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Quando éramos crianças, Frank tinha o irritante costume de falar me cutucando, especialmente quando ele estava nervoso.

Estávamos no ônibus, a caminho da escola, e ele não parava de me tocar. Eu odiava que me tocassem.

Meus fones de ouvido estavam no máximo e eu não queria ser incomodado por um viciado em assassinatos e filmes de terror querendo me explicar que era errado, muito errado, ir até a festa da garota que eu gostava. Festa essa que ela mesma me mandou um convite por mensagem.

Por fim, me cansei. Tirei os fones e o encarei.

- O que você quer?

- Está mais para o que eu não quero. Não quero que você vá...

Antes que ele terminasse, eu coloquei os fones de volta. E então algo me veio a mente. Retirei-os novamente.

- Você disse que isso, os assassinatos, já aconteceu antes em Empty Woods. A que você se referia? - perguntei, e ele pareceu ofendido.

- Nunca soube que é falta de educação ouvir a conversa dos outros?

- Frank...

- Certo - ele suspirou. - Por onde eu começo?

- Pelo começo, que tal? - Eu estava completamente sem paciência.

- É uma longa história, mas tudo bem. Vamos lá.

- Sem enrolações, por favor.

Ele revirou os olhos e prosseguiu:

- O que você sabe sobre a morte do seu pai?

- Ele foi preso por forçar minha professora a transar com ele e matá-la em seguida. Ele foi morto na cadeia pelos presidiários.

- Foi o que te disseram? Meu Deus, essa gente é criativa. Eis os fatos: um assassino que ninguém sabia quem era estava a solta, como agora. Todos os seus crimes tinham pistas que apontavam para o seu pai. O seu pai brigou com Tiana, sua professora, naquela noite, e o assassino usou isso a seu favor. Seu pai realmente agrediu ela fisicamente, mas nunca a forçou a transar com ele. Eles transaram na noite anterior, mas a polícia não foi capaz de perceber que o sêmen encontrado dentro de Tiana era de mais de um dia antes. Seu pai foi assim preso, e o assassino logo em seguida conseguiu entrar na cadeia, foi preso por, imagine só, cortar árvores de terrenos privados. Uma vez lá dentro, conseguiu uma faca e em um momento de distração de todos, assassinou o seu pai.

Um silêncio significativo tomou conta do ônibus.

- Eu já era bem grandinho, iria ter percebido se um assassino estivesse à solta. - Eu honestamente não queria acreditar naquela história.

- Ele só matou duas pessoas, lembra de como a escola ficou suspensa por problemas técnicos e sua mãe não te deixava mais sair de casa para brincar comigo?

- Quem ele matou, além de Tiana?

- Sua tia, Margareth o nome dela?

- Tia Margareth morreu de acidente vascular cerebral.

- Você viu o laudo médico? Então não pode afirmar com certeza.

- E quem era o assassino? - eu estava queimando por dentro.

- Tom Harrison. Você pode - o ônibus abriu as portas e nos levantamos para sair - encontrá-lo se quiser. Eu inclusive já agendei uma visita com o meu pai.

Eu dei um risinho. Mostrei que não estava interessado, mas na verdade eu estava morrendo por dentro. Esse assassino pode me revelar quem é o novo e até mesmo me dar novas pistas.

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