Era um dia frio, gélido, digo eu. Acabo de acordar em casa dos meus avós paternos, a véspera foi com eles este ano. Dia 25, Natal. Abri as portadas do meu quarto, parecia que estava no séc. XIX, numa casa burguesa. O sol invernal reluzia e o campo à frente da janela tinha a relva verde, linda. Arranjei-me, tomei o pequeno-almoço, havia dormido na sala nessa noite, a minha avó passou-se e eu fiz de conta que não ia dormir lá, mas dormi, com Jack. Ele dormiu no sofá e eu em duas poltronas coladas. Fiz imensos vídeos até que às 5 da manhã adormecemos. Estivemos a disparatar até então. Depois às sete fomos para os quartos e às nove acordámos, obviamente sem ter dormido nada. Eu sonhei com o Naruto, eu neste momento vivo no mundo de Naruto, tudo o que faço parece que se encaixa nessa "dimensão" hehe!
Depois de tomar o pequeno almoço, a minha avó interrogou-me e o meu pai denunciou-me, descobriram que eu e Jack dormimos na sala, o meu avó gargalhou trocista, e a minha avó fez uma expressão de quem está perturbada com algo muito grave. Ri-me da expressão dela, fui ouvir música para o quintal lindíssimo apesar de fúnebre, sabendo que lá tinha morrido o meu bisavô de ataque cardíaco, e por volta da uma da tarde fomos almoçar a casa da minha tia. A casa era pirosa, antiga, mal decorada. Eu e Jack nunca gostámos muito da família paterna, sempre preferimos os Woods, era mais o clã. Passando essas preferências à frente, eu e Jack fomos ver filmes natalícios que passavam na televisão grande localizada no escritório grande do meu tio até às 19:30h, hora de ir para casa (onde à minha mãe ainda vivia) e seguir às 20:30h para Val.
Já tínhamos as malas feitas e Jack mexia no seu iPod entusiasmado, sorria e dizia repetidamente que iríamos passar o ano novo melhor de sempre, com a família em Val, enquanto que a minha mãe sorria também pacificamente e eu ouvia música.
Chegámos ao carro, pusemos as malas, era a primeira vez que íamos a Val desde o anúncio de divórcio. Olhei para Jack:
- Jack, este Natal é só longboard.
- Hum, se tu não fores mariquinhas...
- Jaaack.
E a minha mãe riu-se das nossas expressões.
Foi uma viagem longa pela noite escura, até que vislumbrei, ao atravessarmos a ponte, luzes acolhedoras e fumo a sair de chaminés de pequenas casas espalhadas por entre a florestação:
- VAL!
Jack tirou um auscultador e sorriu, passámos a falar de diversas coisas até que chegámos a casa da minha tia Gloria. Tocámos à campainha e esperámos que alguém abrisse os portões que dariam acesso ao terreno que serve de garagem.
Saí do carro com Jack, pegámos nos longboards, o dele era de um formato especial, o meu tinha a forma de uma tecla de um piano. Eu levava uns calções e umas meias-calças bejes, botas pretas e uma camisola quente. Ligeiramente grunge. Mas era mesmo porque sabia que iria correr e não queria rasgar ou sujar roupas cerimoniais. Jack usava os seus trajes esquisitos, casacos em cima de casacos, calças skinny pretas, vans estragadas, brinco na orelha. E apareceu a correr Sam, camisola-polo da Lacoste e calças bejes, sapatilhas adidas. O polo desalinhado, calças sujas e sapatilhas desgastadas. Oh, Tia Karen será possível nunca entenderes que Sam não é um menino educadinho da cidade?!
- Marga Feia, Jack !!
- Sam, então meu?
Jack e Sam cumprimentaram-se, eu dei um aperto de mão a Sam de tal ordem que lhe estalei o cotovelo (ele não me chame feia!) e ele fez cara feia.
Entrámos, ouvia-se o burburinho familiar dos Woods, ah como eu adoro aquele som de gente a falar e a rir-se juntamente com as crianças a rir e a brincar e a correr!! O cheiro a comida de Natal e cigarro mistura-se e cria um cheiro apenas agradável a nós, cheiro a conforto, a família. Parece cómico mas é naquele ambiente que cresci e sempre o amarei. Lou e Bia vêm ter comigo, Lou abraça-me e Bia puxa-me a camisola:
- MAGGIEEEE- Lou diz em tom de bebé. Eu rio-me e abraço-a, falo um pouco com ela e brinco com Bia.
- ENTREGA DE PRESENTES!!!!
Olhámos todos, foi um entrega chata, eu apenas recebi 20€ e Jack 40€. Sempre deram mais a Jack do que a mim, têm uma panca pelo facto de ele pintar mesmo muito bem, um prodígio da família, sabendo que todos os meus primos e tios são instrutores, professores ou avaliadores de pintura. E eu e Sam ao lado, tenista e chef. Hehe! A minha tia foi mesmo maldosa com Sam, ele andava a pedir há imenso tempo uma PSP e ela deu-lhe um jogo.
- Hahaha, mãe, agora a PSP?!
Sam riu-se e olhou para a Tia Karen. Ela fez um sorriso perverso:
- Olha Sam, quando tirares boas notas.
E deu uma gargalhada. Sam, furioso, saiu a bater com os pés.
- Olha que meninos de 11 anos a portarem-se assim não merecem nada!
E eu fiquei calada. Que má. Fogo, que má. Eu não entendo, ela é tão fixe tão querida... E depois faz isto.
Depois da fantástica entrega de presentes, ficámos a falar todos, eu, Jack e Sam víamos um livro de pintura que a madrinha de Jack lhe deu, Lou e Bia ficavam a lutar e fazer coisas de menina com Liv, uma priminha de 4 anos, e Lassa, outra prima de 5 anos. Willie, um primo da idade de Lou, e Marc, o mais novo da família, brincavam com uns carros da lego na sala. Os adultos ficavam "alegres", a minha mãe e uns primos saíram para passear, e por volta da meia-noite e meia fomos todos para casa, e aí... Eu e Jack arrumámos o nosso quarto enquanto Sam falava connosco animadamente. Após as instalações feitas, à uma e mia, duas, fomos os três beber um leitinho achocolatado, lavámos os dentes, fizemos as higienes noturnas, e fomos para o quarto. Falámos até às quatro da manhã, altura em que os três caímos num sono profundo, Sam a pensar em algo que eu honestamente não tenho interesse em saber, ou caso contrário ficaria chocada com o que vai naquela mente, Jack a pensar numa rapariga que andava na escola dele e por quem ele se apaixonou perdidamente, e eu... A pensar no meu amor Naruto...
Às 8 da manhã acordei no quarto, com o saco-cama (sim, não dormia com lençóis mas sim com um saco-cama) a cobrir-me até à ponta arrebitada do meu nariz, levantei-me.
Fiquei sentada a olhar para o quarto, estava frio, e as paredes brancas, embora sujas, refletiam a luz solar e invernal que as cortinas azuis mal colocadas na janela assimétrica deixavam passar. Desci as escadas do beliche, Jack resmungou por eu ter abanado a cama toda, passei pela frincha mínima que se abria entre o pequeno armário onde guardo as roupas e a cama desmontável de Sam, e calcei as pantufas. Estava apenas com uma camisola velha de lã vermelha, e umas calças polares cinzentas. Fui à casa da banho, lavei a minha cara e lavei os dentes, abri a janela. Senti o cheiro a orvalho e o gélido ar de inverno que prevalecerá eternamente em Val em dezembro. Era dia 26 de dezembro e estava toda a aldeia decorada com luzes de Natal e decorações natalícias acolhedoras, fechei a janela da casa de banho. Olhei-me ao espelho, e sorri. Tinha tirado o aparelho. Finalmente. Saí da casa de banho, passei pelo quarto da minha mãe (já não é dos meus pais não é), e estava ela a dormir na cama de casal. Abri a porta para a sala comum e a sala de jantar/cozinha, e fui e fiquei no sofá durante 1 hora. Depois desse tempo em silêncio, a família já tinha acordado, a minha avó já anda atarefada a pôr lenha na lareira, os meus tios e a minha mãe preparavam o pequeno-almoço, Jack e Sam estavam a vir para a sala a falar de Naruto e quando me viram puseram-se a gozar comigo, amorosos como sempre. O dia correu muito bem, a minha mãe a minha tia estavam num clima de conflito, mas nada de mais. O dia 27 estava também a correr muito bem, até às 16:30h, quando Sam estava a jogar Sonic e Naruto na Ps2, Jack a ouvir músicas nos baloiços, e eu a passar fotografias que tirei no passeio desta tarde, com Sam e as nossas primas. A minha tia Karen desceu as escadas com os passos pesados e furiosos, e e a minha mãe olhou mortalmente. As duas olharam -se nos olhos, Sam olhou para elas e depois para mim, ele tem 11 anos, como é suposto saber o que fazer nestas situações?! Eu fiz sinal para relaxar e continuar a jogar, quando as duas irmãs puseram-se a discutir tanto, e Sam impávido e sereno, seria possível?! A minha mãe retirou-se da sala furiosa e a minha tia ficou na sala. Ela estava calma e a fazer pena. Ela fazia-se de santa e a minha mãe passava por estúpida. Bolas, tia. Qual é o objetivo?!
Fui ter com a minha mãe ao quarto e ela estava a fazer a cama que desfez por causa da sesta que tirou, praguejava furiosamente e a minha tia apareceu:
- Olha, Riley, eu só quero que entendas que eu não queria...
- CALA-TE Karen! Cala-te! Estúpida! Para de fingir!
A minha tia olhou para mim em sinal de busca de compreensão, eu baixei os olhos. Nunca sei o que fazer em dilemas familiares!!
A minha mãe foi para a sala ainda a insultar a minha tia, Sam ignorava e continuava a jogar, mas parecia-me triste. Eu decidi ir comprar chocolates e trazer para Jasama e para a minha mãe, que recusou arreliada e apenas aceitou por eu implorar...Só espero que isto acabe depressa e possamos passar um Ano Novo espetacular em família, como todos os outros!!

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Infância
RomanceMargaret Woods, prazer. Serei narradora da minha própria história, que, como podem deduzir, será completamente influenciada pela minha infância...