Minha estabilidade

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Pov Rodrigo

Acordei por volta das oito da manhã. Fiz minhas higienes matinais, vesti uma camisa azul e uma calça jeans preta, penteei os cabelos e fui até a cozinha. Peguei uma cesta, coloquei algumas frutas, salgados, doces e outros petiscos dentro dela e fui até a clínica. Todo domingo é sempre o mesmo programa: passar o dia com minha mãe. Fazemos sempre um pequenique lá, pois a clínica possui vários locais de lazer, como piscina, parque, bosque, lago. É como se fosse uma colônia de férias, na minha opinião tudo isso é para fazer eles esquecerem a dor que sentem. O domingo é meu melhor dia da semana, pois é um dia inteirinho com ela, durante a semana eu apenas a visito uma vez antes de ir ao trabalho, pois passo o dia preso na empresa, e quando chego a noite, os horários de visitas não são mais permitidos.

Estacionei o carro e desci. Fui até a recepção e passei por aquele mesmo "processo." Tenho que esvaziar toda a minha preocupação, para que minha mãe não perceba o tamanho dela. Ainda estou super chateado com aquela uma, e lembrar que amanhã é segunda e que eu volto a ser seu assistente me dá nos nervos. Tentei ir atrás de um empréstimo no banco, mas não funcionou. Já estou devendo muito por ter pegado dinheiro emprestado pra dar entrada no meu apartamento. Agora tenho que fazer das tripas, coração.

Passei pelo corredor e cheguei à porta que leva ao jardim. A vi sentada no mesmo lugar de todos os domingos. Em um banco que fica embaixo de uma árvore. Ali perto também tem algumas rosas vermelhas (as favoritas dela).

-Bom dia- sorri e a abracei forte, ela me olhou e pude ver que seus olhos brilhavam de felicidade.

-Bom dia meu amor. Tudo bem? -sentei-me e ela passou a mão pelo meu cabelo, descendo até meu rosto e ficando ali. Me olhava com ternura.

-Estou ótimo, e a senhora, como anda? Quero saber a verdade mocinha! - ela tirou a mão do meu rosto, gargalhou e eu a acompanhei.

-Estou bem. Na verdade senti muitas dores noite passada, mas já passou. - sorriu sem humor e essas palavras cortaram meu coração.

-Eu prometo - peguei suas mãos e as apertei forte. -Que iremos encontrar um doador compatível! Prometo por tudo que é mais sagrado.

-Eu sei que você fará. Eu não tenho dúvidas disso. - sorriu e me abraçou. Ela ficou um bom tempo encostada no meu peito, enquanto isso eu pensava em como sair dessa. Sua respiração estava tranquila, até eu ouvir um suspiro.

-Eu estava pensando - deu uma pausa e me encarou. -Podemos arrumar uma clínica mais em conta, eu sei que você esta com problemas financeiros, eu te conheço melhor que ninguém. E você sabe que aqui é muito caro.

-Eu quero o melhor pra você, e você sabe que aqui é a melhor clínica de Nova York. E nem que eu tenha que catar latinha, mas eu vou dar um jeito nisso tudo. - beijei sua testa e a abracei novamente.

O restante do dia foi tranquilo, ela não tocou mais nesse assunto e conversamos diversas coisas. Sobre quando eu era pequeno, das travessuras, do tempo da escola, do natal em que toda a família tava reunida. De quando eu tentei fugir pela janela pra ir na pista de skate e meu pai me pegou no flagra, nessa época eu tinha 13 anos. Eles não gostavam muito quando eu ía lá, tinham medo de eu me machucar. Falamos apenas de momentos alegres e esquecemos um pouco dos problemas, também fizemos nosso pequenique, passeamos pelos lagos, e no parque.

Quando já estava quase anoitecendo, despedi-me da minha mãe. Fui pra casa e durante todo o caminho pensei em como vou fazer pra arrumar dinheiro, já que meu salário foi cortado pela megera. E principalmente: achar um doador compatível. Já tivemos vários, mas nem um deram certo.

Entrei em casa, fui para o quarto, peguei minha toalha e fui tomar uma ducha bem relaxante.
Vesti uma calça folgada de moletom e uma camisa. Entrei na cozinha em busca de algo pra comer, encontrei uns pães. Abri a geladeira e encontrei alguns ingredientes para fazer um sanduba, peguei também uma garrafa de coca-cola. Fiz o sanduíche e sentei no sofá, coloquei um filme de terror (adoro esse tipo). Já estava quase na metade do filme quando ouço a campainha tocar. Olhei as horas no relógio em meu pulso, 21:34 Quem será a essa hora?

-Oi! -abri a porta e vi uma Pâmela sorridente.

-Oi, aconteceu alguma coisa? -a olhei confusa. Somos muito amigos, mas ela vir aqui a essa hora é estranho.

-Não - vi que ela ficou meio sem graça, suas bochechas coraram. -Só tava passando aqui por perto e resolvi vim dar um oi.

-Ah sim! Então entre! - dei passagem pra ela entrar e depois fechei a porta. Fiz sinal para que sentasse no sofá e ela o fez, sentei ao seu lado. -Então, o que estava fazendo a essa hora na rua?

-Dei uma saidinha com algumas amigas! - sorriu sem graça e olhou para tv, quando percebeu que era filme de terror fez uma cara bem assustada e eu não aguentei e acabei rindo disso. -Pare de rir de mim! - socou meu ombro de leve.

Terminamos de assistir o filme e colocamos outro, só que de comédia agora. Ela fez pipoca e mais dois sandubas.

-Aqui esta! - trouxe uma bacia com as pipocas e a bandeja com os dois sandubas, pôs tudo em cima da mesa de centro. -Vou buscar os refris. - foi até a cozinha buscá-los. -Pega! - peguei minha garrafa e ela sentou-se novamente ao meu lado.

Choramos de tanto rir do filme, era bem legal, e uma companhia até que foi boa. Na verdade a Pâmela sempre consegue fazer bem a qualquer um, ela é especial. Sempre se preocupa comigo, com meus problemas e sempre me ouvi. Somos amigos desde quando entrei na empresa, à seis anos. Comecei um estágio na Bittencourt Cosmetic aos 20 anos, e depois disso evolui até chegar à braço direito do senhor Otávio, e sempre Pâmela estava ao meu lado, ela sempre me ajuda quando eu não conseguia fazer algo. Em relação ao seu Otávio, sou seu braço direito por muitos serviços meus prestados à ele, já o ajudei a desmascarar pessoas que tentaram roubá-lo e já até me enfiltrei na concorrência. Tenho certeza que se ligasse para falar da minha situação ele me ajudaria, mas não quero atrapalhar suas merecidas férias.

-Acho que já esta tarde. É melhor eu ir indo! - a hora passou bem rápido, olhei a TV e tudo que se via eram os créditos finais do filme, olhei o relógio e marcava 00:14.

-Eu te levo! - me ofereci já levantando e indo para o quarto trocar de roupa.

-Não precisa, estou de carro. - ela gritou da sala. Teimosa.

-já disse que te levo! - gritei de volta.

-E meu carro? - me assustei ao vê-lá na porta do quarto, ainda mais com as bochechas levemente coradas. Terminei de vestir minhas calças e peguei uma camisa para vestir.

-Eu te levo nele e volto de táxi. -sorri. Saímos do quarto e fomos até o estacionamento do meu prédio. Eu fui dirigindo até sua casa. Parei e desci para abrir a porta pra ela.

-Que cavalheiro! - disse saindo e eu sorri meio bobo.

-Pois é ainda existem, sabe! - entreguei-lhe a chave, e quando nossas mãos se tocaram eu imediatamente a encarei, ela fez o mesmo. Somos amigos, eu sei, mas não posso negar que Pâmela é uma mulher bonita, assim como não posso negar que a megera também é lindíssima, mas o que ela tem de linda, tem de insuportável. Por que eu to falando dela mesmo? Eu mesmo estraguei minha noite falando nela é isso? Mas bem, voltando à Pâmela, ela é linda. Cabelos castanhos claros na altura dos ombros, olhos cor de mel de uma intensidade incrível. Um corpo bem apessoado, sem falar que todas as suas qualidades a torna ainda mais interessante, e só se eu fosse um gay pra não percebê-lá certo?

Sai dos meus pensamentos e pude vê-lá corada. Ta rolando um clima aqui e minha vontade é de beijá-lá, e foi o que eu fiz. Sem pensar duas vezes toquei seus lábios de leve, depois fui aprofundando o beijo, pedi passagem com a língua e ela sedeu. Foi um beijo calmo, sem toda aquela euforia onde os hormônios gritam por mais, até ir para a "segunda etapa." Nos desvencilhamos e nos olhamos. Vi um lindo sorriso em seus lábios. É, ela gostou e eu também. Isso nunca tinha acontecido entre nós dois, e nesse momento me amaldiçoei por isso, porque foi uma ótima sensação. Percebi que Pâmela é uma pessoa que traz tranquilidade. Que me dá estabilidade.

Meu Noivo De MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora