Argumentar, Convencer e Persuadir

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  Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, éfalar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa vencer juntocom o outro (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar relação, éfalar à emoção do outro. A origem dessa palavra está ligada à preposição per, "por meiode" e a Suada, deusa romana da persuasão. Significava "fazer algo por meio do auxíliodivino". Mas em que convencer se diferencia de persuadir? Convencer é construiralgo nocampo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós.Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quandopersuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize. 

Muitas vezes, conseguimos convencer as pessoas, mas não conseguimos persuadi-las.Podemos convencer um filho de que o estudo é importante e, apesar disso, ele continuarnegligenciando suas tarefas escolares. Podemos convencer um fumante de que o cigarrofaz mal à saúde, e, apesar disso, ele continuar fumando.   

  Algumas vezes, uma pessoa já está persuadida a fazer alguma coisa e precisa apenas serconvencida. Precisa de um empurrãozinho racional de sua própria consciência ou da deoutra pessoa, para fazer o que deseja. É o caso de um amigo que quer comprar um carrode luxo, tem dinheiro para isso, mas hesita em fazê-lo, por achar mera vaidade.Precisamos apenas dar-lhe uma "boa razão" para que ele faça o negócio. Às vezes, umapessoa pode ser persuadida a fazer alguma coisa, sem estar convencida. É o caso dealguém que consulta uma cartomante ou vai a um curandeiro, apesar de, racionalmente,não acreditar em nada disso.

 Argumentar é, pois, em última análise, a arte de, gerenciando informação, convencer ooutro de alguma coisa no plano das idéias e de, gerenciando relação, persuadi-lo, no planodas emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça.  


  Um Pouco de História   

  A retórica, ou arte de convencer e persuadir, surgiu em Atenas, na Grécia antiga, por voltade 427 a.C, quando os atenienses, tendo consolidado na prática os princípios do legisladorSólon, estavam vivendo a primeira experiência de democracia de que se tem notícia naHistória. Ora, dentro desse novo estado de coisas, sem a presença de autoritarismo dequalquer espécie, era muito importante que os cidadãos conseguissem dominar a arte debem falar e de argumentar com as pessoas, nas assembleias populares e nos tribunais.Para satisfazer essa necessidade, afluíram a Atenas, vindo sobretudo das colônias gregasda época, mestres itinerantes que tinham competência para ensinar essa arte. Eles seautodenominavam sofistas, sábios, aqueles que professam a sabedoria. Os maisimportantes foram Protágoras e Górgias. 

Como mestres itinerantes, os sofistas faziam muitas viagens e, por esse motivo,conheciam diversos usos e costumes. Isso lhes dava uma visão de mundo muito maisabrangente do que tinham os atenienses da época e lhes permitia mostrar a seus alunosque uma questão podia admitir diferentes pontos de vista. Um dos princípios propostospor eles era o de que muitos dos comportamentos humanos não eram naturais, mascriados pela sociedade. Como exemplo, citavam o "sentimento do pudor". Contradizendoos atenienses, que acreditavam que fosse algo natural, os professores de retóricaafirmavam, por experiência própria, que, em muitos lugares por que tinham passado, aexposição de certas partes do corpo e certos hábitos tidos lá como normais, se vistos emAtenas, causariam perplexidade e constrangimento. 

Foi esse tipo de pensamento que deve ter provocado a célebre afirmação de Protágoras:O homem é a medida de todas as coisas, que o levou, inclusive, a afirmar que o verdadeirosábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstâncias em que elas se insereme não aquele que pretende expressar verdades absolutas. 

A retórica, ao contrário da filosofia da época, professada principalmente por Sócrates ePlatão, trabalhava, pois, com a teoria dos pontos de vista ou paradigmas, aplicados sobreos objetos de seu estudo. Por esse motivo, foi inevitável o conflito entre retóricos ousofistas, de um lado; e os filósofos, de outro, que trabalhavam apenas com dicotomiascomo verdadeiro/falso, bom/mau etc.  


 Tarefas da Retórica Clássica  


  A primeira tarefa da retórica clássica tinha natureza heurística1. Tratava-se de descobrirtemas conceituais para discussão. Um dos temas mais célebres, escolhido por Górgias, foi"o direito que a paixão tem de se impor sobre a razão". Para defender essa tese, Górgiasescreveu um discurso intitulado Elogio a Helena, em 414 a.C. 

A história de Helena de Tróia é uma das mais conhecidas da mitologia grega. Helena,esposa de Menelau, rei da cidade de Esparta, foi raptada por Paris, príncipe troiano, que aganhara como prêmio da deusa Vênus. Esse rapto deu origem à guerra de Tróia, que osgregos promoveram para resgatar Helena. A questão colocada por Górgias era queHelena, apesar de casada com Menelau e, do ponto de vista moral ligada a ele, tinhatambém o direito de apaixonar-se por Paris, dando vazão aos seus sentimentos. Naverdade, Vênus prometera a Paris não apenas Helena, mas o amor de Helena. Eis, aseguir, um pequeno trecho do Elogio a Helena: 

Eu quero, raciocinando com lógica sobre a infeliz tradição a ela referente (referente aHelena), liberá-la de toda acusação e fazer cessar a ignorância, demonstrando que seusacusadores estão equivocados. [. . .] Se o que originou seus atos foi o amor, não é difícilapagar a acusação de culpa em que dizem que ela incorreu. As coisas que vemos têm anatureza própria de cada uma delas e não a que nós queremos. Ademais, mediante apercepção visual, a alma é modelada em seu modo de ser. Assim, quando a vistacontempla pessoas inimigas revestidas de armadura guerreira com ornamentos guerreirosde bronze e ferro, ofensivos e defensivos, se aterroriza e aterroriza sua  

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