Convencendo as Pessoas

377 4 0
                                    


Ao iniciar um processo argumentativo visando ao convencimento, não devemos propor de imediato nossa tese principal, a idéia que queremos "vender" ao nosso auditório. Devemos, antes, preparar o terreno para ela, propondo alguma outra tese, com a qual nosso auditório possa antes concordar. Quando Ronald Reagan foi candidato pela primeira vez à presidência dos Estados Unidos, antes de pedir aos americanos que votassem nele, fez-lhes a seguinte pergunta:

- Vocês estão hoje melhores do que estavam há quatro anos?

É claro que Reagan sabia que a resposta era não. No governo Carter, que estava terminando, a taxa de desemprego aumentara, havia uma inflação elevada para os padrões do país e havia trezentos reféns americanos presos há mais de um ano na Embaixada americana no Irã. Somente depois de fazer essa pergunta e deixar as pessoas pensarem na resposta é que pediu que votassem nele, e sabemos que ele ganhou não somente aquela eleição, mas também a seguinte.

Essa tese preparatória chama-se tese de adesão inicial. Uma vez que o auditório concorde com ela, a argumentação ganha estabilidade, pois é fácil partir dela para a tese principal. As teses de adesão inicial fundamentam-se em fatos ou em presunções. A tese de Reagan fundamentou-se num fato: o de que os americanos estavam tendo uma vida pior, sob o governo Carter. Se quisermos, por exemplo, defender o Novo Código Brasileiro de Trânsito (tese principal) é importante levar nosso auditório a concordar previamente com um fato: o de que, depois de implantado esse código, houve uma diminuição de 50% das mortes no trânsito (tese de adesão inicial).

Neném Prancha, um técnico carioca de futebol de várzea, utilizava uma curiosa técnica de argumentação, como tese de adesão inicial, para convencer seus jogadores aprendizes a manter a bola no chão, em jogo rasteiro, em vez de levantá-la em jogadas de efeito, mas inúteis para quem está começando a aprender os fundamentos do futebol. Dizia ele aos meninos:

- Olhem aqui: a bola é feita de couro. O couro vem da vaca. A vaca gosta de grama. Por isso a bola tem que ser jogada rasteira, na grama! . . .

As presunções são suposições fundamentadas dentro daquilo que é normal ou verossímil. Se alguém que você espera está demorando a chegar, você pode presumir uma série de motivos: ele pode ter esquecido o compromisso, pode ter recebido uma visita inesperada, pode ter ficado retido no trânsito, e assim por diante. Tudo isso são presunções. Imaginar, contudo, que a pessoa esperada tenha sido sequestrada por um ET ou que tenha, no meio do caminho, decidido participar de uma maratona, não são presunções, pois esses motivos fogem ao conceito de normalidade ou verossimilhança. 

Assisti certa vez a um filme em que um jovem estava sendo acusado de assassinato. Durante o julgamento, o advogado de defesa utiliza uma presunção como tese de adesão inicial. Mostra ele aos jurados que o comportamento normal de um criminoso, depois de matar sua vítima, é afastar-se rapidamente do local do crime e desfazer-se da arma utilizada, atirando-a num rio ou em algum outro local pouco acessível. Ora, o réu em questão tinha sido preso por ter sido denunciado à polícia, por meio de um telefonema anônimo. 

Quando a polícia o procurou, encontrou-o dormindo um sono tranqüilo em sua própria casa, com a arma do crime, limpa de impresses digitais, jogada debaixo da cama. A tese principal do advogado era a de que o réu era inocente da acusação, mas, antes de defendê-la, conseguiu que os jurados concordassem com a presunção de que era muito pouco provável que alguém fosse tão inexperiente a ponto de atirar a arma do crime sob a própria cama e, ao mesmo tempo, tão experiente a ponto de ter apagado previamente as impressões digitais.


As Técnicas Argumentativas

As Técnicas ArgumentativasTécnicas argumentativas são os fundamentos que estabelecem a ligação entre as teses deadesão inicial e a tese principal. Essas técnicas compreendem dois grupos principais: osargumentos quase lógicos e os argumentos FUNDAMENTADOS NA ESTRUTURA DO REAL.  

A Arte de ArgumentarOnde histórias criam vida. Descubra agora