Não adianta nada começar a contar minha história se não me apresentar, não é? Meu nome é Gabriel, sou brasileiro, tenho 29 anos e moro em Nova York a 6. Me formei numa conceituada universidade federal no Brasil em secretariado executivo trilíngue, ou seja, eu sou um secretário de luxo.
Não me confunda com uma prostituta que só atende grandes executivos. Elas trabalham bem menos horas que eu e ganham muitas vezes mais. Eu vim para os Estados Unidos para aperfeiçoar o meu inglês.
Durante o curso na faculdade eu fiz alguns intercâmbios na Argentina, Espanha e França e pude melhorar e muito alguns dos meus idiomas e depois de formado era a vez do inglês. Vim com a cara e a coragem e posso dizer que dei muita sorte.
Eu consegui um emprego numa loja assim que cheguei e antes de vir eu já tinha pesquisado bastante e acabei me mudando para uma república de brasileiros. Aluguel barato e conterrâneos.
Não fiquei muito tempo nessa loja e depois de fazer muitas e muitas entrevistas eu consegui um emprego numa empresa de tecnologia. Por eu falar 4 idiomas de forma praticamente fluente virei secretário no setor financeiro.
Dois anos depois eu passei numa seleção e me tornei assistente pessoal de um dos diretores da empresa. Era um trabalho escravo, mas eu devo ser masoquista então amava o que fazia.
Eu sou tão louco que me candidatei a essa vaga sem nem ao menos conhecer meu futuro dono, quer dizer, patrão. Só quando o trabalho começou de verdade que eu descobri porque tinham tão poucos candidatos.
Meu chefe era o diretor do departamento de desenvolvimento de novas tecnologias. Seu nome é Ethan Stuart Coleman, na época ele tinha 30 e eu 26 anos. E cara, o homem trabalhava feito uma máquina e eu fui a loucura.
Ele é o tipo de homem que é muito focado no trabalho e que faz de tudo para conseguir o que quer. Não pense que só porque ele chegou no cargo de diretor que ele ficava atrás da mesa jogando Candy Crush o dia todo.
Minha rotina começava as 04:30 da manhã quando eu acordava, tomava banho, café e ia para seu apartamento. Minha função era fazer a vida dele funcionar então eu estava as 06:35 entrando no seu quarto.
Seu despertador tocava exatamente as 06:30 e ele ia para o banheiro de sua suíte. Depois de abrir as cortinas, eu separava seu terno, camisa, gravata, meia, sapato, cinto, abotoaduras, relógio, presilha para a gravata e partia para o café.
O senhor Coleman tinha uma empregada, uma mexicana chamada Flores, nós nunca nos víamos, mas ela deixava tudo organizado para o café. Eu apenas esquentava alguma coisa deixada no micro-ondas, punha a mesa e separava a sessão do jornal que lhe importava.
– Bom dia Gabriel – Dizia o sr. Coleman pontualmente as 06:55 da manhã.
– Bom dia sr. Coleman – Respondia.
– Como está o tempo hoje? – Ele perguntava.
– Frio senhor. A previsão é que deve nevar entre o começo e o fim da tarde. Separei um cachecol junto com o casaco de frio.
– Obrigado Gabriel.
E fazíamos isso todos os dias de segunda a sábado e eventuais (leia quase todos) domingos durante dois longos anos. Feriados, dias santos, férias? Nunca ouvi falar.
Depois de tomar o café enquanto lia o jornal, o sr. Coleman se retirava, terminava sua higiene pessoal enquanto eu juntava sua louça na pia para que a senhora Flores tivesse trabalho. Descíamos para o carro pontualmente as 07:20 e enquanto ficávamos praticamente 40 minutos no trânsito, repassava sua agenda diária.
Eu mencionei o trabalho escravo não mencionei? Então, mas mesmo assim eu não podia reclamar. Depois dos 3 primeiros meses de trabalho, meu salário aumentou ridiculamente. Descobri que os últimos 8 assistentes do sr. Coleman desistiram nesse período.
Quando fiz um ano na função, nossas vidas funcionavam de forma sincronizada e até enquanto ele praticava suas aulas de tênis eu aproveitava para malhar. Fora que meu salário recebeu mais um gordo aumento.
A empresa pagava muitas das minhas despesas e meu salário ia quase todo para a poupança e quando ganhei minha primeira PLR como assistente do sr. Coleman, investi o dinheiro num fundo bem rentável.
Quando completei 18 meses no cargo, ganhei uma gratificação que foi o empurrão financeiro que faltava e dei entrada no meu primeiro imóvel. Fiz um negócio quase inacreditável direto com o proprietário.
Comprei um apartamento pequeno, mas de dois quartos em Chelsea, perto do metrô da 23th ST com a 7th Ave. Resgatei meu dinheiro aplicado, mais a poupança, mais a gratificação e paguei 70% do imóvel a vista.
Nos seis meses seguintes eu dividia meu salário entre as prestações, o condomínio e a decoração. Comprava uma coisa de cada vez e quando o sr. Coleman soube, me deu um cheque de 5 mil dólares de presente para eu comprar o que estivesse faltando.
Pode parecer estranho, mas apesar de eu saber cada passo que ele dava no dia, cada pessoa com quem ele conversou, nós quase nunca conversávamos. Ele só ficou sabendo do apartamento porque o seu motorista, George, me perguntou como ia a arrumação do apartamento e ele ouviu. Ao entramos no carro ele perguntou:
– Você se mudou Gabriel?
– Comprei um apartamento em Chelsea, senhor. Me mudei tem 4 meses.
– E ainda está arrumando o lugar?
– Não posso reclamar do meu salário senhor, mas financiei em poucas prestações e entre o financiamento, contas da casa, condomínio, tenho comprado as coisas aos poucos para não fazer dívidas.
– Decisão sábia a sua – Ele pegou algo em sua pasta e continuou – E em quanto tempo você quita a dívida?
– Financiei em 60 meses, mas pretendo quitar antes.
– Tome – Disse ele me entregando o cheque – Um presente meu para que compre o que estiver faltando em sua casa.
– Sr. Coleman, esse cheque é de 5 mil dólares – Disse assustado.
– Você parece bom em gerenciar seu dinheiro Gabriel, faça bom uso – Disse como se fosse uma coisa normal você dar um cheque de 5 mil pratas pra alguém.
Enfim, aceitei e na real, eu comprei quase tudo o que faltava. No final do meu segundo ano como assistente do sr. Coleman eu fui chamado por um superior para uma conversa.
– Com licença sr. Williams, o senhor mandou me chamar – Disse ao entrar na sala de um dos acionistas da empresa.
– Mandei sim Gabriel, sente-se – E eu me sentei.
– Como é trabalhar com Ethan Coleman?
– Não tenho do que reclamar – Respondi sincero apesar de querer muito tirar 1 mês de férias.
– Tem certeza?
– Não entendi senhor.
– Você foi o primeiro e único que não fugiu do cargo e isso me deixou intrigado, pelo que vejo já fazem 2 anos.
– Sim senhor. O sr. Coleman pode ser um homem de uma rotina dura, mas eu gosto do que faço.
– Tem feito um bom trabalho cuidando de Ethan, ele é um gênio e um dos nossos funcionários mais importantes da empresa. Mas eu gostaria de apresentar a você opções. Já pensou em mudar de carreira um pouco?
– Mudar de carreira como? Senhor... – Acrescentei.
– Temos uma vaga para Assistente Executivo aqui no nosso andar, você tem as qualificações necessárias para o cargo e gostaríamos de oferecer para você essa função.
– Assistente Executivo? – Era provavelmente o lugar mais alto que eu poderia atingir na empresa.
– E então meu jovem? Pronto para uma promoção? – Disse o sr. Williams e eu fiquei totalmente sem reação.
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O Assistente (Romance Gay)
RandomO sucesso de alguém começa com as pessoas que estão nos bastidores. Conheça a história de Gabriel e se surpreenda ao saber que o topo e o fundo do poço estão mais perto um do outro do que você imagina.