12 - A Espera

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O céu começou a mudar de cor, anunciando a chegada da tarde com o brilho forte e quase cintilante do sol atingindo as folhas da arvore. A preocupação estava lá o tempo todo, me alertando sobre a fuga que deveríamos estar tramando, mas quando Eliot e eu estávamos juntos era fácil criar a ilusão de que nada ali iria nos atingir. Os assuntos mais importantes viravam secundários.

- Você não acha isso tudo muito estranho? – pergunto analisando nossos machucados lado a lado.

- É intrigante.

- Por que não senti das outras vezes que você sofreu torturas?

- Talvez porque ainda não nos conhecíamos, ou porque agora a tortura foi diretamente ligada a você. Acho que pode haver várias razões.

- Mas esta não é exatamente a primeira vez que sentimos algo desse tipo.

- As palpitações quando nos conhecemos. Eu sabia que você também havia sentido.

- Você soube que eu me machuquei para nos proteger, mesmo quando tentei esconder.

- Mesmo quando você tentou esconder – ele me repreende com o olhar. Eu rio – Você não pode mentir para mim, não consegue.

- Não tive a chance de mentir, você já sabia.

Eliot sorri esnobe.

- Teve mais uma coisa – o encaro com o cenho franzido ao meu lembrar – Quando nos vimos pela primeira vez não consegui levita-lo. Lembro-me muito bem de tentar afasta-lo antes mesmo de nossas espadas se chocarem, mas nada aconteceu. Você não se afastou nem um centímetro do chão.

- Não me lembro de sentir nada aquele dia, nem em nenhuma das outras vezes que enfrentei guardiões. Achei que usassem apenas como ultimo recurso.

- E usamos, mas naquele momento pensei apenas em afasta-lo de mim. E com certeza algum outro guardião já teria tentado também.

- Devem existir falhas, não devem?

- Somente na hipótese de nossas mentes não estarem preparadas, o que é pouco provável porque treinamos desde muito pequenos. Eu sou uma das melhores guardiãs quando se trata disso, consigo levitar objetos muito pesados e até mesmo esta arvore se quisesse. Você nunca teria sido um problema.

- Obrigado! – agradece irônico.

- E não há nenhuma possibilidade dos outros guardiões terem problemas com isso também.

- Tente agora. Me mostre seu melhor – ele fica de pé em minha frente.

Olho-o fixamente, me concentrando em sua figura. Leva apenas alguns segundos para eu sentir a energia acumulada, está tudo em minha mente e tudo que tenho que fazer é usar todas as minhas células para colocar esta energia para fora. Tento com todas as forças empurra-la contra Eliot, mas nada acontece.

- Não entendo! – uso toda minha força e concentração e ele permanece no mesmo lugar.

- Tente de outra forma Sam.

- Não há outra forma – me levanto um tanto quanto irritada e com alguns gestos com as mãos arranco parte da terra ao redor dele, juntamente com a grama – Se estivéssemos em outro lugar eu poderia mostrar-lhe que sou capaz de muito mais do que isso.

Ele afasta a grama paralisada no ar com as mãos e caminha em minha direção mais uma vez, pacientemente.

- Não precisa me mostrar nada, essa é outra das coisas que eu já sei sobre você. Além, claro da certeza do seu orgulho de ferro, sei que é tão forte quanto eu.

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