Jasama

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  9 de setembro, 6 horas da tarde...
  Eu caminhava com Jack e Sam pelos jardins desarrumados da casa da nossa avó. As nossas silhuetas complementam-se nas ervas pisadas mas ainda verdes das partes laterais da casa. Sam vinha no meu lado direito, a falar connosco sobre animes e personagens e como nós somos parecidos com cada personagem, virando a cabeça frequentemente para um lado e para o outro. Jack, ao lado de Sam, vai concordando com o que o primo diz, fazendo um pequeno sorriso de lado, não queria rir-se, mas ele já me tinha dito que achava piada ao primo de dez anos quando começava a contar aquelas coisas, entusiasmado. O sol já se punha, o calorzinho que restava do dia quente que tinha sido já estava a resfrear, uma brisa suave passava pelas nossas caras.
  Chegámos ao Clube, sentámos-nos na beira da casinha de madeira, agora desgastada com os quatro anos de tempo que haviam passado por ela, e ficámos em silêncio. Sempre fizemos muito isto: ficar os três sentados em silêncio, a olhar para a rara Natureza que nos rodeava. Talvez fosse isso que nos unisse, o confortável e apaziguador silêncio da Natureza. E, religiosamente,  depois de ficar uns bons minutos em silêncio, falávamos do futuro e da marca gigante que teríamos na História. Mas desta vez foi diferente. Desta vez foi definitivo. Algo neste ano estava mal. Tudo o que dizemos e fazemos será definitivo. Foi este ano em que eu disse a Kim que era minha melhor amiga, e, vejam só, ela até o nome dos meus primos todos sabe. Foi este ano que disse a Jack que ele iria ter mil raparigas atrás dele, depois de uma semana inteira a perguntar-me se ele era bonito. E note-se que as minhas amigas todas começaram a perguntar-me se eu tinha algum irmão, pouco faltará para elas caírem a seus pés, haha estou a gozar!
  Sam iniciou a conversa:
  - Devíamos formar um Trio.
  - Já o somos, idiota. - eu sou ligeiramente agressiva no que toca a falar com Sam e Jack.
  - Sim, mas um Trio...
  - Institucional!
  - Vocês os dois não estão bem pois não? Sam, nos já somos um trio, e Jack, institucional? Um trio institucional?!
  Ri-me trocista.
  -Margaret. Um trio tipo organização. Uma organização que vai implementar regras governamentais, vamos ser todos vegetarianos por regra...
  Até gostei da ideia. Por isso, continuei-a:
  - Vamos andar todos de skate ou bicicleta para não poluir o ambiente...
  - A escola será apenas obrigatória até ao sexto ano!
  Levantámos-nos os três, e, como era o nosso ritual, continuámos a andar pelo jardim da casa, até chegar aos baloiços. Calámos-nos.
  Olhámos em redor.
  - O Trio... Jasama.
  -Sim, Jack, Sam e Margaret. Ótimo.
  -Hehe, vamos mudar o mundo.
  -Sim.
  Eu e Jack respondemos em uníssono.
  A minha tia veio chamar-nos para jantar. A silhueta magra e elegante dela a chamar-nos era bonita de se ver. Era um filme americano, a nossa vida. Enquanto me perdia nos pensamentos, e Jack e Sam se riam de alguma piada que eu não ouvira, já tinham passado 10 minutos e a minha tia veio outra vez, de mão na anca:
  - Sam!! Se não vieres imediatamente para a mesa com os teus primos, deixam de se ver durante um ano!!
  Entreolhámos-nos e corremos pela nossa vida. Literalmente, porque, acreditem amigos, se eu ficasse um ano sem ver Sam, acho que me trancava num quarto e deprimia para todo o sempre. Perdia a vida dentro de mim.
  Corremos, ainda a rir de um dos comentários que Jack tinha a acrescentar de cada vez que algo assim acontecia, eu olhei para os dois sorridentes. "Desta vez é definitivo."
  E assim é. E será. Talvez tarde, talvez cedo. Mas é.

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