Perfect

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No dia seguinte, os raios de Sol matinal bateram no meu rosto me fazendo acordar. No dia anterior eu havia conhecido Dominik e ganhado um emprego, do qual eu havia passado a tarde vendo vídeos de maquiagem para poder estagiar nele. Confesso que os vídeos de tutorial não me faziam ter interesse, e aquela voz fina e irritante das youtubers me irritava muito, principalmente na parte em que elas diziam: "Oi meeeniinas, hoje eu vim ensinar...", pois isso só me fazia rir.

Assim que me levantei, coloquei uma blusa sem mangas e uma jaqueta preta, escondendo minha espada alí, junto com uma calça jeans e um par de botas. Passei pelo corredor e vi Bernardo dormindo de cueca em seu quarto, foi cômico, ele deveria se acordar para ir pra escola. Eu deveria acorda-lo? Ainda era muito cedo, e eu devia sair para o trabalho, já que era um pouco longe do prédio.
Meu trabalho é relativamente perto da casa de Bernardo, então sempre pego apenas um ônibus todas as manhãs, geralmente cercada por poucos passageiros, resultando num caminho tranquilo.

Chegando no empresarial, vi a loja Mary Kay com seu rosa estampado numa placa, e percebi várias atendentes muito bem maquiadas, que sorriram assim que entrei. Falei a elas que havia mandado meu currículo e era meu primeiro dia no emprego, então elas pediram que eu esperasse os clientes chegarem para atende-los. Nenhuma delas percebeu que eu estava com uma espada na cintura, pois a minha jaqueta era suficiente para cobri-la.
Depois de muito tempo de espera, uma cliente finalmente chegou, procurando algo pela loja, a moça era loira e bastante magra.
- Boa tarde. - Ela me cumprimentou.
- Boa tarde, o que procura? - Perguntei.
- Me chamo Emily, e gostaria de fazer uma maquiagem de festa. Hoje à noite terei uma festa para ir e quero estar impactante. - Ela disse, com um pouco de soberba na voz, ajeitando os cabelos.
- Venha comigo até a sala de maquiagens por favor. - Falei, esboçando um sorriso falso e indo até uma sala, onde tinham espelhos, penteadeiras e uma banheira de hidromassagem. A garota se sentou na cadeira de manicure, seria minha primeira cliente. Minha primeira vingança.
Não conseguia controlar o sentimento de ódio e rancor dentro de mim desde que eu havia voltado do submundo, como uma espécie de estresse pós traumático.
Seria errado fazer algo contra ela?
Eu não me importava.

O certo e o errado estavam fora de cogitação para mim. No momento em que ela estava distraída com os esmaltes ao lado, peguei a minha espada e a golpeei fortemente na cabeça, sem dó. Antes que ela desmaiasse, ou pudesse gritar, afundei a lâmina inteira em sua barriga, em seguida tirando de dentro e fazendo minha nova marca em seu braço: escrevi "perfect ", arranhado a espada em sua pele do braço, que era a mesma escritura de minha espada, e a coloquei na banheira de hidromassagem, que ficou repleta de sangue.
Eu já tinha tudo planejado, peguei com as luvas do estúdio uma faca que havia trazido na bolsa e coloquei em suas próprias mãos, devia dar o melhor de mim e não deixar nenhum rastro.
- MENINAS! - Gritei. - Por favor, ajudem! Uma tragédia aconteceu!
Lucy e Anna me olharam confusas e assustadas, saindo da recepção e indo em minha direção.
- O que houve? - Lucy, a de cabelos pretos extremamente lisos e olhos âmbar me perguntou, parecendo bastante preocupada.
- A MOÇA QUE EU ATENDI! EU FUI BUSCAR AS MAQUIAGENS QUE ELA PEDIU E QUANDO VOLTEI ELA HAVIA SE SUICIDADO NA BANHEIRA DO ESTÚDIO!
- O QUÊ? - Elas gritaram, enquanto corriam em direção à porta, vendo o corpo de Laura submerso na banheira de sangue.
- Temos que chamar a polícia! - Anna disse, a ruiva de tranças e sardas nas bochechas.
Não fui de acordo com a ideia, pois eu iria ter que fazer a ocorrência quando eles chegassem, e poderia até me tornar uma suspeita, mas com meu rosto angelical ninguém jamais suspeitaria que eu poderia ter cometido  tal crime.
Depois de alguns minutos, a polícia apareceu, e um dos policiais me perguntou o que havia ocorrido, pois eu não tinha mais chances de sair dali.
- Poderia dizer o que ocorreu aqui?
- Sim, senhor policial. A moça pediu que eu a levasse até o estúdio para se arrumar pra uma festa, então quando fui buscar os pincéis e voltei, ela estava morta na banheira! Foi horrível! Ela parecia ser tão simpática! Estava tão ansiosa para se arrumar!

Ele não me respondeu nada, apenas marcou a cena do crime, pegou a faca, guardando no saquinho e chamou o carro do IML, que um tempo depois veio e recolheu o corpo.
O dia se prosseguiu dessa forma, em um puro silêncio, além de Anna e Lucy, que estavam chocadas e não  paravam de falar sobre o crime, em um tom preocupado e assustado. Durante a conversa, tentei deixar bem claro que se tratava de um suicídio, para não gerar especulações.
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Chegando em casa, Bernardo não havia chegado ainda do colégio, pois nesse dia ele tinha aulas integrais, já que estava no último ano, então resolvi me deitar no sofá e me afogar em salgadinhos, que eram o tipo de alimento que mais se tinha ali, enquanto assistia televisão. A notícia da morte de Emily não tinha sido divulgada, finalmente, pois casos de suicídio nunca poderiam ser comentados na TV. O tempo estava muito monótono, até que alguém bateu na porta, e eu, pensando que fosse Bernardo, falei:
- Entre!

Dominik apareceu, quase me dando um susto, e riu da minha cena, toda desleixada no sofá.
- O que você está fazendo aqui? - Perguntei.
- Primeiro oi, Kora. Agora à noite eu vou para uma festa, mas estou esperando meu par e ela até agora ainda não chegou.
- Que azar, mas quem seria ela? - Perguntei, achando que ele se referia a mim.
- A Emily.
Nesse momento, meu mundo parou.

fαℓℓєn AngєℓOnde histórias criam vida. Descubra agora