08.

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[...]

|Connie|

- Porra! - Bati com o pé no chão, pela provável milionésima vez desde que aquele estúpido de caracóis levou a minha irmã. - O que me impede de, neste momento, desatar daqui a correr e ir de encontro àquela criatura e lhe arrancar os olhos à chapada?

- Talvez... Eu? - Mr. Irwin constatou, como se fosse o pormenor mais óbvio das profundezas humanas. Revirei-lhe os olhos.

- Será que não existe alguém nesta casa com um pouco de bom senso? - Perguntei, cruzando os braços. Encostei-me na parede atrás de mim.

- Bom, eu tenho bom senso, sou uma pessoa séria e responsável. - Ashton falou, como se estivéssemos no meio de uma conversa completamente normal e sociável.

- Num ambiente destes, custa-me demasiado acreditar que um ser humano consiga pensar de forma racional. Vocês têm a noção de que tudo isto, as raparigas, a mansão, é muito sinistro, certo?

- Não deverias julgar aquilo que nunca conheceste, Connie. - Ele fixou-me com o olhar, e em seguida fez-me sinal para me aproximar. Caminhou até ao lado oposto da divisão, e acabamos ambos sentados no largo parapeito da janela.

- Não entendo o que queres dizer Irwin. - Eu estava bastante confusa. Apesar de aparentemente ele ser mais consciente do que Styles, não conseguia ser totalmente explicito nas suas falas.

- Oh, trata-me por Ashton. - Sorriu-me - Aliás, vamos fazer de conta que nada de estranho se passa aqui. Somos apenas duas pessoas que estão a explorar o mundo uma da outra, conversando calmamente ao pé de uma janela que nos transmite uma paisagem maravilhosa.

- Talvez funcione. - Suspirei, e olhei através do vidro incrívelmente limpo.

Ashton tinha razão, a paisagem era realmente linda e acolhedora. O céu estava completamente limpo, sem o mínimo sinal de nuvens; o sol irradiava largos e longos feixes de luz que refletiam nas sombras altas e esguias das árvores e arbustos no parque em frente à mansão. Havia diversos bancos de madeira por lá espalhados e na flora que crescia ao longo do espaço pousavam borboletas de diferentes tamanhos e feitios.

Noutra ocasião, sem dúvida que iria adorar passar ali o dia; no parque andariam talvez umas sete pessoas, ora sentadas, ora a passear, ou simplesmente a desfrutar das condições climáticas e da natureza a seu redor.

- É fantástico, não achas? - Fui interrompida dos meus pensamentos pela figura à minha frente. Assenti com a cabeça, encantada.

- É incrível como as aparências podem realmente iludir-nos. Quem olha para esta mansão desde o parque, provavelmente imaginará uma família extremamente luxousa a habitar aqui. E como é óbvio, não é o que acontece nesta situação. Por vezes rio-me sozinho ao observar através desta mesma janela algumas reações de pessoas quando os seus olhares se cruzam com esta casa. "São tão ingénuos.", penso eu.

A minha boca abriu-se num o redondo. Uau.
Irwin era extremamente maduro na sua forma de pensar, calmo por natureza, e demonstrava ser exatamente o oposto de alguém que rapta raparigas inocentes. Sim, ele tinha razão. As aparências iludem.

- Ashton... Posso fazer-te uma pergunta? - Hesitei, antes de avançar com o assunto.

- Força nisso. - Respondeu-me, sem nunca descruzar o seu olhar de mim.

- Como chegaste a este sítio? E porque te aliaste ao Styles? - Se queria realmente esclarecer as minhas dúvidas, esta teria de ser a minha oportunidade.

No mesmo momento, as covinhas do seu sorriso desfizeram-se, e o seu rosto passou a transmitir uma expressão carregada, bastante séria. Merda.

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