Ligações

33 1 0
                                    

Dez dias depois do meu aniversário recebo uma ligação no meio da noite.

Deviam ser mais ou menos duas horas da manhã quando acordei com o toque estridente do meu telefone, ainda grogue de sono tateei as cobertas procurando pelo celular e quando o achei atendi sem ver quem era.

- Caleb? - a voz era do pai de Melody, parecia preocupado e isso me fez despertar na mesma hora.

- Sim?

- Estamos levando a Melody para o hospital, ela está queimando de febre e chorando por causa de uma dor de cabeça horrível.

Levantei-me da cama praticamente em um pulo, vesti a primeira roupa que encontrei. Meu pai e minha mãe ainda estavam acordados, vai saber o porquê, papai se ofereceu para me levar ao hospital e mamãe acabou ficando em casa.Quando chegamos à emergência do hospital encontramos o pai de Melody com o filho adormecido nos braços sentado na sala de espera. Eu nem conseguia pensar em muita coisa, nem raciocinar direito porque tudo que eu queria naquele momento era saber como Melody estava, queria estar com ela, será que ela estava com medo agora? Será que está se sentindo sozinha? Meu coração se apertou de uma maneira horrível, eu sentia tanto medo que por pouco não ficava paralisado.

- O que aconteceu? - perguntei.

- A Mel acordou no meio da noite com uma dor de cabeça horrível, viemos correndo para o hospital, ela deu entrada na emergência praticamente desacordada.

Desabei na cadeira em frente ao pai de Melody enquanto sentia todos o peso do mundo sobre os meus ombros. Meu pai se sentou ao meu lado e afagou minhas costas tentando me reconfortar.- Ela vai ficar bem filho.

Não respondi, o desespero sufocava todas as minhas palavras.

- A Mel é forte, vai ficar bem - ouvimos a voz de Dona Abigail e levantei a minha cabeça, ela estava com os olhos rodeados por fundas olheiras e com a expressão tomada pelo cansaço, ela sentou-se ao lado do marido e afagou a cabeça do filho.

- Ela vai - afirmei, embora estivesse com medo de talvez aquelas palavras fossem só tranquilizadoras e não verdadeiras, não que eu estivesse sendo pessimista, mas o medo de perdê-la me doía de mais.

Ficamos esperando por notícias até as três horas da manhã, quando parecia que o tempo passaria cada vez mais devagar um médico apareceu, trazia consigo uma prancheta, era parecido com o Dr. Elias só que mais magro e mais jovem.

- Quem são os responsáveis por Melody Hollys Wiston?

Os pais de Melody levantaram-se, Abigail agarrou a mão do marido e meu coração bateu forte no peito. Tudo que eu queria ouvir é que ela estava bem.

- Como ela está? - dona Abigail perguntou a voz embargada.

- Está bem agora- o doutor soltou um suspiro e folheou alguns papeis - Mas a situação dos pulmões dela não é nada boa. A dor de cabeça que ela estava sentindo foi causada por uma má oxigenação, felizmente vocês a socorreram a tempo e por isso não foi deixada nenhuma sequela...

Não ouvi mais nada que o médico disse, estava aliviado de mais para conseguir prestar atenção, soltei um suspiro sentindo um pouco do peso diminuir em meu peito.

- Provavelmente será necessário que Melody use o cilindro de oxigênio para que auxilie na respiração - voltei minha atenção para o doutor.

O silêncio perpetuou na sala de espera, se não fosse por toda aquela correria e o barulho de bips e médicos correndo pra lá e pra cá poderíamos até dizer que o mundo tinha sido paralisado.

Ninguém disse nada por um tempo um tempo, então Abigail só assentiu com a cabeça e o marido passou o braço livre em volta dela. Olhei para o meu pai e ele estava com uma expressão muito séria, olhava para as chaves do carro em suas mãos, pensativo, eu me sentia um pouco tonto, talvez por causa do excesso de informações que estava recebendo, eu sabia que meu cérebro iria finalmente pifar um dia.

Me levantei e sai da sala de espera, eu precisava de um pouco de ar livre, precisava sentir o cheiro de qualquer coisa que não me lembrasse o cheiro de hospital. Assim que cheguei ao lado de fora do hospital fui para o estacionamento , me apoiei no carro do meu pai e fitei as estrelas. Tudo em mim doía, tudo, não havia se quer uma parte de mim intacta. As lágrimas começaram a se formar nos meus olhos e engoli em seco, cerrei os dentes e respirei fundo. Perder o controle era muito fácil, bastava um suspiro mais pesado. Eu me tornei um represa, pronta para explodir se houver um vazamento, e eu não queria me descontrolar na frente de ninguém. Na verdade só precisava de um tempo sozinho.

- Filho?

Virei-me, meu pai me olhava com as mãos nos bolsos, a expressão séria no rosto.

- Só precisava de ar puro - minha voz saiu rouca e baixa, respirei fundo mais uma vez e cerrei a mandíbula, queria continuar sendo uma represa perfeita, mas aquilo estava se tornando uma tarefa quase impossível.

- Caleb, você está mesmo preparado pra isso?

- Isso o que?

Meu pai soltou um longo suspiro e se apoiou no carro a minha frente ficando de frente pra mim, cruzou os braços e me encarou.

- Talvez as coisas só piorem... Não estou querendo ser pessimista nem nada, eu só não quero que você, sabe... Não quero que você fique triste - meu pai disse.

- Eu amo ela pai - disse, a voz embargada, pelo visto as rachaduras começaram a se abrir da forma mais dolorosa possível, olhei para o chão e senti o rosto ficar molhado.

Meu pai não disse nada, ofereceu um abraço e aceitei, depois que estava mais calmo voltamos para o hospital.

Só pude visitar a Mel pela manhã, ela não tinha acordado ainda, mas não dei muita importância. Meu pai foi pra casa e prometeu que me ligaria depois.

Melody estava bem mal, pálida, na verdade a quimioterapia já estava a deixando bastante pálida, mas ela parecia ainda mais pálida, tinha voltado a respirar com ajuda dos aparelhos e seus batimentos cardíacos estavam sendo monitorados. Aproximei-me da cama dela e puxei uma cadeira para me sentar ao seu lado, peguei a sua mão e levei até os lábios depositando um beijo de leve.

- Bom dia - eu disse, quase que em um sussurro.O mais impressionante foi o quanto os batimentos cardíacos dela se aceleraram, e aos poucos seus olhos foram se abrindo e ela deu um sorriso fraco. Senti um alivio tão grande que foi impossível não abrir um sorriso.

- Bom dia - respondeu ela, com a voz tão rouca e baixa que quase era inaudível.

Depois sorriu e apertou a minha mão de leve, parecia bem mais fraca do que o normal, depois suspirou e fechou os olhos novamente, me levantei e lhe dei um beijo no alto da cabeça.

*

Três dias depois saímos da hospital com uma Melody mais ou menos recuperada e tendo que levar consigo um cilindro de ar. Mas ninguém além dela deu muita importância pra isso, Melody ficou chateada pelo o fato de não poder mais nadar com os tubarões e que isso séria um item a menos em sua lista e isso era deprimente.

Voltei pra casa depois de passar o resto da tarde na casa de Melody, quando cheguei tomei um banho e caí na cama. Acho que apaguei em uns dois segundos.

Alguns dias depois tivemos que levar Melody para a quarta sessão de quimioterapia, ela reclamou e reclamou como sempre, mas no final acabamos combinando de sair para fazer alguma coisa juntos no final de semana, caso ela estivesse melhor. Eu quero logo lhe mostrar a surpresa que tinha preparado então estou meio ansioso. Tinha trabalhado duro junto com o meu pai para preparar essa surpresa pra ela. Até tinha combinado com os pais dela tudo o que iria fazer e se tudo ocorresse bem seria perfeito.Vamos rezar para que eu não faça alguma coisa muito errada e tudo acabar numa bela tragédia.

Querida MelodyOnde histórias criam vida. Descubra agora