Isobel Boshoví
"Filha, papai um dia irá morrer e quero que me prometa uma coisa. Prometa que não irá chorar, prometa que irá se manter firme. Você é forte e vai agüentar muito mais do que eu agüentei a vida inteira, e aonde quer que eu esteja, estarei sempre com você. Nunca te deixarei sozinha."
As palavras de papai ecoavam em minha mente enquanto o observava silenciosamente. Suas expressões, era uma mistura de paz e tranqüilidade profunda. Ele usava o terno que lhe dei no último natal, estava maravilhoso. Porém, aquela seria a ultima vez que eu o veria. Robert Boshoví estava morto. Algum desgraçado havia tirado meu pai de mim e eu não iria sossegar até fazê-lo pagar pelo que fez.
– Sinto muito. – Disse uma voz feminina colocando as mãos em cada lado de meus ombros. Nem sequer virei-me para ver quem era, apenas agradeci e continuei com os olhos fitados nas feições tranqüilas de meu querido pai.
O céu estava cinza e uma garoa fina caía. Tudo parecia morto e sem cor. Havia várias pessoas naquele cemitério, mas nenhuma delas fazia parte da minha família. Papai era minha única família e agora, estava morto.
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Ao abrir a porta da enorme casa senti meu coração apertar. Olhando as paredes me senti pequena, ela parecia escura, sem graça, parecia estar abandonada. Nunca imaginei que a casa onde eu tanto amava estar agora seria o lugar que mais me machucaria. Papai era a luz que aquela casa precisava, mas que não teria nunca mais.
Subi as escadas e fui em direção ao meu quarto. Joguei-me na cama e fiquei encarando o teto. Estava cansada, pois havia tido um longo dia esquivando-me de repórteres insistentes. E agora? Como vai ser? Me auto questionei mentalmente. Além de estar completamente desorientada pela morte inesperada de meu pai, estava preocupada em como tudo seria daqui para frente.
Papai era dono do maior jornal do país, e diferente dos outros, ele não era manipulado pela mídia, não escondia atos ilegais cometidos por pessoas influentes tanto na politica como em todas as outras áreas conhecidas pelo público. Ele publicava matérias em seu jornal que comprometia a vida e o caráter de muitos famosos e influentes, envolvidos em; lavagem de dinheiro, transferências, contas falsas, empresas fantasmas etc. O jornal se tornou uma arma muito útil para os policiais que investigavam tais casos e com o crescimento dos lucros e vendas, também cresceram os inimigos, invejosos e criminosos, que intentavam contra vida de meu pai constantemente. Como viram que ele não iria parar, então, acabaram com ele. Tiraram ele de mim, mas isso não vai ficar assim, pois eu irei tomar conta de tudo que meu pai sempre prezou, vou assumir o posto que era dele no jornal e tudo continuará sendo como ele deixou. Eu irei encontrar o assassino e ele irá pagar caro pelo que fez, pois quem pensou que essa guerra foi vencida, se enganou, porque ela acabou de começar.
∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞Respirei fundo colocando meus óculos escuros e caminhei em direção a porta do imenso prédio azul, vários repórteres me rodeavam com gravadores e microfones estendidos em minha direção fazendo-me as mais ridículas perguntas, tais que eu não perderia um segundo sequer para responder. Os seguranças a minha volta, faziam barreiras para impedir que os repórteres se aproximassem, e me ajudaram a entrar no prédio. Olhares de todos os lados foram em minha direção, mas ignorei a todos e fui até o elevador em silêncio.
– Bom dia senhorita Boshoví – Disse a ascensorista do elevador com os olhos fitados nos botões
– Qual seria o andar? – Perguntou dando uma rápida encarada em meus olhos, com um sorriso simpático no rosto.
– 19. – Respondi enquanto tirava o óculos. Rapidamente ela selecionou o andar e as portas se fecharam, ela parecia nervosa com a minha presença pois sequer se moveu, e dava para notar de longe o quão rígida ela estava, como se estivesse com medo. Depois de alguns minutos o elevador finalmente abriu as portas me dando a visão do andar que eventualmente eu visitava para conversar com meu querido pai.
– Olá senhorita Boshoví, bom dia! – Disse uma voz feminina enquanto eu colocava meu óculos dentro da bolsa e caminhava em direção a sala de meu pai. Levantei meus olhos e vi uma bela mulher que usava um vestido branco que ia até o joelho, seus cabelos loiros iam até seus ombros, seus lábios estavam contornados com um intenso batom vermelho e seus belos olhos azuis levemente delineados. Foi então que lembrei-me, era Bonnie a secretária de papai, quer dizer, a minha mais nova secretária.
– Bom dia Bonnie. Por favor, me acompanhe até a sala, precisamos conversar. – Ordenei friamente continuando meu caminho até a sala.
Abri a porta deixando-a aberta para que Bonnie também entrasse, coloquei minha bolsa sobre uma das poltronas e sentei-me na cadeira que havia atrás da enorme mesa de vidro que ainda estava da maneira que papai sempre costumava deixar. Bonnie sentou-se em uma das poltronas à frente cruzando as pernas.
– Eu imagino que vocês estejam um pouco perdidos depois de tudo que aconteceu, então eu queria esclarecer algumas coisas. – Disse ajeitando-me na cadeira, colocando minhas mãos sobre a mesa e enlaçando os dedos, unindo-as. – A partir de hoje, eu serei a presidente do jornal, substituta de meu pai. – Acrescentei. A mulher à minha frente arregalou os olhos em minha direção, abriu a boca como se fosse dizer algo, mas permaneceu em silêncio.
– Algum problema, Bonnie? – Perguntei com o meu sorriso mais falso no rosto.
– Não, claro que não. Só estou, surpresa. – Descruzou as pernas colocando as mãos sobre os joelhos. – Ninguém nunca imaginou que a senhorita assumiria o jornal um dia.
– Pois é Bonnie, estavam enganados. Tudo vai continuar exatamente como ele deixou, não mudarei nada. – Fiz questão de destacar o "nada". – Então quero que você agende uma reunião para amanhã ás onze horas, com todos executivos, sócios, jornalistas e contadores. Irei notificar a todos e aproveitarei para me inteirar de todos os processos do jornal, preciso estar a par de tudo o quanto antes.
– Farei isso o mais rápido possível. – Respondeu Bonnie em tom de submissão. – E, meus sentimentos. – Acrescentou. – Obrigada. – Respondi dando um longo suspiro.
Por mais que eu tentasse demonstrar que não me importava, era impossível, eu havia perdido a pessoa que mais amava no mundo, meu refúgio, meu porto seguro.
Margaret Miller Boshoví teve uma gravidez de risco e morreu durante o parto, portanto, não tive o privilégio de conhecê-la. Robert cuidou de mim sozinho, pois amava tanto minha mãe, que decidiu que jamais em sua vida se casaria novamente. Cresci tendo a singela companhia de papai continuamente, mas depois de meus doze anos, fui para um colégio interno do outro lado do país. Robert dizia que o colégio interno não era ruim como a maioria das pessoas diziam, muito pelo contrário, que me ajudaria a ser uma mulher forte e preparada e aquilo só me incentivou ainda mais, para que eu fosse. Passei muito tempo longe de papai recebendo apenas algumas visitas nos fins de semana, mas sempre que o via era maravilhoso, ele sempre me dava palavras de apoio e cativantes conselhos que eu nunca me cansei de ouvir. As pessoas diziam que papai era arrogante e bruto, mas para mim, ele era um herói, forte e leal a tudo que era bom, e eu ainda pequena prometi a mim mesma que um dia, seria como ele.
Eu tenho parentes espalhados por vários lugares do mundo, mas nenhum deles gostava de papai, tanto que não apareceu sequer um deles em seu velório. Estou sozinha no mundo. Talvez eu deveria saber lidar melhor com perdas, já que comecei a perder antes mesmo de vir ao mundo, é como se eu atraísse azar e desgraça para mim e para as pessoas em minha volta. Deve ser por isso que agora, estou sozinha.
– Posso ajudar em alguma coisa? – Disse Bonnie, despertando-me de meus pensamentos. – Estou bem. – Respondi recompondo-me. – Me traga a agenda com todos os compromissos e horários da semana, um café e todo o resto que precisar ser assinado etc. Quero ter um dia cheio. – Dei-lhe um sorriso torto. O mais cheio possível, preciso me distrair urgentemente. – Pode ir, obrigada. – Levantei-me e Bonnie fez o mesmo, fui até a porta e a abri, após Bonnie sair fechei-a. Encostei-me na porta, fechando os olhos, tentando digerir tudo o que estava acontecendo, mas em questão de segundos fui interferida por meu celular que tocava dentro de minha bolsa.
– Sim? – Atendi sem ao menos ver quem era.
– Sou Carter Lockwood do departamento de polícia.
– Em que posso ajudar? – Perguntei meio confusa.
– Estou no caso do assassinato de Robert Boshoví e estou colhendo depoimentos das pessoas mais próximas e dos que estavam presentes no momento da morte. Gostaria de convoca-la para depor.
– Irei a delegacia o quanto antes. Obrigada por me avisar, é muito bom poder contar com seu trabalho.
– Será uma satisfação ajudar, senhorita. Até mais.
– Até. – Desliguei. Em questão que segundos o telefone começou a tocar. É, meu dia vai ser bem cheio.
– Senhorita, há vários jornalistas que insistem em permanecer a frente do prédio dizendo que não irão sair enquanto a senhorita não respondê-los. O que fazer? – Disse Bonnie, nervosa com a situação.
O mundo lá fora está maluco, todos querem respostas, explicações e não vão sossegar enquanto não às tiverem, então não adianta eu correr, não é mesmo? É um direito deles.
– Deixe-os entrar. – Ordenei. Bonnie ficou em silêncio por alguns instantes e era notório que minha ordem a deixou desconcertada e extremamente surpresa.
– A-a senhorita tem certeza?
– Absoluta. Mande alguns seguranças pra cá e peça para que os guardas controlem o fluxo da multidão, estarei aguardando todos eles em minha sala.
– Tudo bem.
Eu sabia que não seria fácil, mas eles tinham o direito de saber e eu irei responder o máximo de perguntas possíveis para ter finalmente o direito de ir e vir, sem uma multidão de pessoas me fazendo trocentas perguntas e tirando a paz que ainda me resta.
Em questão de cinco minutos depois, eu já conseguia ouvir a gritaria e o movimento que acontecia lá fora, três seguranças entraram se posicionando ao meu redor e um quarto segurança entrou perguntando-me se podia deixá-los entrar, fiz que sim com a cabeça e ele abriu a porta dando passagem para que vários homens e mulheres entrassem. A sala lotou em tempo recorde e todos começaram a fazer perguntas ao mesmo tempo e eu não conseguia ouvir ao menos uma palavra sequer. Fechei meus olhos para me acalmar e depois levantei-me e falei alto, quase gritando para que todos pudessem ouvir.
– Gostaria de pedir a compreensão de todos para que fizessem silêncio. – Os seguranças me ajudaram a fazer com que a multidão calasse a boca para que eu continuasse a falar.
– Para que eu consiga ouvi-los e respondê-los, vocês terão que colaborar, cada um perguntando por sua vez. – Dei uma pausa analisando ao redor para ver se todos me ouviam. – Pedirei para um dos seguranças escolher um de vocês para fazer a primeira pergunta e após essa primeira pessoa, todos perguntem com calma para que eu possa compreende-los, ok? – Sentei-me. Ouvi murmuros e vi pessoas acenando com a cabeça dizendo que sim, então olhei para o segurança ao meu lado lhe dando um sinal com a cabeça para que pudesse escolher.
– Robert, seu pai. Estava envolvido em algum tipo de crime ou irregularidade? – Perguntou a mulher escolhida estendendo o microfone em minha direção. – Meu pai era uma pessoa honesta, nunca roubou sequer um centavo do povo. Sempre se preocupou em ser o mais reto possível. – Respondi gentilmente.
– Por quê ele foi assassinado? – Perguntou um homem do outro lado, estendendo também o microfone. – Acredito fielmente que tenha sido um criminoso revoltado.
– Você assumirá o jornal em seu lugar? – Uma voz masculina e jovem perguntou, mas não pude localizar o rosto. – Sim. Na verdade, assumi ainda hoje e prometo a vocês que tudo continuará funcionando normalmente, nada irá mudar. – Tem algo a dizer para todas as pessoas do país? – A mesma voz perguntou. – Sim. Quero dizer a todos que, estamos já entrando no processo de investigação para encontrarmos o assassino e para saber demais detalhes sobre a trágica noite da morte. – Engoli a seco. Eu deveria ser como uma pessoa normal, que quando perde um familiar, tem o direito de ficar sozinha e não tocar no assunto enquanto ainda se sentir mal, mas as pessoas ao meu redor insistem em me fazer falar e mesmo demonstrando frieza e força, não estou suportando. – Darei o máximo de informações possíveis. – Acrescentei.
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Contradictory
RomantizmVárias mortes misteriosas. Um homem desastrado e infantil, cheio de sonhos. Um primo revoltado e com sede de vingança. Um assassino psicopata. Uma mulher poderosa e linda, cheia de paradoxos. Um amor contraditório.