4 - Descuido

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Já dentro do reino resolvi me misturar entre os guardiões que estavam acordados, seria mais fácil do que me deparar com Amber dentro de casa a minha espera. Caminhei entre as arvores que cercavam algumas casas com o pensamento distante. Assassinos que se servem de energia humana, tirando assim suas vidas, isto era tudo que eu sempre soube sobre servidores e tudo que consegui constatar de sua aparência medonha até encontrar Eliot em meio a batalha. Tudo nele era diferente e deveria haver um motivo para isso, algo que eu esperava descobrir.

- Samira! – ouço alguém gritar meu nome, logo em seguida passos vinham em minha direção.

- Cássio! Bom dia. – disse assim que virei a cabeça e o vi.

Esperei que ele me alcançasse para então caminharmos juntos até minha casa.

- Sente-se melhor? Amber disse ontem que você não estava se sentindo bem para o jantar.

- Sinto muito perder algo tão importante. – sorri sem vontade – Estou me sentindo melhor hoje.

- Então podemos comemorar todos juntos dessa vez – ele mantinha-se neutro em todas as suas expressões, seus olhos azuis acinzentados me olhavam com certa convicção – Quero dizer, nossas famílias.

- Claro. Todos estão muito felizes com esta escolha.

Estávamos tendo uma conversa séria sobre felicidade e satisfações. Eu quis dizer o contrário, tinha vontade de rir de tal ironia dramática na frente de todos que acreditavam realmente que tudo isso era certo. Provavelmente nada mudaria e eu seria isolada de tudo e todos para que minha loucura crônica não contamine outros guardiões. Contudo, quem dera a questão da união fosse o único problema com nossos costumes.

- Como está se sentindo? – pergunto sondando – Você me parece bem feliz.

- Absolutamente – convicto como pensei – Amber é uma guardiã excelente, muito forte e reconhecida apesar de ser tão jovem. Tenho certeza que cumpriremos nosso dever.

Fechei as mãos em punho por um segundo. Era hora de encerrar aquela conversa.

- Creio ter trabalho a fazer, se importa?

- Sem problemas, mais tarde convocamos a confraternização – lançou-me um sorriso discreto.

- Como quiser – retribuo sua cortesia.

Embora não concordasse em nada com toda aquela situação eu não tinha objeções a Cássio, pelo contrário, conseguia me identificar com toda sua reserva perante todos. Percorri o restante do caminho de casa com passos largos, estava faminta e cansada. Não teria tempo para dormir agora com o dia todo pela frente. Phil já não estava mais dormindo, provavelmente saiu cedo como em todos os dias para auxiliar Isis. Fui até a pequena cozinha improvisada e com poucos recursos, me servi de uma das frutas sobre a mesa enquanto procurava com os olhos algo para me saciar.

- Pode explicar-se? – Am entrou na cozinha. Sua voz era baixa, porém, firme.

- Como? – me virei num sobre salto com a presença inesperada.

- Onde esteve?

Sua expressão estava dura, algo quase nunca visto em seu rosto angelical. Pelo menos não fora do campo de batalha.

- Dormi cedo, portanto acordei mais cedo. Sai para uma caminhada.

- Onde? – estava irredutível.

- Por onde mais? – ironizei – Estava nos arredores, pelas arvores.

- Por que não acordou ninguém?

- Não havia necessidade de incomodar ninguém, nada aconteceu. – voltei a comer a fruta, impaciente com o questionário.

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