Tivemos que adiar o encontro para o domingo pois Melody não estava se sentindo bem. E cá estou eu na sala de estar da casa dela a sua espera.
Se eu estou nervoso?
Sim, muito nervoso.
Mas não é pelo fato de estar indo para um encontro com uma garota linda, mas pelo fato de estar sendo encarado pelo pai dela nesse exato momento enquanto a espero descer de seu quarto. Parece que eu estou sendo observado por um gavião e se eu der qualquer passo em falso ele vai me atacar, fico imaginando ele sacando a arma e me dando um tiro, oh céus, pra que fui lembrar disso?
— Demorei?
A voz doce de Melody ecoou pela sala, foi só ai que fui perceber o quão silencioso estava o ambiente e isso era sinistro. Virei minha cabeça para observar Melody e de novo meu coração decidiu parar.
Uma vez, eu li em algum livro ou algum lugar algo mais ou menos assim:
‘’ Toda aquela besteira que vem nas piadas do Saturday Evening Post e tudo, mostrando uns caras esperando pela namorada na esquina, furiosos porque ela está atrasada, isso é tudo conversa fiada. Se a garota está bonita quando chega, qual sujeito que vai se importar por causa do atraso? Ninguém se importa ‘’
E mano, agora eu tenho que concordar com esse autor brilhante, quem se importa com os dez minutos de atraso se a garota está deslumbrante? Ninguém se importa mesmo, porque nos esquecemos disso ao fita-la, esquecemos até do nosso próprio nome, por acaso lembraríamos-nos do atraso? E vocês já devem ter percebido que é isso que está acontecendo comigo, Melody está absurdamente bonita.
Deixou os cabelos soltos dessa vez, uma cascata de mechas ruivas caindo sobre seus ombros, a franja caindo sobre o olho acinzentado, vestia um vestido bonito azul que apesar de não ser todo justo e grudado no corpo acentuava suas curvas (e que curvas ) .O tom de azul combinava perfeitamente com os seus olhos. Eu sei. Ela está vestida de uma maneira simples, mas quando se gosta de alguém de verdade, não é necessário uma superprodução para fazer com que você ache aquela pessoa bonita.
— Na-na-não — gaguejei, minhas mãos estavam suadas de tão nervoso que eu estava e era natural que eu não conseguisse pronunciar uma palavra da maneira correta. Levantei-me do sofá no qual estava sentado e sorri, aproveitei para enfiar as mãos nos bolsos da calça jeans e seca-las no tecido disfarçadamente.
—Vamos Caleb?
Pigarreei, tentando encontrar a voz.
— Vamos.
— Quero você de volta às dez e meia, ouviu Mel? — o pai de Melody disse autoritário, algo em sua voz me avisava que era melhor não desobedecer a suas ordens de maneira alguma.
— Tudo bem pai, dez e meia em ponto nós estaremos aqui.
— Qualquer coisa liga pra casa e nós vamos te buscar.
— Ok pai, agora podemos ir?
Ele assentiu, mas não sem antes me dar uma boa olhada, eu sabia o que aquilo querida dizer: ‘’ Traz minha filha de volta do mesmo jeito que ela foi ou então eu te mato’’. Melody deu um beijo na bochecha do pai antes de nós sairmos de sua casa.
Chamei um táxi já que até daqui a três dias ainda tenho dezessete anos, ou seja, não tenho habilitação nem um carro. Chegamos ao cinema rápido, já que não eram mais de vinte minutos de viagem até lá, paguei o taxista e saímos.
O shopping não estava cheio, nem o cinema, o que é raro porque toda sexta-feira esse projeto de shopping costuma encher já que todos nós, adolescentes frustrados com a monotonia da cidade pequena e pacata, costumávamos sair em turma para assistir o lançamento de um filme novo que em outras cidades tinha passado meses atrás.
Por fim, escolhemos um filme de terror para assistir. E agora aqui estou eu, vendo sangue jorrar pelas veias do pescoço de um cara burro o suficiente para se separar de um grupo de amigos e entrar na floresta onde reside o assassino. Pra falar a verdade, não vejo muita graça em filmes de terror, tudo é obvio de mais, as mortes são consequências de erros muito ridículos, mas Melody estava assustada e toda vez que alguém levava uma facada do homem encapuzado ela fechava os olhos e agarrava a minha mão, por fim estávamos com os dedos entrelaçados e eu com o braço a envolvendo em um abraço de lado meio desajeitado.
— Não acredito que você está me fazendo assistir um filme desses Caleb — ela cochichou, enquanto se encolhia por causa de um grito vindo da mãe da protagonista do filme, estava sendo esfaqueada mais uma vez.
—Foi você que escolheu Mel.
— Mas você devia ter me impedido de ver, que tipo de amigo você é? — ela ergueu a cabeça e me olhou, as luzes emitidas pela tela gigante do cinema fazia contornos em sua face e apesar do ambiente pouco iluminado eu podia ver perfeitamente aqueles olhos me fitando.
— Eu disse, mas você é teimosa de mais.
— Acho que nós deveríamos parar de conversar, daqui a pouco o lanterninha sobe aqui e fala que tem gente reclamando da gente — ela se aproximou de mim, com um sorriso travesso nos lábios, do mesmo jeito que uma criança sorri quando vai aprontar alguma.
— É culpa sua, só sabe reclamar.
— É?
— É — ofereço o meu sorriso travesso dessa vez e me aproximo um pouco mais também, o coração batendo de pressa, o olfato sendo invadido pelo aroma gostoso do perfume que Melody usa.
— E se eu parar de reclamar, o que eu ganho?
— Não sei... O que você quer ganhar?— consigo sentir sua respiração em meu rosto agora, o sorriso dela abre mais um pouquinho e perco o controle, poucos segundos depois já estamos com os lábios colados.
Nesse momento, enquanto nos beijávamos, eu percebi que eu estava de fato apaixonado por aquela menina. E não só apaixonado pela sua beleza, mas por cada mínimo detalhe nela, todos os seus defeitos, todas as suas qualidades, o modo como ela sorria, ou quando suas sobrancelhas franziam ao tentar resolver um exercício na aula de álgebra, estava apaixonado pelo seu jeito carinhoso, pela sua inteligência, pelo talento, por tudo nela, principalmente pelo seu beijo.
Cara, eu já beijei um número considerável de garotas em festas, e nenhuma delas conseguiu me proporcionar à sensação que Melody conseguiu. É como se eu estivesse experimentando um tipo de droga, viciante. E quer saber? Poderia cair um meteoro, ou uma bomba nuclear naquele momento e nada iria importar, como se o mundo tivesse desaparecido.
Tivemos que nos separar por um instante para recuperar o fôlego, ela abriu os olhos devagar e um sorriso enorme brotou em seus lábios, as covinhas afundando em suas bochechas levemente avermelhadas, sorri de volta, não eram necessárias palavras naquele momento, o silêncio dizia tudo o que queríamos ouvir, a abracei novamente e ela apoiou a cabeça em meu ombro, se encolhendo um pouco para aconchegar-se no calor do meu corpo, aproveitem o momento para sussurrar algo que queria perguntar em seu ouvido.
— Mel? — sussurrei baixinho.
— Hm?
— Você quer namorar comigo?
Melody virou o rosto e me olhou em um misto de surpresa e alegria, depois de alguns segundos ela assentiu com a cabeça, sorri e a puxei para mais um beijo.
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Querida Melody
RomanceTudo começou com um simples oi. Se tornaram melhores amigos em questão de dias, podiam contar um com ou outra pra qualquer coisa. Uma notícia inesperada faz com que se aproximem ainda mais. O amor ganha espaço quase que imediatamente. Eles se comple...