7 - A Família Errada

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Fui para a cama naquela nova manhã minutos antes de meu pai sair de casa, pude ouvi-lo batendo a porta ao me deitar. Continuei pensando em tudo que Eliot havia me dito. A forma como tinha sido criado, as regras, os ensinamentos a que era submetido. Sem família e sem vontade. Como poderia ser diferente de mim de qualquer maneira?

Sem muito tempo para dormir e tão pouco sono, fitei o teto tentando achar qualquer razão para cada um desses seres místicos agirem da forma que agem. Qual era a razão de dividirmos nosso próprio povo até mesmo dentro de nossos portões. Eu fazia parte de uma das famílias mais importantes de todo o reino, era um braço direito em batalha para nossa líder. Devido a este simples fato eu não poderia unir-me com um guardião ferreiro, eles não eram considerados importantes. Eram muitas perguntas sem respostas e tudo o que me restou foram papéis velhos, amassados e um pedaço de carvão com os quais passei a escrever todo e qualquer pensamento.

Não saberia dizer quanto tempo passei escrevendo quando Amber começou a se mexer na cama até despertar. Escondi o papel e empurrei o carvão para debaixo da cama, limpando os dedos sujos na coberta.

- Sam! Planejei espera-la, mas nem me lembro quando cai no sono. – sentou-se em minha cama, agitada – Você me deve explicações.

- Eu poderia esperar por isso – olho para a porta – Alguém pode nos ouvir?

- Estamos seguras – mesmo assim diminuiu seu tom de voz – Preciso saber o que está acontecendo.

- Se você prometer não tentar me proibir – lhe lancei um olhar firme.

- Você está me deixando assustada.

- Prometa Amber.

Ponderou um segundo antes de responder contrariada simplesmente:

- Prometo.

Decidi não esconder nenhum detalhe dela confiando plenamente em minha irmã para poder ter sua confiança também. Fazendo-a ver que no momento Eliot era minha única certeza. Conforme ela ouvia pude ver seu rosto em constante mudança a cada palavra. Desde como o conheci, a forma que eu me senti, até dúvidas sobre nossos ensinamentos. Ela estava visivelmente confusa, com dificuldade de assimilar as informações. Finalizei afirmando que Eliot era diferente e como ele havia me provado isso naquela noite. O silêncio se instalou pesado no quarto enquanto eu esperava sua resposta, ou qualquer sinal de que ouviu alguma coisa.

- Amber? Você está me ouvindo? – movi as mãos divagar diante de seu rosto até que ela piscou algumas vezes.

- Um servidor? – falou balançando a cabeça divagar.

- Você ouviu tudo que eu disse depois disso?

- É pior do que eu pensava. Não pode estar falando sério.

- Você não o conhece. – me apressei em responder – Am, não deixe que eles a corrompam inteiramente também. Estão todos cegos, você precisa acreditar em mim e em Eliot.

- Ouça o que está dizendo. Você está fora de si! Se encontrar com um servidor, falar desta maneira dele, você mal o conhece. Ele provavelmente está mentindo para você, tentando descobrir alguma coisa e planejando algo contra nós. Está te usando.

Ela passou a falar mais rápido, mais alto a cada frase, mas seu tom de voz não era de raiva e sim de desespero.

- Não pode julga-lo dessa maneira. Você não esteve com ele, não o ouviu e nem o olhou nos olhos. Alguma vez já olhamos nos olhos de algum outro ser deste mundo? Até mesmo daqueles que dizemos proteger – suspiro, recuperando o fôlego – Amber, se acalme um instante e pare para ouvir o que estou dizendo. Volte a ser minha irmã agora quando mais preciso que você me entenda.

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