo já está morto – resposta seca de Vierhut.

Tahya e Durud voltaram a se entreolhar. Um brilho do cajado fez os três sumirem. 

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