Quando foi que me perdi?

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Era março, chovia quase todos os dias na semana e praticamente o dia inteiro... Não que eu não gostasse, sempre que estava voltando do serviço e a chuva me pegava de surpresa, eu caminhava mais devagar só pra tirar um pouco mais de proveito dela mesmo sabendo da gripe brava que viria no outro dia.
Andando pelas ruas solitárias da minha cidade, passei em frente a igreja em que eu costumava congregar, até um mês atrás, o que já parecia uma eternidade mas disse a mim mesma que ela não me faria falta alguma. Repousei meu olhar sobre ela por alguns instantes até que o barulho distante de uma buzina me fez retomar o caminho... Enquanto caminhava, lembrei do sonho na noite passada, que significado poderia ter aquilo?
Ao chegar em casa fui direto para o banheiro, tomei um banho quente, depois de vestir uma roupa larga qualquer, calcei meias, deitei na cama e puxei o livro que eu estava lendo nos últimos dois dias, eu estava só em casa, não faço a minima ideia de onde meu padrasto e minha mãe estava, talvez no sítio e a chuva, provavelmente prenderam eles por lá, são quarenta minutos de moto e minha mãe não curte resfriados.
Depois de ler durante uma hora, ouvi eles conversando casa à dentro, passos seguidos de um toc toc me fizeram levantar e abrir a porta.
- Oi mãe.
- Sara, sai desse quarto, vai fazer alguma coisa, só fica dentro desses livros.
- Uhum... - Eu nunca consegui contar as coisas pra minha mãe, pelo menos não todas elas, costumávamos conversar sobre algumas coisas pessoais da minha vida, mas nada demais. Nunca tivemos uma relação mãe e filha melhores amigas.
- Você jantou?
- Não, tô sem fome.
- Não importa, vai comer.
- Mãe, eu não quero, sério. - Eu odiava quando ela me forçava a comer.
- Olha pra você, está pálida, não come mais nada, só besteira! Não tem sangue, você vai ficar doente e eu ainda vou ser obrigada a brigar com você!
- Mãe, eu não tô pálida, eu sou exatamente dessa cor. Sério, não tô com fome, agora há pouco comi umas bolachas e tomei um copo de Nescau, satisfeita? - Disse impaciente.
- Só coisa saudável, né Sara? - Após dizer isso, saiu pisando duro, realmente irritada. Ela fazia de tudo pra mim comer feijão e o que de mais saudável há, mas eu nunca fiz o tipo que gosta de comer refeições completas, sempre preferi uns doces aqui, uns salgadinhos ali. E isso virou rotina pra mim, quase não me alimento e principalmente agora. Ultimamente tenho andado confusa em relação à nem-sei-o-que. Isso mesmo. Ando cansada do meu serviço no mercado, ando cansada de estudar a noite, graças ao Pai por estar no terceiro ano! Cansada das amizades falsas, cansada de mim, agindo como no modo "piloto automático"... E com saudades de alguém.