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Acordei tarde. Como minha porta estava trancada, minha mãe bateu na porta para que eu levantasse.

- Samuel Cristopher Walker! Levante agora ou o seu padrasto vai arrombar a porta.

Eu agradecia à minha mãe mentalmente todos os dias por eu ser filho de um homem cujo sobrenome lembrava The Walking Dead. Ele foi preso por estupro e homicídio à minha professora quando eu tinha 7 anos e morreu na cadeia dois anos depois em uma briga, e mesmo que ele voltasse, como um zumbi ou não, não seria lá grandes coisas.

- Já vou - respondi, baixo demais em comparação à voz dela, mas alto o suficiente para fazê-la sair da porta.

Levantei-me e fui ao banheiro, olhando fixamente para o meu rosto cansado. Escovei os dentes e tirei a roupa para tomar um banho frio, afim de despertar para o almoço, já que havia perdido a hora do café da manhã.

Com o contato da água, os cortes da noite anterior, agora quase completamente cicatrizados, que marcavam meu braço doíam ainda mais.

O meu banho foi mais rápido do que o normal, pois a intenção era apenas ficar acordado, então não demorei muito, até porque minha cabeça estava doendo demais para que eu fizesse qualquer movimento.

Saí do banho e voltei-me para o quarto, abrindo o armário e pegando a primeira roupa que encontrei.

Era domingo, o que significava que era o dia em que o namorado da minha mãe viria na minha casa para fingir que era o dono daqui.

Destranquei a porta do quarto e saí do mesmo, descendo as escadas e indo em direção à sala de jantar. Scott, meu padrasto, já estava lá, sentado à mesa, conversando alegremente com a minha mãe. Ela era uma mulher de aparência calma, olhos da cor do céu quando iluminado pela luz solar, cabelos loiros sempre presos e linhas de expressão causadas pela idade. O homem ao seu lado era alto, de pele escura e com a barba por fazer. Scott não era um nome que combinava com o cara.

- Boa tarde, filho. - Acredite, foi ele quem falou isso. Ele não soava como um pai, mas sim como um tio que adorava seu sobrinho e o levava para todos os lugares que a mãe abominaria se soubesse; esse era Scott.

- Boa tarde, Scott. - Não, eu não o chamava de pai. - Boa tarde mãe.

- Boa tarde, Sammy. Ligue a TV. - Ela estava encarando o celular agora. - Dizem que há um assassino secreto à solta.

Eu obedeci, até mesmo por estar curioso sobre o assassino. Assassinos e segredos eram duas coisas que, na minha opinião, deveriam sempre andar juntas; não na vida real, claro. Peguei o controle e liguei a TV, colocando no primeiro canal que vi que passava o jornal local.

- E aí, Sam - Scott voltou-se para mim -, como foi ontem à noite?

É, eles sabiam que eu havia saído. Mas não sabiam que eu tinha bebido. E a minha mãe não sabia aonde eu tinha ido.

- Muito bom, na verdade. Joey também gostou muito.

Comecei a servir-me de macarrão com bacon; a única coisa que minha mãe sabia fazer na cozinha.

- Se precisar de carona, tem o seu padrasto sempre. - Ele sorriu e me forcei a sorrir também, sem entender muito bem o que ele quis dizer.

- Calados vocês! - interrompeu minha mãe, olhando fixamente para a TV enquanto eu levava o garfo à boca.

A mulher na tela falava sobre o assassinato que havia acontecido na noite anterior. Foi em um bar, eles mostraram a imagem e, como eu estava de costas para a televisão e de frente para Scott, pude ver sua postura enrijecer. Logo ouvi o nome do local e percebi o motivo. Minha mãe não sabia que Scott havia me deixado em um bar, então mantemos um acordo silencioso de não dizer nada.

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