Conto 8 - Eu Não Sou Uma Maldição (Parte 1)

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Este é um conto diferente, não tem cunho romântico... nem de extrema espiritualidade visível. Mas é um conto até mesmo triste. Espero que todos entendam o sentido sub-liminar da estória, e compreendam o sentido por trás dela. Este conto é dividido em duas partes... as mensagens e referências estão a critérios de vocês. Boa leitura.

Este é um conto bem grande também... espero que compense. Deus os abençoe!

Eu Não Sou Uma Maldição

Ofegante, uma raposa corre na chuva em direção a uma porta em sua frente. Na cálida noite, só se ouviam pingos caindo ao chão, e os passos do pobre animal pelas ruas. Já fazia-se muito tempo desde a última vez que estivera ali. E novamente se via na mesma situação.

Com lágrimas, ela arranha a madeira da porta, e regouga chorosa com o pêlo encharcado pela fria água que caia sobre ele. O clamor da pobre da raposa é interrompido pelo abrir da porta a sua frente.

Uma menina de aproximadamente quinze anos envolta em um capuz e roupas de inverno sai, e ao ver a raposa... a pega no colo e a leva para dentro. A menina, chamada Leaf, enrola o animal em um cobertor quente e desce as escadarias até o porão.

Loneliness, a raposa, se sentiu acolhida pela primeira vez em muito tempo. Enrolada e protegida no cobertor, ela assiste o descer das escadas por sua ex-dona. O coração de Lonliness se enche de esperança, Leaf iria querê-la de volta?

Dividida por dentro, a menina ouve vozes que se confundiam em sua mente, uma a mandava cuidar do pobre animal solitário, esquecer o conselho do antigo dono de Loneliness, mas por outro lado, a voz contrária ecoava clara em sua cabeça... Seus sentidos se contrapunham. Até que ela toma a decisão.

Nos braços de Leaf, Lonliness se lembrava de seu passado. Por um momento esquecera dos traumas e sofrimentos, das trevas e da morte. Esquecera de tudo. Ele era finalmente amado novamente. Loneliness estava disposta a perdoar completamente tudo o que o passado lhe fizera... e todo o passado, se a menina quisesse.

A poucos metros dali, em silêncio, alguém assiste a cena da menina com a raposa em seus braços descendo cuidadosamente a escada para o porão. Este alguém observa cada passo e cada respirar. Mal podia esperar... após muita espera, era chegado o momento.

24 de Dezembro, 1985.

Festa de Natal da família Monroy.

"Vai pai... me conta o que é! Faltam só cinco minutinhos!"

Uma criança pede para seu pai lhe contar o que ganhará de natal. Perto da lareira, uma árvore de natal enfeita uma sala de estar bastante aconchegante e quente durante o duro frio inglês.

O pai diz que não. Quatro primos cantam músicas típicas de natal, sobre o nascimento do menino Jesus. Era incrível o que o nascimento de uma pessoa pode fazer... ao redor do globo milhões de pessoas se reunem, trocam presentes, elogios e gracejos. Na família Monroy era tradição todo natal reunir os tios e a parentela para uma ceia e festa com todos da família.

Até que os fogos de artifício declaram a chegada do natal. As crianças correm até a árvore para recolherem seus presentes recém colocados lá. Todos recebem, menos o pequeno Gary Monroy.

O pequeno que pedia seu presente ao pai poucos minutos atrás... ele olha ao redor e não vê nenhum de seus pais. Ele avista seu irmão mais velho, Blue Monroy, ganhando um fino colar de prata com dois pequenos pingentes de cristal... mas não vê seu presente em nenhum lugar.

Até que Gary os vê entrando em casa com uma caixa enfeitada com faixas e dobraduras, com um pequeno furo. A Abrindo, ela revela um pequeno animal... com pêlo macio, sorriso sutil e uma feição sonolenta natural de filhote. Um pequeno filhote de raposa repousava na caixa. O sorriso de Gary se estendeu de olheira à orelha.

Com o passar do tempo porém, Gary, que era um menino alegre e feliz, se tornou uma pessoa sozinha e isolada. Ele claramente sofria de algum distúrbio de convivência social, não conseguia se enturmar. Batizou então a sua raposa de Loneliness.... solitária, em inglês.

Durante toda sua infância, desde seus seis anos quando o ganhara, a raposa se mostrou um excelente companheiro para Gary... quando ele ía para a escola, Loneliness (isso quando não se escondia eu sua mochila) esperava ansioso e regougante seu amigo chegar.

Isso até o aniversário de doze anos de Gary. Loneliness já tinha seis anos, estava começando a entrar na idade madura, e não tinha tantas forças para brincar. Mas mesmo assim, sempre recebia Gary calorosamente como podia...

O menino abandonara a depressão, e conseguira se enturmar em uma nova escola... agora ele era popular. Tinha muitas amizades e companheiros, e se esqueceu de Loneliness... era hora de ter um novo mascote.

Então no aniversário de Gary, seus pais lhe presentearam com um cachorro. Um cãozinho de poucos meses. Com ele, a já velha raposa perdera ainda mais atenção. Agora era praticamente um verme na casa.

Mas mesmo assim, Loneliness amava a Gary e ao cachorro, chamado de Yolo, you only live once (você só vive uma vez). Que era bem a retratação da nova vida que Gary levava, ele se embriagava e fumava escondido de seus pais. Era popular na escola e com seus "amigos".

O cão (apesar do nome) era doce e carinhoso. E fizera uma grande amizade com Loneliness.

Mas fora dois anos mais tarde... que chegara o ponto. Blue Monroy, irmão mais velho da casa, com três anos a mais que Gary, estava indo para a faculdade. Ele cursaria teologia no Life Pacific College nos Estados Unidos.

No aeroporto, Loneliness (agora com oito anos) e Yolo (com qiase três) acompanhavam a família até o aeroporto. Como estavam adiantados, e o trânsito tranquilo, decidiram parar para observar o pôr do sol no alto de um morro nas redondezas.

Eles soltam Loneliness e Yolo para brincarem por ali... quando acontece.

Yolo que carinhosamente provocava Loneliness para brincar, se desequilibra. Na beirada do morro, a raposa tenta socorrer seu amigo, mas não consegue...

Gary, olhando o sol, desvia o olhar para os seus animais, quando vê seu cachorro caindo do alto do morro. Com um grito, ele vê Yolo cair até se despedaçar no chão.

O enterro foi triste, os poucos restos mortais do cão foram colocados em um pequeno caixão.

...

Loneliness desesperado, se vê culpado de um crime que não cometeu. Triste, anda pelas ruas sem saber de onde nem para onde ir... "ninguém vai querer uma raposa velha de nove anos de idade" pensa ele.

Até que, após aproximadamente três meses do ocorrido... ele vê uma casa em sua frente. Fraco, ele regouga na porta e a arranha. Quando a porta se abre.

Era uma menina, de olhos apaixonantes e cabelos acolhedores. Que segura a pobre e velha raposa em seus braços e tira da chuva. Coloca nela um aconchegante cobertor e a alimenta.

Loneliness teria enfim um final feliz? Ah, isso era apenas o começo...

Entre A Cruz E As PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora