Capítulo 13 - Bagunça

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Era uma manhã congelante e a primeira visão que tive ao acordar foi da neve caindo lá fora. Que sensação de perda. De perda porque eu costumava brincar na neve com a Mel, nós sempre fizemos isso e a faculdade não nos impediria de realizar nosso ritual de inverno, mas esse quarto sim. Ao virar meu rosto para o lado avistei o doutor Luke sentado na minha poltrona, estava dormindo e parecia ter um sono profundo e cheio de sonhos acompanhado de uma bela babada e de roncos, e foi assim que abri o primeiro sorriso do dia. Em uma de suas mãos havia um pedaço de papel amassado, ao lado da poltrona, na mesa, estava meu café da manhã e provavelmente frio. Me levantei da cama com o apoio de minhas mãos e fiquei de pé. Precisava mesmo ir ao banheiro e se eu gritasse pela enfermeira o Luke acordaria e estava tão vulnerável dormindo, não queria acordá-lo. Era como se eu estivesse participando de uma maratona e eu estava cercada de pessoas torcendo para que eu chegasse lá. Meus pés se curvaram e eu desabei ao chão, me senti uma inútil e totalmente impotente, é assim que venho me sentindo desde que acordei. Com o barulho Luke despertou assustado e pulou da poltrona ficando de pé na minha frente. Se abaixou colocando um de meus braços em volta do seu pescoço e me pegando no colo. Eu me sentia como uma criança aprendendo a andar novamente e ele parecia um príncipe encantado com seus lindos pares de olhos azuis e brilhantes como uma noite estrelada, suas mãos estavam quentes como um belo chá em um dia frio e ele me aquecia em seus braços. Eu havia falhado novamente em tentar andar e é por isso que nesse exato momento eu estava recebendo bronca do Luke. Ao mesmo tempo em que me segurava, falava bravo e próximo aos meus ouvidos o quanto sou teimosa. E eu gritei com ele, ultimamente paciência não vem sendo o meu forte. Não tenho isso para mais nada, nem mesmo para o café. Depois de tudo que passei não é fácil dormir sem os pensamentos pessimistas e isso anda mexendo comigo de uma forma ridícula. Ainda estava no colo do doutor e ele me olhava friamente aparentando estar bravo. Logo em seguida me colocou na cama e me cobriu com o cobertor xadrez cor de rosa que a Mel havia deixado aqui. 

— O que você pensa da vida? — Ele me olhava sério e o brilho de seus olhos penetravam na minha mente.

— Eu.. — 

— Não quer sair daqui o quanto antes? Então faça exatamente o que o médico te recomendar, no caso eu sou o médico! — Seu tom era rude e eu me encolhi na cama. — Deixaram um bilhete na recepção para você. — Ele jogou o papel amassado em minha cama e se retirou do quarto. Ele estaria com raiva? Chateado? Resolvi não pensar nele agora e ler o bilhete.

Bom dia ou tenha um bom dia em qualquer momento, em qualquer horário que ler. Pedi para que meu irmão lhe entregasse esse recado, espero que chegue até você. Estou com saudades, sabia? Logo vou estar ai de novo ao seu lado. Eu sei que é difícil acreditar no amor novamente quando seu coração está quebrado e seu peito ainda dói, mas eu prometo que vou tentar. Vou tentar te mostrar que mesmo com todo esse medo e insegurança que estão presos dentro de mim eu ainda consigo sentir algo muito forte e incontrolável por você. Estou disposto a tentar, mesmo que eu me desfaça em pedaços no final disso tudo, só o fato de ter tentado já vai valer a pena. Seu Thomas.

Como não amar? Meus olhos pareciam um oceano e logo meu travesseiro estava molhado. Eu deveria sentir tanto?  Como amar alguém que nunca te tocou? Tivemos apenas um beijo e eu sinto raiva em não lembrar. Parece que já nos conhecemos há tanto tempo, parece que já estivemos aqui antes. Cobri minha cabeça com o cobertor e ali fiquei chorando por mais algumas horas. Chorando por tudo, por mim, pelo Thomas, pelo que tem acontecido em tão pouco tempo, por nevar lá fora e eu não poder sentir essa neve em meus pés. Eu sinto tanto por muita coisa. O medo estava tomando conta da minha mente e eu achava que nunca iria sair dali, que nunca mais veria o sol brilhar fora daqui. 

Li algumas revistas que o Luke trouxe e guardei o bilhete junto ao outro dentro da minha caixinha em forma de coração que o Pedro me presenteou. Aqui guardo meus maiores sentimentos e esse bilhete está cheio deles. A fisioterapeuta entrou no quarto e me levou de cadeira de rodas até uma sala enorme e até lá foi um passeio incrível, só de sair daquele quarto já foi uma grande conquista, mesmo que temporário. Na sala havia muitos colchonetes espalhados, esteiras, ferros e várias outras coisas. Exatamente como uma sala de fisioterapia deve ser, bem espaçosa e aconchegante.

Eu prometo #Wattys2016 [HIATUS]Where stories live. Discover now