Quando todos já haviam ido para suas camas naquela noite eu não consegui mais dormir. Amber iria mesmo se casar e estabelecer uma união com Cássio, eles iriam continuar a espécie e eu iria perder minha irmã e melhor amiga. Phil e o outros guardiões poderiam perceber meu descontentamento, algo que eu aprendi a esconder desde pequena mas que agora não parecia mais ser possível. E o sonho absolutamente sem sentido que mostrou um lugar que nem ao menos estive uma vez. Eu já não sabia o que seria o certo a se fazer e como deveria agir, essa não era como as outras vezes em que fui forçada a reprimir pensamentos e vontades, agora tudo é mais sufocante do que jamais fora. Não eram somente meus hábitos que estavam mudando como havia dito mais cedo.
Talvez o encontro com o servidor tenha ajudado a despertar para minha vida. Depois de tê-lo deixado partir percebi que posso tomar minhas próprias decisões, arcando com as consequências. Fantasiei com o dia em que pudesse fazer isso perante todos. O estranho inimigo provavelmente tenha me ajudado a me libertar de pensamentos pequenos a que ainda era submetida. Apesar de ter sentido em seu tom que essa não era a intenção dele ao ir embora.
Olhei para o lado e constatei que Amber ainda mantinha um sono pesado com sua espada sempre próxima a sua cama, ela se mantinha serena. Eu havia sido muito egoísta aquela tarde e minha irmã não merecia algo assim de mim. Levantei-me cuidadosamente e antes de sair pela porta nas pontas dos pés vesti minha capa azul marinho, mais tarde poderia me desculpar embora desculpas jamais fossem necessárias entre nós duas. Em direção á pequena sala meus cuidados teriam que ser dobrados para que Phil não acordasse. Ele quase sempre dormia no pequeno estofado improvisado e duro, preparado para um chamado de batalha a qualquer hora. Respirei fundo e abri a porta da frente me esgueirando para fora de casa em seguida.
Como guardiões não tinham aliados e sim apenas povos místicos que não interferiam em nossas missões, era preciso ser muito zelosos para o caso de algum inimigo querer atacar-nos antes de violar alguma vida. Não poderia ser vista por nenhum guardião, senão seria preciso dar explicações diretamente para guardiã suprema. O melhor caminho seria ir sobre as arvores e foi o que fiz. Subi rapidamente na arvore mais próxima, escalando até o topo para poder sair do reino sem ser notada.
Enquanto continuava minha fuga, procurava também por possíveis explicações que eu poderia usar caso o pior acontecesse, porém, era uma tarefa difícil explicar-se para os outros quando não era possível fazer isso a mim mesma. Por mais que nenhuma resposta satisfizesse minha razão, eu era teimosa. Relembro os movimentos repetitivos de Sophia, preparo-me e salto para um galho que estava a uma distância considerável. Segurando-me com força, não deixei que minhas pernas colidissem com outros galhos para não provocar barulho entre as folhas, mas minha capa atrapalhava. Quando já me sentia segura o suficiente, subi ao topo desta arvore também para avistar meu próximo salto.
Parecia ser mais difícil quando Am e eu apenas observamos Sophia em prática, mas a cada salto mais fácil se tornava, na verdade era bem divertido e eu me peguei sorrindo depois de certo tempo. Saltei para uma arvore que ficava perto das cercas altas que rodeavam todo o reino dos guardiões. Estiquei a mão segurando na cerca pontiaguda, escorreguei meu corpo por entre as lanças bem esculpidas, apoiando os pés nos eixos que a mantinham unida e fui descendo calmamente até alcançar o chão. A parte mais difícil parecia ter acabado. Passei a caminhar no meio da escuridão da madrugada sem saber para onde estava indo exatamente, era a primeira vez que saia do reino sozinha, não tinha como conhecer nada que não fosse minha casa ou o campo de batalha. No momento me limitei somente em sentir uma liberdade nada familiar, uma energia e tranquilidade que nunca pude sentir antes. Sem qualquer atenção no caminho ou onde iria parar, a única coisa que pude perceber é que já estava a uma certa distancia do reino super protegido e agora caminhava em campo aberto, longe dos outros seres, dos animais, longe de todos eu apenas caminhava.
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Intermédio
FantasiSamira é uma guardiã da vida, um dos muitos povos que habitam o mundo místico. Como braço direito da guardiã suprema, ela e sua família são exemplos de obediência e servidão para todo o reino onde vivem. Os guardiões são responsáveis por proteger e...