Pingas caíram no chão. Os meu olhos ardiam. O meu estômago estava apertado o suficiente para eu ter vontade de vomitar. O meu peito doía-me como se alguém estivesse a esmagar-mo lentamente.
Não. Não. Não. Não. Isto não aconteceu. Eu não ouvi isto. Não. Impossível. Senti-me como nunca me tinha sentido. Nem quando uma prima minha tinha morrido me senti tão mal.
Olhei para cima. Jack e a minha mãe falavam ainda. Tudo me parece escuro agora. Triste. Angustiante. Repugnante. Nauseabundo. Estremeci. Mexi uma perna para andar e não consegui andar muito bem. Tremia. Não conseguia sequer respirar tão bem. Fui dolorosamente até para dentro do meu quarto e fechei a porta lenta e suavemente. Encostei-me à porta sem ruído. Tapei a boca discretamente com as mãos e chorei convulsivamente. As lágrimas magoavam-me, os olhos e a cara doía-me de tanta angústia . Senti-me desesperada e prestes a ter um ataque de histeria. Queria gritar, mas não podia. Contive-me. Engoli a dor. Apenas olhava chocada para o chão com água pesada a cair dos meus olhos.
Olhei para a casa de banho e foi inevitável. Lembranças vieram-me à cabeça como uma chuva de agulhas em cima de mim e uma porta a fechar-se nas minhas goelas, impendindo-me de respirar. Sam a seguir-me e fazer-me cócegas até à casa de banho quando veio cá em setembro do ano passado. E eu ria-me. Jack, eu e Sam à pancada no corredor entre a minha casa de banho e o resto do meu quarto. As minhas tias riam-se quando vieram visitar a casa e viram que eu tinha uma casa de banho para mim. Sam e Jack chateiam-me na casa de banho. Eu tranco Sam lá quando ele me chateia demasiado. Olhei para o quarto. Não. Memórias não. Que dor. Que morte. Que tortura. Inevitavelmente vi-nos nos meus anos a rirmo-nos, eu e Sam a tirar fotos no computador no dia do trabalhador, Jasama a falar no verão, Jasama no dia do funeral do Harry. Oh, Harry! Val! Família! O meu suporte. A minha vida. A minha essência. Pânico. Não. Não. Não está a acontecer. Por favor não. É só um sonho. Um pesadelo. Amanhã acordo com o Sol matinal de Val, com o barulho de Sam a falar com Jack. Não! Não me façam isto.
Caí no chão. Fiquei ajoelhada com a cabeça sobre a minha cama, chorei mais do que alguma vez chorei na minha vida. Na minha pobre miserável vida que não faz sentido sem Sam e sem Val e sem a família. Levantei-me a custo, vi um papel na mesa. Era o meu diário. Folheei-o e fui ao verão anterior. Eu ia morrer ali. Dia 1, piscina e riso. Dia 2, direta com Jasama e riso. Dia 3, chuva, Lagoa, praia à tarde, riso. Dia 4, , dia 5, dia 6..... Felicidade. Será que ela vai desaparecer? Quem é que eu quero enganar?! Vai. Óbvio que vai. Morreu tudo. A felicidade morreu. Continuei a ler o diário e a chorar até chegar a uma folha onde colei uma foto que tinha tirado, uma Polaroid. Era eu, Jack e Sam. Eu à esquerda, Sam no meio e Jack à direita. Lou lá atrás a rir-se. E em baixo, escrito:
"Jasamalo AHAHHAHAHAHAHA cresceremos juntos ou morremos!"
Lembrei-me do verão anterior outra vez. Luminoso. Da minha tia a ameaçar-nos. Murmurei a custo a sentença que tinha feito a mim mesma:
- Ou eu não me chame Margaret Jefferson Woooo-o-ds - o choro e a dor impediram-me de terminar a frase. Enfraqueci de vez e caí deitada no chão, frio, de madeira. Olhei ao lado. Era escuro debaixo da minha cama. Os pensamentos que tive quando Sam dormiu no chão. A minha camisa de noite de seda. Sam a falar da sua nova escola. Felicidade. Sorri. Ironicamente. Morreu. Olhei para o teto. Derramei uma última lágrima pesada e que ardia como fogo no meu rosto. A luz do meu candeeiro era fraca, mas a suficiente para causar um lusco fusco. Os meus olhos descaíram. Visualizei Jasama, uma imagem ofuscada e turva com os olhos húmidos.
- A - deus.
E assim adormeci no chão de madeira húmida e fria de dolorosas lágrimas.

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Infância
RomansaMargaret Woods, prazer. Serei narradora da minha própria história, que, como podem deduzir, será completamente influenciada pela minha infância...