Aqueles gigantescos olhos cinzas me fitaram marejados, esperei por sua resposta ainda segurando a sua mão, o coração batendo forte no peito.
Eu tinha ensaiado tanto um outro discurso que tinha escrito a meses atrás, mas na hora H acabei falando o que me veio na cabeça, e admito que estas palavras foram infinitamente mais verdadeiras do que eu havia escrito no papel. Eu amava aquela menina de uma maneira inexplicável e nem mesmo as palavras dos melhores poetas ou as letras das melhores músicas poderiam descrever o que sinto. É diferente, como se nada mais importasse só ela mas ao mesmo tempo tudo importa, viu como é difícil entender? É confuso, ao mesmo tempo é claro como a cor de seus olhos, é bonito como o seu sorriso e ao mesmo tempo doí, doí como ve-la chorando, mas a dor faz parte do sentido da palavra amar, pelo menos eu acho. Viu? Confuso.
Então os cantos dos seus lábios foram se erguendo, até que seu rosto estivesse decorado por um sorriso e molhado por lágrimas, ela balançou a cabeça dizendo sim e senti meu coração explodir num misto de alegria e alívio.
- Posso colocar?
- Pode - ela respondeu a voz rouca.
Deslizei a aliança pelo seu dedo fino, eu estava tão feliz, talvez felicidade não chegue nem perto do que eu sentia naquele momento, ver aquela aliança em seu dedo era surreal, totalmente inacreditável, e eu não me importava se éramos novos de mais, ou se talvez em alguns meses ela não estivesse aqui para me dizer bom dia na escola, eu só pensava que aquela menina, tão bonita, engraçada e resmungona, seria minha, para sempre.
Assim que coloquei o anel em seu dedo levei sua mão até os lábios e beijei o nó de seus dedos. Então ela me abraçou e caímos na grama, seus lábios se colaram aos meus e nos beijamos, passamos a tarde assim em nossa pequena bolha de alegria, alheios ao mundo, ignorando todos os problemas que a vida nos impunha, naquele momento era só eu e ela, só Caleb e Melody, noivos.
Quando o sol já estava se pondo lembrei de um lugar que eu gostaria que fossemos, entrelacei os meus dedos nos de Melody e fomos andando devagar, até chegarmos no mirante que tinha no sitio, dava para ver toda a cidade dali e o sol se pondo lá no horizonte, tocando o mar devagarzinho para dar lugar a lua, era realmente lindo e tudo ficava ainda mais especial por causa de Melody. A envolvi com os braços, para um abraço e ela reencostou a cabeça em meio peito.
- Dança comigo? - sussurrei.
- Sem música?
Peguei meu Ipod dentro do bolso da calça, tinha trazido especialmente para isso, lhe entreguei um fone de ouvido e ela pós em seu ouvido, coloquei o meu e dei play na música Stop Crying Your Heart Out do Oasis, Melody passou seus braços pelo meu pescoço novamente e envolvi sua cintura com os meus, ficamos apenas balançando nossos corpos no ritmo lento da música, senti minha camiseta ficar molhada por causa das lágrimas de Melody e lhe dei um beijo no alto da cabeça, a abracei um pouco mais forte, eu queria poder eternizar aquele momento, congelar o tempo e ficar assim pra sempre. Quando a música terminou Melody se ergueu, na pontas dos pés e sussurrou para mim.
- Eu te amo Caleb, mais do que eu poderia imaginar.
- Eu também te amo Mel, pra sempre.
- Pra sempre - ela confirmou.
*
Anunciar para os nossos pais que estávamos noivos foi divertido, não teve toda aquela confusão de sogro querendo matar o noivo, nem tiro, nem ninguém foi parar no pronto socorro por causa de uma briga. Todos ficaram felizes demais, minha mãe chorou, Abigail também, nossos pais se parabenizaram, nos parabenizaram e no final tudo terminou com um belo churrasco para comemorar o noivado. Muitas pessoas da família de Melody resolveram aparecer, eu não tenho muitos parentes na cidade então só o vovô e algumas tias e primas minhas vieram. Foi muito divertido porque minhas tias não fechavam a boca de jeito nenhum e encheram a Mel de elogios, além de ficarem falando sem parar sobre casamentos, vestido, festas e de como eu era bagunceiro e que ela teria que ter muita paciência comigo e blábláblá...
Minhas tias também pensaram que Melody estava grávida, porque iriamos nos casar cedo de mais, mas eu não quis explicar sobre a doença e todas aquelas coisas ruins que não queria me lembrar, todos pareciam até ignorar o cilindro de oxigênio no carrinho e ninguém questionou o porque de ele estar ali ou o por que de ela ter que respirar com a ajuda dele.
No final do churrasco fizemos um brinde, a mamãe disse algumas palavras com a voz embargada, dona Abigail gastou quase uma caixinha de lenços inteira e papai já meio alterado por causa da cerveja até cantou, o que não era nada bom porque como eu ele tem uma péssima voz. Fomos embora quando Melody ficou exausta e acabou pegando no sono com a cabeça encostada em meu ombro.
*
Os dois meses seguintes passaram com uma rapidez absurda. E isso definitivamente acabou comigo, a saúde de Melody estava ficando ainda mais fragilizada, seus cabelos caíram por causa da quimioterapia e isso foi um problema porque ela estava ficando triste e todos temiam que ela voltasse a ter depressão.
Conseguimos concluir o trabalho de sociologia e entregar ao professor e tiramos nota máxima, pelo menos isso deixou Melody muito feliz.
Mamãe e Abigail já tinham começado os preparativos do casamento, procuraram agendar o casamento para uma data próxima. Foi difícil para mim aceitar que o tempo talvez estivesse se esgotando, nesses últimos meses eu estava dormindo muito mal porque dormia sempre preocupado com a Melody e toda a vez que o telefone tocava eu rezava para não ser alguma noticia ruim. As recaídas estavam ficando um pouco mais frequentes, muitas vezes tínhamos que correr para o hospital por causa de um sangramento ou tosse.
Certo dia, a mãe de Melody disse que nos levaria a uma loja de perucas, Melody negou varias vezes dizendo que a ideia era ridícula e que ela não iria usar uma peruca, mas fomos mesmo assim, era melhor do que deixar Melody ficar em casa o dia inteiro vendo três temporadas seguidas de qualquer coisa que estivesse passando na TV.
Quando chegamos na loja Melody ficou até um pouco animada, pediu para atendente pegar um monte de perucas, de todos os tipos, desde o afro até os cabelos coloridos. Foi bastante legal porque até eu experimentei várias perucas, e Melody riu bastante.
Então ela viu uma peruca ruiva, os cabelos muito parecidos com os dela antigamente, pediu para experimentar, e se olhou no espelho, vi seus olhos ficarem um pouco mais tristes enquanto ela fitava a si mesma com a peruca. Me levantei do puff no qual estava sentado e me aproximei, ela se virou para mim.
- O que você acha dessa?
Olhei para a peruca, depois tornei a fitar seus olhos.
- Não gostei.
- Mas se parece tanto com os meus cabelos de antigamente, você não acha?
Tirei a peruca de sua cabeça e coloquei em cima do balcão, ela me olhou sem entender nada, envolvi seu rosto com as mãos e beijei o alto da sua cabeça.
- Você é linda pra mim, do jeito que você é.
Ela sorriu.
- Eu te amo sabia?
E me abraçou.
No final saímos sem comprar nada e fomos tomar sorvete na praça de alimentação do shopping.
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Querida Melody
RomanceTudo começou com um simples oi. Se tornaram melhores amigos em questão de dias, podiam contar um com ou outra pra qualquer coisa. Uma notícia inesperada faz com que se aproximem ainda mais. O amor ganha espaço quase que imediatamente. Eles se comple...