Ao passar os olhos pelas folhas vejo várias perguntas desconexas sem resposta, eram muitos rabiscos que só poderiam vir de uma mente confusa, eu sabia disso agora. Enquanto os demais guardiões cuidavam dos preparativos para partir, uma das folhas velhas capturou minha atenção e eu quis lê-la imediatamente. Parecia que Sam ainda tinha muito que dizer. Antes que eu conseguisse começar a leitura Cássio me interrompe:
- Amber, nós já estamos de partida. Você precisa de ajuda com Arebil?
- H-hm... – gaguejo, escondendo os papéis – Sim, por favor.
Ele a ergue nos braços com facilidade e a carrega, levando-a até Sophia e Enzo, murmurando coisas para mantê-la acordada mostrando qual direção seguir. Após ser medicada Isis ainda não estava em condições de caminhar, eu mal sabia se ela estava acordada ou não, sabia apenas que estava aos cuidados de Caleb em algum lugar. Fui deixada para trás, dando qualquer assistência que os outros guardiões precisassem. A curiosidade me açoitou, passei a caminhar ao lado de um dos guardiões que segurava uma tocha e aproveitei a luz que oscilava com o vento para ler trechos rabiscados no papel velho. Perguntas como: "Quando foi que passamos a julgar e condenar todos os seres que achamos indignos? "ou "Quando foi que nos colocamos num pedestal e no poder desta maneira?". Cada pergunta feita era seguida de três frases rabiscadas e apagadas, uma resposta não encontrada. Começo a me questionar também, conforme continuo a ler. "Quem somos nós para decidir quem vive e quem morre sob o pretexto de chamar a todos de inimigos? É conveniente que nunca tenhamos tido aliados. Todo esse tempo nós brincamos com a vida destes seres na ilusão de que protegemos a todos." Minhas mãos tremem antes que eu possa perceber e me controlar, foi o momento que me dei conta do quanto fui cega. A sensação era de ter sido manipulada por toda minha vida ao voltar a atenção para as folhas.
"Nós somos guardiões da vida, seres responsáveis pelo equilíbrio de tudo ao nosso redor. É possível ver a natureza em constante mutação, o mundo místico não é o mesmo, tudo a nossa volta muda exceto nós e este reino. Algo parece estar errado por toda parte dentro e fora destes portões feitos por nós. Parece que o propósito dos guardiões da vida foi perdido, uma antiga mensagem transmitida por gerações. Cada um tem sua própria forma de interpreta-la e passa-la a diante, desta maneira a mensagem foi modificada e perdida através do tempo, passada a mim e aos outros de trás para frente. Uma mensagem sem sentido, um reino de mentiras. Algumas mudanças neste mundo são nossa culpa, devido as nossas ações já que todos nós fazemos parte deste lugar, temos responsabilidades igualitárias... eu queria dizer que fizemos coisas boas. Minha culpa foi perceber tarde demais, foi precisar que de certa maneira outra pessoa me mostrasse o que eu já sabia. É minha culpa agora ter outra prioridade, estar ainda de braços cruzados me escondendo. Mas como é possível mostrar a tantas pessoas que tudo que vemos neste mundo está conectado? Mostrar que cada uma das coisas aqui tem seu espaço e que não é preciso interferir neste equilíbrio e sim somar-se a ele. Ainda assim me permito ter esperanças de que tudo que é realmente importante tome seu lugar de direito dentro de cada um e os leve na direção correta. Inclusive a mim."
A sensação já familiar fez-se presente na boca do meu estomago, fisgando, puxando, subindo por minha garganta até voltar a me sufocar e encher meus olhos. Todo o caminho que levaria até o portal foi apagado por uma mácula e um choro escondido, preso, sufocado pelo orgulho de não deixar que ninguém visse minha fraqueza novamente. Um tipo de orgulho que eu nunca tinha experimentado antes, um sentimento que simplesmente nunca fez parte da minha natureza até aquele momento. Quando dei por mim a escuridão da noite se tornou mais profunda ao adentrarmos uma floresta que capturou minha atenção e um ar gélido me atingiu. As arvores possuíam pequenos pontos cristalizados nos troncos, confundindo a visão. Foi o momento de decidir que nenhuma distração ou medo iria me impedir de fazer o que parecia ser o certo na hora certa, então abri caminho entre os guardiões rapidamente a procura de Isis.
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Intermédio
FantasySamira é uma guardiã da vida, um dos muitos povos que habitam o mundo místico. Como braço direito da guardiã suprema, ela e sua família são exemplos de obediência e servidão para todo o reino onde vivem. Os guardiões são responsáveis por proteger e...