Prologo: O clube dos homens e os olhos puros

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Os homens eram como montes e mais montes de notas sendo jogados aos seus pés. Era isso que ela pensava, quando passava os pelos do pincel em seu rosto, mascarando as lagrimas que haviam descido aos montes por seu rosto.

Ninguém se importava com as lagrimas de uma cantora de boate, contato que sorrisse falsamente. Estivesse aos cacos dentro de si, mas por fora deveria carregar o vestido de perolas que cobriam seus seios e avantajavam suas curvas. Uma cantora de que chorava não servia de nada para homens que estavam dispostos a vê-la nua. Deveria sorrir, esquecer que seu filho dormia nos fundos do camarim, amarrotado num armário de roupas velhas.

Amelia Flores, chamada de Roseta pelo locutor, tinha o sorriso mais falso do mundo, mais brilhante, mais sedutor, e uma infelicidade genuinamente escondida dentro de si. Seus olhos eram grandes, sedutores e penetrantes, um verde e um marrom claro, havia herdado isso de sua avó, um homem tão frio quanto o próprio inverno, o que diria ele se visse Amelia vestida daquela forma, agradando homens que nem se lembrava do nome? Agradecia a Deus e aos Santos por seus avós já estarem mortos, sem ao menos ter visto a tragedia que fora sua vida. Um filho de dois anos, sem pai, lagrimas escondidas por inúmeras camadas de maquiagem, sorrisos falsos e dinheiro em troca de cantar para homens com tão pouca roupa.

Eram tantos militares, com roupas ainda do exército, chapéus em cima da mesa, ao lado de cinzeiros e copos de gim. Olhou por entre as cortinas, o clube estava cheio, com mulheres usando sutiãs que escondiam apenas os mamilõs, em formato de corações, servindo litros e mais litros de bebida em bandejas prateadas, com os homens de boa família passando a mão por seus corpos, e elas retribuam com sorrisos falsos. Voltou para parte de trás da cortina, escondendo-se de algo que ela nem ao menos sabia o que era, voltou para o corredor ao lado do palco, olhou-se no espelho, seus longos cabelos estavam soltos, formando ondas que iam até seus quadris. Usava uma tiara que mais se assemelhava a num véu que caia por trás de sua cabeça, com contas e mais contas de perolas falsas. Grandes brincos em suas orelhas, que caiam por seus ombros, um batom vermelho que evidenciava cada vez mais a grossura deles, o colã que vestira, torneava suas curvas, com seus seiõs cada vez mais exprimidos, havia parado de amamentar a pouco tempo, a roupa era encrustada de perolas, com luvas brancas, e anéis por cima delas.

Era difícil de respirar com aquilo, mais difícil ainda cantar, mas Amelia já estava acostumada com tal coisa.

Traga o dinheiro deles, Roseta, traga tudo que esses militares tem nos bolsos. — Ouvia a voz do dono da boate falar em seu ouvido, mesmo sabendo que ele estava longe. Respirou fundo, deixando seus sentimentos e devaneios longe de si, naquele momento ela não era Amelia Flores, mãe do pequeno Eduardo, era Roseta, a mulher de olhos místicos que hipnotizava os homens. Caminhou até o meio do palco, com as cortinas fechadas, havia apenas um microfone esperando por ela, imaginaria que o mar de olhos a devorando na plateia não passariam de incontáveis cédulas voando em sua direção.

Ouviu o locutor dar duas batidas no microfone, e em seguida falar para plateia.

— Agora, a mais esperada da noite! Aquela cujo os olhos despertam os mais promíscuos dos pensamentos! Aquela com a voz que ecoa por nossos corações e com o corpo que ensandece nossa mente. Preparem-se cavalheiros, segurem suas notas de dinheiro, para a dama dona de nossas libertinagens... ergam os aplausos para ela, Roseta!

Os aplausos realmente surgiram quando a cortina se abriu, juntamente com o sorriso nos lábios de Amelia. Segurando o microfone com uma das mãos, encarava fixamente todos que estavam ali, não deixava sequer um único militar sem ter sido fisgado por sua presença. Alguns dos rostos eram conhecidos, incontáveis noites com os mesmos rostos ali, sentados numa cadeira, fumando charutos mais caros do que as notas que atiram para o palco.

A Mãe Do Meu Melhor Amigo.- Saga A Amante ( livro Dois) Onde histórias criam vida. Descubra agora