Vida "normal"

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- Espero que você não tenha matado ninguém com essa espada.
- Eu... -Gaguejei.
- Brincadeira! Mas da próxima vez tome mais cuidado pra não se cortar de novo. - Bernardo riu.
- Tudo bem, Ber.- Falei, meio sem graça.

Assim que saímos da estrada, entrei no Audi de Bernardo e fomos direto para a cidade, ele parou num prédio azul e branco, e me levou para dentro. Lá tinha um belo jardim, com alguns bancos de madeira e uma piscina, mas como era tarde, não havia ninguém lá.
- Por quanto tempo vou ficar aqui? - Perguntei, ao ir em direção ao elevador e entrar.
- Kora, eu já te disse que será até você arrumar um emprego e conseguir dinheiro pra comprar uma moradia própria.
- Como eu faria isso? Nem sei ler, esqueceu que eu vivi nos céus? Eu não sei fazer nada.
- Amanhã eu vejo um jeito, vou dormir. - Bernardo falou, entrando em seu apartamento rapidamente.
- Tudo bem...
- Boa noite, anjo. -Ele me disse, em tom de deboche, enquanto fechava a porta do quarto. Não gostei de ser chamada de anjo.
Andei pelos corredores do apartamento após entrar e achei um quarto vazio, que tinha uma cama feita, uma televisão e um armário. Tirei as roupas, usando apenas as peças íntimas, me joguei na cama e adormeci.
No outro dia, acordei com alguém me cutucando, e vi Bernardo ali na minha frente. Me cobri com o cobertor, envergonhada, pois ainda não tinha vestido o resto das minhas roupas, já que eu não tinha nenhuma que pudesse usar.
- Já são 2 horas da tarde, e você acabou de acordar! - Ele me disse, rindo.
- Ao menos você poderia bater na porta. -Murmurei
- Não seja chata, Kora. Tenho uma ótima notícia pra você.
- E qual seria? - Perguntei, sem muito interesse.
- Seu emprego começa amanhã, melhor se preparar.
- Emprego? Como assim emprego? - Me assustei.
- Você precisa ter algo pra se sustentar, então fiz um currículo falso pra você e consegui uma vaga de atendente numa loja de maquiagens chamada Mary Kay.
- Mas é uma marca famosa! Já ouvi falar!
- Isso, agora me agradeça mais tarde, anjinha. Vou para escola e mais tarde volto, aproveite a casa sozinha e tente não bagunçar muito. Se ficar com fome, tem frango e batatinhas congelados no freezer.
Ele me abraçou, pegando sua mochila e fechando a porta.

Eu não ficaria ali parada, tinha que fazer alguma coisa, afinal estava num mundo novo, queria conhecer os costumes, as pessoas, várias coisas que eu nunca fiz antes. Bernardo já devia estar cansado disso, já que estava no último ano desse lugar que ele chamava de escola. Saí do apartamento, indo para a parte do jardim, que cheirava a Jasmin, senti o frescor do vento e da natureza, sentindo a brisa do mar que me cercava, até que ouvi alguém por perto, olhei de lado e percebi um garoto, que estava olhando a calçada abaixo encostado no muro do jardim (foto). No momento que ele percebeu que eu estava a olhar para ele, veio em minha direção, com passos leves.
- Olá. - Ele disse.
- Oi. - Respondi, meio desconfiada.
- Nunca te vi por aqui, você é parente de alguém do prédio?
- Não, me mudei pra cá ontem, e estou morando no apartamento do Bernardo.
- BERNARDO?! - Ele elevou a voz.
- Sim, qual o problema?
- Nenhum... Não foi nada, apenas não somos bons amigos. Desculpe os maus modos de me apresentar, me chamo Dominik, tenho 180 anos.
- 180? - Eu ri, achando ele meio lesado.
- Não! Quis dizer 18, é que não sou bom com matemática, mas vi que sua vida é da minha conta.
- Hann??? - Fiquei confusa, sem entender direito. - Isso foi uma cantada? - Perguntei, tentando não rir.
- É... Não! Esqueça, como você se chama, donzela?
- Me chamo Kora, que significa mesmo donzela, mas como você sabia o significado do meu nome?
- Porque se parece com uma. - Ele sorriu, de boca fechada.
- Obrigada, mas não estou com tempo para essas brincadeiras.- Fechei a cara e tentei dar um passo para sair dali. Essa conversa estava me deixando envergonhada e sem graça. - Adeus, Dominik, vou indo agora.
- E se eu parar seu relógio?

As piadas dele eram tão sem graça que me faziam rir.
- Bem, foi bom falar com você, mas nem te conheço, acho que devo ir. - Falei, virando as costas. Ele me puxou.
- Espere! Você sabia que há dois tipos de mulheres? As que me amam e as que não me conhecem.. Prazer?
- Você é um idiota mesmo, perdi meu tempo vindo aqui. - Respondi, querendo sacar minha espada e acabar logo com a vida dele.
- Calma, senhorita! Podemos trocar umas ideias!
- Que tipo de garoto chama os outros por "senhorita" e "donzela"? Estamos no século 21! Acorde pra a vida por favor.
- Eu sei! Mas é que... leio muitos romances clássicos, então acabo pegando essas manias.
- Então devia parar de lê-los e, aliás, nem sei porque estou aqui perdendo meu tempo com você, porque se eu quisesse rir compraria um livro de piadas.
- Mas eu... Eu pensei que podia te divertir um pouco!
- Olha, me desculpa pelo meu jeito, mas como sou nova na cidade eu não estou acostumada a falar com pessoas do seu tipo.
- Perdão, pensei que gostaria das minhas piadas, mas prometo não ser desse jeito irritante, pode me dar a honra de uma boa conversa?
- Se você falar como um cara normal, sim, porque de cavalheiro não tem nada. - Reclamei, enchendo os pulmões de ar, quase sem paciência para aquilo.
- Então... - Ele riu, de boca fechada. - por enquanto o que pensa em fazer na cidade? A Flórida é grande demais pra ficar num prédio.
- Eu estou estagiando num emprego numa loja de maquiagens, e não tenho muito o que fazer por aqui, então acho que não saio muito.
- Eu saio de casa apenas de noite, e de manhã vou para a faculdade.
- Ah, entendo. - Percebi um lindo anel de pedra vermelha num dos dedos dele, parecia bonito e bem antigo. Achei estranho um homem usar algo assim, mas não questionei.

-  Lindo anel

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- Lindo anel. - Falei, apontando.
- Obrigado. - Dominik sorriu, pelo canto da boca.
- Posso ver? - Disse, puxando o anel do dedo dele.
- NÃO! - Ele gritou, me empurrando. Quase caí com o susto. - Desculpe Kora! Não foi de propósito! - Por que fez isso? Não precisava quase me derrubar. - Falei, com ódio e medo ao mesmo tempo.
- Ele foi muito caro, e é uma herança de família, perdão pela minha reação precipitada, não foi de propósito, mas mudando de assunto, como você aguenta estar de casaco com um calor desses?
Eu não tinha muito o que falar, usava aquele casaco para esconder minhas asas, que por sinal estavam cortadas e muito feridas.
- Eu... Eu tenho algumas cicatrizes nos braços, de um acidente de carro, por isso tenho vergonha de mostrá-los. - Respondi, mentindo.
- Ah, mas não precisa ter vergonha, isso é normal! - Rapidamente, ele tentou tirar meu casaco, mas desviei, e percebi que ele estava muito assustado.
- Ele está...E-e-ele está... - Dominik gaguejou.
- O que tem meu casaco?
- Ele está sujo de sangue! - Ele falou, aterrorizado, e saiu correndo desesperado, quando me virei, ele não estava mais ali.
Que garoto mais tonto, ao invés de me ajudar com meus ferimentos, me deixou ali, sozinha. Naquele momento vi que nós dois escondíamos coisas. É por esses motivos que odeio os humanos, e por isso vou me vingar de algum deles amanhã.
10 likes e libero o próximo capítulo! Espero que comentem o que acharam e se querem que a história continue! Deixem seus votos! Bjs!

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