14 anos

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  Acordei cedíssimo, tinha perdido o sono por causa do meu gato, que insisti em lamber as minhas mãos, por mais que o afugentasse. Eram exatamente seis e meia da manhã, eu fui ver o meu calendário e surpreendi-me: era o meu aniversário. Mas tinha a certeza de que não seria grande coisa, graças ao divórcio dos meus pais. Mas até foi.
  Ninguém em minha casa se lembrou de me dar os parabéns até se lembrarem que eu já tinha 14 anos. Mas nem foi grande festa, o meu pai ficara silencioso e deu-me os parabéns, triste. Totalmente compreensível. Mas na escola...
  Desde já, Kim chegou atrasada e enquanto ela não chegava, a turma que sempre me ignorou veio ter comigo. Isso foi uma bela prenda, saber que não era uma anti-social de todo. Depois, as aulas correram-me bem, pela primeira vez desde o sétimo ano um teste de matemática correra bem, e no final do dia, depois da aula de educação física, obrigaram-me a tomar banho vestida, mas não havia mal, pois iria para o ténis, ia trocar de roupa e ia. Ora, a escola correu bem, mas o resto do dia... Foi neste dia que percebi que o divórcio dos meus pais é pior do que pensei que fosse...
Primeiro, o meu treinador, que sempre me adorou e eu sempre o adorei a ele, ele era o meu ídolo, ignorou-me completamente durante o treino. Eu pensei que estivesse a brincar, então fui ter com ele no final do treino despedir-me dele e ele foi mesmo parvo:
-Bob, já me vou embora!!! Já fiz as tarefas que pediste para fazer e treinei para o torneio.
-Hum. Ok, até amanhã.
-Até amanhã? Haha! Ok, adeus!
-Xau.
Fixei-o. Os parabéns? Não mos deu. Porquê? Sei lá eu.
  Ele continuou a olhar outros jogadores, anotando os resultados.
  Virei as costas, olhei de novo para ele, ignorou-me. Mas o pior ainda vinha. Eu e a minha mãe fomos ao shopping comprar a minha prenda de anos, e quando eu ia sair de uma loja de maquilhagem vi um rapaz de quem eu gostei na altura em que os meus pais eram casados e lembrei-me que imaginava que se alguma vez namorássemos, eu queria que fosse como o meu pai e a minha mãe, que o amor fosse assim. E olhei para a minha mãe.
  - Amor... Claro.
  Ela olhou de volta para mim. Eu sorri, disfarcei, dizendo que estava a falar de um anúncio que tinha escrito "amor" mas que o produto não ia dar amor, apenas dinheiro... Nailed it. A minha mãe acreditou-se e riu-se!
  Bom, o resto do dia foi até razoável, até chegar à hora de dormir.
  Estava a olhar fixamente para as paredes azuis do meu quarto. Lembrei-me de quando eu e a minha mãe pintámos o quarto. Ri-me. Depois olhei para o meu computador, tinha-o deixado ligado... Estava ligado num vídeo em Val, com Sam e Jack, era Sam a correr e a tropeçar num caixote do lixo, e Jack a rir-se tanto a ponto de se encolher sobre a barriga e cair ao chão. Eu ria-me também, às tantas caio também juntamente com a câmara. O vídeo está pausado na cena perfeita: vêem-se os os meus cabelos e a minha mão direita a cair no chão, Jack na relva do jardim a contorcer-se e Sam ni chão, a rir-se também, cabelo todo desalinhado, roupas molhadas da Lagoa Verde. Dei uma gargalhada baixa. Depois olhei para o teto. "Os pais não estão casados. Mas terei sempre a família e acima de tudo Sam comigo. E Jack. Jasama.". Fechei os olhos e adormeci num instante, a pensar como seria se Jasama vivesse no mundo de naruto.

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