- Vendo quão longe vão seus poderes? – disse Amber, chamando minha atenção ao entrar no quarto.
- Treinando na verdade. – sorrio ainda manipulando os pequenos objetos no ar com a mente.
Minha irmã sentou-se em sua cama permitindo-se a um momento de descanso, algo raro em uma guardiã tão disciplinada. Em muitas ocasiões eu a via como uma criança obediente que sempre seguia as ordens de nosso pai sem pestanejar, era comum sentir-me mais velha por questiona-lo algumas vezes, mas em seguida percebia que era somente rebeldia. Uma criança que não gostava de ser contrariada.
Afinal do que possivelmente alguém como eu poderia reclamar? Philipe era um bom pai que nos protegia, obcecado com seus deveres, nos ensinando tudo repetidamente com rigor, exigindo nosso melhor porque nosso sangue era o melhor. Quando completei dezessete anos nossa família foi escolhida como braço direito logo após meu primeiro combate como guardiã de batalha. O meu desempenho e o de Amber unidas surpreendeu a todos os guardiões do reino. Eles tiveram convicção de que minha família tinha um dom e uma boa linhagem de sangue, mas na verdade Am e eu ficamos com tanto medo uma pela outra no campo de batalha que todos nossos esforços foram apenas para nos proteger. Eu achei que os objetivos haviam sido alcançados com aquele golpe de sorte, porém, descobri que não haviam sido cumpridos e que nunca seriam. Como guardiões principais, teríamos o dever de ser como exemplos pelo resto de nossas vidas.
Era o dever de toda nossa espécie, sem escolhas e sem vontades. Apenas o dever era visto como explicação para nossa existência, e eu parecia ser a única que não concordava com tal ideia. Dentro de mim sentia que existia algo além disso.
- Por que não descansa um pouco? Nossa família parece estar mais ocupada que o normal ultimamente. – comentou maternal como de costume – Os sugadores da natureza atacaram ontem e você como sempre se saiu muito bem, mas faz um tempo que os servidores não atacam, creio que os veremos em breve.
- Eu sei! Na ultima vez que os guardiões detiveram esses servidores de energia eu ainda não tinha permissão para enfrentá-los em batalha. – ajeitei-me deitada após colocar os objetos ao chão.
- Então é melhor que descanse a mente e tenha uma boa noite de sono, - era sutil, mas soava como uma ordem – na ultima vez não podia atacar, agora não só pode como estamos á frente com os melhores guardiões. Você terá que ser dez vezes mais cautelosa do que em qualquer outra batalha que já esteve até hoje.
- Podemos atacar com espadas e com a mente...
- Você é a melhor em nossa família quanto a isso.
Rio indiferente antes de responder:
- Isso por que você dedicou seu tempo focando o aprendizado em espadas e lutas. Garanto que é tão boa quanto eu.
- Quer dizer que sou tão boa quanto qualquer um, todos nós nos limitamos mentalmente apenas a mover coisas. – o tom descontraído e leve torna-se sério ao tratar desse assunto – Seus poderes vão além e você sabe.
Sem vontade de rebater e continuar a conversa, apenas fechei meus olhos. Conhecia Amber o bastante para reconhecer que esse era um dos momentos em que ela seria minha mãe e não minha irmã, ela estava preocupada e eu podia sentir. Refleti suas palavras e imaginei se poderia haver algum motivo para que eu conseguisse mover objetos bem mais pesados que os outros guardiões. Com essa indagação sem qualquer relevância adormeci rápido.
Fui acordada algumas horas depois com a sensação de que havia acabado de fechar os olhos. Philipe estava arrumando sua espada quando ouvi claramente o sinal ao longe, sinal de que alguma vida estava em perigo. Ergui-me num salto e vesti minha proteção para os pés e cabeça.
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Intermédio
FantasíaSamira é uma guardiã da vida, um dos muitos povos que habitam o mundo místico. Como braço direito da guardiã suprema, ela e sua família são exemplos de obediência e servidão para todo o reino onde vivem. Os guardiões são responsáveis por proteger e...