Capítulo 11 - Segunda chance

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O que está aconteceu comigo? Meu corpo estava sob uma maca branca com lençóis sujos de sangue. Havia muitos médicos e enfermeiros ao meu redor que estavam tirando minha roupa. Minha pele era pálida e meus olhos estavam ficando roxos e inchados, uma espécie de filme de terror. Eu estou morrendo? Os médicos citavam ações o tempo inteiro e os enfermeiros obedeciam.

— Elle, você pode me ouvir? — Um dos médicos se aproximou do meu corpo na cama e soou sua voz em meus ouvidos. Ei, eu estou aqui bem atrás de você. Ele não respondia, ninguém me respondia. Na verdade ninguém podia me ver. — Você foi baleada, estamos em processo de preparação para cirurgia. Vamos te ajudar, seja forte e fique conosco. Pessoal, vamos mantê-la consciente. Alguns minutos depois fui levada para sala de cirurgia que o médico citou. Uma sala fria e cheia de pessoas vestidas de verde e azul. O médico torcia para que eu conseguisse me mover, mas meu corpo estava parado.— Você é uma campeã só por estar viva!— Ele conversava comigo segurando uma de minhas mãos como se eu pudesse ouvi-lo e eu podia, mas não ali naquele corpo que estava sendo aberto.

A cirurgia estava sendo longa e de muito risco, era o que um dos médicos dizia. Eu não sentia nada, nenhuma emoção, nenhuma dor. Mas podia ver meu corpo, a sala, os médicos, os enfermeiros e minha vida indo embora. Disseram que talvez eu não reagiria, que talvez eu não sairia daquela sala em vida. Eu também não acreditava nisso, estava me sentindo cada vez mais fraca e mais longe. Mas ainda estava ali. É estranho ver seu próprio corpo, é estranho falar e ninguém te ouvir, andar por ai sem nada te tocar, sem sentir o vento, sem sentir coisas. A única coisa que eu podia sentir era tudo se tornando frio e ficava mais frio a cada hora que se passava.

Longas horas depois me levaram para a UTI. Eu estava viva, eu consegui permanecer ali mas não sabia como voltar para meu corpo, não sabia como fazer isso acontecer. O Doutor que conversava comigo na cirurgia ficou sentado ao meu lado no quarto por mais algumas horas, talvez ele acreditasse que eu pudesse ouvi-lo.

  — Costumam me chamar de doutor espiritual aqui no hospital, acredita? Mas meu nome é Luke e eu sou seu médico. — Ele sorria enquanto falava. — Tenho essa mania de conversar com pacientes que estão em coma. Eu sei que eles podem me ouvir, eu sei que estão por aqui em algum lugar e com você não é diferente. És uma bela moça sabia? Apenas dezoito anos e isso lhe aconteceu, pois é. Não existe idade para se acontecer coisas, a vida é feita de momentos e esse é o seu, não dos melhores não é mesmo? Mas ainda assim é seu. Me contaram na recepção que você estuda medicina na Harvard, grande garota. Não quer salvar pessoas? Mais um motivo para você não partir. Elle, seu quadro é bastante complicado você foi atingida por uma bala na cabeça e por um milagre seu coração ainda bate. Foi muito mais do que medicina, foi algo bem mais forte, algo muito especial e incrível te deixou viver. Eu não sei como vai ser quando você acordar e se irá, mas te desejo toda sorte do mundo. Pense em seus maiores sonhos, coloque nisto sua maior força e motivação para ficar e fique. Confio em você. — Ele sorriu e apertou minha mão forte, fazia isso todos os dias antes de seu turno acabar e foi assim por repetidas vezes, repetidos dias, repetidos meses, eternos oito meses. Eu estava sem fé, sem forças e totalmente perdida. Como voltar? O que tenho que fazer para poder sentir meu corpo novamente? Abrir meus olhos, andar, falar, comer? Voltar a vida? Eu não sei, eu realmente não faço ideia. 

Que saudade dos meus pais e que pena vê-los assim dessa forma, infelizes. Eles estão aqui comigo, minha família está a sofrer e eu não suporto essa parte, mas é isso que estou proporcionando no momento, sofrimento á todos. — Minha filha, não vá embora. Nós precisamos de você. Promete ficar? Promete para mim? Para nós?—  Eu prometo mãe, eu prometo. De alguma forma eu prometi e tentava todos os dias cumprir minha promessa, mas estava ficando cada vez mais difícil. Eu estava perdendo aula na faculdade, perdendo momentos, perdendo sorrisos, perdendo minha vida a troco de uma vingança, de uma ferida antiga da família do Thomas. Ele entrou para me visitar logo depois de meus pais saírem. Se declarava para mim toda vez e dizia o quanto se sentia culpado, o quanto sentia por eu estar ali no lugar dele e era a mesma coisa com o Pedro, lamentações. A Melanie me chamava de carequinha mais linda do mundo. Tiveram que raspar minha cabeça para remoção da bala e depois de oito meses havia crescido boa parte, então ainda me restava cabelo, vulgo cabelo que a florzinha sempre penteava e fazia tranças. Ela também vem aqui todos os dias, lê livros para mim, conta histórias sobre a faculdade e coloca música para eu ouvir. Dorme do meu lado na cama e já até perdeu a hora da aula devido a essas dormidas e foi em uma dessas noites em que dormia comigo que acordou assustada quando os aparelhos começaram a apitar e sim eu havia desistido, queria ficar, mas não sabia como e mesmo sem querer estava partindo para outro lugar que eu ainda não sabia qual.

Eu prometo #Wattys2016 [HIATUS]Where stories live. Discover now