Promessas

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  Depois da noite que Melody descobriu o que estava acontecendo, tudo virou uma completa bagunça.

  Primeiro parecia que ela nunca iria parar de chorar, passava o dia todo chorando baixinho, depois parou e ficou calada e de repente eu vi Melody ter surtos de irá do nada. Foi assustador.

  Mas isso tem uma explicação, segundo a psicóloga que estava acompanhando o caso esses eram um dos efeitos colaterais de se estar morrendo, até tinha uma teoria que poderia explicar todas essas explosões imprevisíveis de sentimentos e mudanças de humor, um paciente terminal passa pelas seguintes fases ( não necessariamente nesta ordem ): Negação e isolamento, raiva, negociação e diálogo, depressão e aceitação

  Melody pulou e inverteu algumas fases, da negação e isolamento passou para raiva e depois para a depressão e só aceitou o fato que não poderia fazer nada pra mudar muito tempo depois. Esse processo demorou quase um mês e meio, mas finalmente ela tinha começado a estabilizar o seu estado emocional e isso nos aliviou um pouco, quer dizer, eu e a família dela estávamos ficando loucos, hora tínhamos que receber mais e mais noticias ruins e hora tínhamos que tentar acalmar Melody . E eu estava um trapo, tinha noites que eu não dormia e ia pra escola parecendo um zumbi, nem prestava atenção nas aulas e no final do dia ia pro hospital. Por fim foi preciso desmarcar a visita ao hospital, conversamos com o professor de sociologia a respeito do trabalho, ele acabou concedendo mais um mês de prazo.

  Quando Melody finalmente recebeu alta fizemos uma mini festa ( ideia brilhante da Amanda ), tipo, todos os amigos que a visitaram no hospital ficaram esperando a gente chegar em casa e quando Melody abriu a porta um coro de vozes gritou : ‘’Bem vinda de volta! ’’ Foi legal, bom para distrair. Quando todos foram embora Melody estava cansada e decidiu tirar um cochilo, enquanto isso fui ajudar a mãe dela a lavar a louça.

— Caleb? — Abigail secava as mãos no avental, suspirou — Obrigada por tudo o que você está fazendo... Agradeço todo santo dia por você estar ajudando minha filha a você sabe... Se não fosse você...

— Ah! Ahn... De nada.

Ela esfregou a testa e se apoiou na bancada da cozinha, os braços cruzados, olhando para os pés.

— Oito meses é muito pouco não é?

  Engoli em seco, eu sabia sobre o que ela estava falando, do tempo estimado de vida que Melody ainda teria, ‘’ De oito a nove meses, mas é impossível determinar com exatidão, uma vez que ela não reage da mesma forma aos remédios, a quimioterapia não vai adiantar quase nada, ela também não reage muito bem a ela, Melody entrou em um estágio onde as chances de cura são poucas ‘’ Dr. Elias havia dito. Olhei para Abigail, ela estava com os olhos marejados.

— É.

— Me promete uma coisa? Não por mim, mas por ela?

— O que?

— Faça esses oito meses valerem á pena? — limpou rápido uma lágrima que escapou e olhou pra mim, eu estava meio sem reação — Você parece ser o único que consegue... Arrancar um sorriso dela, quando você sabe... Não se afasta ok?

Senti meu coração apertar.

— Tudo bem.

  Abigail assentiu com a cabeça e começou a secar as vasilhas imersa em pensamentos, com os olhos ainda marejados.

— Caleb? — a voz rouca e sonolenta de Melody me chamou e logo tirei as minhas mãos da água para correr até a sala.

— Que foi? — perguntei, Melody estava sentada no sofá, tinha acordado a pouco tempo pelo visto, os olhos piscavam para afastar o sono.

Querida MelodyOnde histórias criam vida. Descubra agora