IX- Complicações

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Anne

Aquele ogro gostoso me levou para casa, deu uma piscadinha e saiu cantando pneu, bocó, ri comigo mesma, apesar de ainda estar odiando ele até que não foi de um tudo ruim né, fiquei o caminho todo pensando no que ele tinha feito por mim, havia me salvado, e eu o tempo todo fui uma idiota, pior seria se ele não tivesse aparecido.
Entrei em casa, achando que as coisas não poderiam piorar, mas descobri que poderiam sim, o seu Zé, um senhor muito bondoso que trabalhava há muito tempo com o meu pai, acho que a vida toda pra ser mais exata, disse que o gerente da fazenda estava mancomunado com o ex sócio do papai e que sem eu saber ele tinha me feito assinar uns papéis que davam autonomia pra que ele fizesse o que queria com a fazenda e a empresa, com isso ele vendeu a empresa de São Paulo e as fazendas vizinhas que meu havia comprado, só não conseguiu vender que eu estava porque não deu tempo, seu Zé descobriu a falcatrua antes que ele fechasse negócio, com a ajuda do advogado da família conseguiu desfazer o negócio, como ele pôde, meu pai confiavam nele, eu confiava nele.
Estava arrasada, eu era uma patricinha inútil mesmo, não fui capaz de cuidar nem do que o meu pai deixou para mim. Desesperada eu pedi ao seu Zé que assumisse a gerência da fazenda mais ele não quis, disse que já estava muito velho e que não aguentava mais o pique da rotina da fazenda, que só auxiliava com pequenas coisas na baia e na horta da fazenda, disse que só poderia me dar um conselho, eu precisava procurar alguém que ocupasse esse lugar, alguém de confiança e que entendesse de tudo ali, já que eu não sabia fazer nada e nem entendia direito, ou eu deveria aprender a lidar com o gado, e ainda me disse que eu devia tomar cuidado com as pessoas da cidade afinal, ele não conhecia muitas pessoas que valiam a pena, e que um dos únicos que ele conhecia bem e desde de menino era o nosso vizinho Jhorge, também o Dr. Erick, mas esse ele conhecia só por fama mesmo, diziam ser um bom rapaz, disse mais ainda, eu tinha que fazer algumas escolhas se quisesse que a fazenda se mantivesse, aquilo foi demais pra mim mal havia me recuperado de um acidente e já veio tudo isso pra cima de mim, já não bastava tudo que eu havia perdido, agora teria que dar um jeito de me casar com alguém que eu nem conhecia se eu quisesse manter pelo menos a memória de meu pai, não aguentava mais, era muita coisa pra minha cabeça, sai andando pelo meio do pasto chorando, meio perdida nem me dei conta de onde estava indo, então cheguei a uma cachoeira com a água cristalina, não pensei duas vezes, pulei na água e deixei que a água lavasse minha alma fiquei mergulhada até não aguentar mais, então voltei a superfície para respirar, queria me afundar para sempre, mas nem para isso eu tinha coragem, saí da água ainda em lágrimas, me sentei na areia, na beira da água, coloquei a cabeça entre os joelhos e chorei, eu não aguentava mais, como pude permitir perder tanto.... em pouco tempo eu que tinha tudo agora nada mais me restava, tudo que eu mais amava na vida havia ido e eu nem havia me dado conta disso, só agora eu percebia o peso que eu carregava, fiquei tanto tempo estudando, longe da minha família das pessoas que eu amava, nas festas, frequentando lugares requintados, para nada, de que adiantou? quanto mais eu pensava, mais eu chorava.

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*Jhorge

Saí de casa pra poder arrumar conferir como estava as cercas da divisa da fazenda nossa com a dos Clarcks, terminei muito suado por causa do calor que fazia naquele dia, então decidi deixar o cavalo ali mesmo e descer até uma cachoeira que havia próximo dali pra tomar um banho e me refrescar um pouco, quando ia chegando escutei uns soluços altos de alguém que chorava muito, apressei o passo para ver quem era, quando percebi aqueles cabelos ruivos caídos sobre os braços, ela chorava, chorava muito, um choro que eu não conhecia, era um choro de dor, de cansaço, ela estava ali tão frágil, precisava de mim, senti meu coração bater como um louco, ela tinha esse poder sobre mim, precisava estar com ela não aguentava ver ela sofrer, eu precisava, fui até ela então ela apenas levantou o rosto, olhou pra mim e falou:

_Vamos fale o que você pensa também, que eu sou uma inútil, que não sei nem cuidar de gado, que deixei meus pais morrerem, vamos diga,veio aqui rir da minha desgraça?

Então ela se levantou e começou a me socar, e me xingar de desgraçado e me dar socos no peito enquanto chorava, parecia estar fora de si, segurei firme em seus braços de forma que ela parasse de me socar, então a puxei para os meus braços, e a abracei, não entendia mas não aguentava ver ela sofrendo daquele jeito, algo me incomodava, queria poder ajudar, e agora saber que ela se culpava pela morte dos pais, eu nunca havia pensado nisso, sobre o quanto ela tinha sido forte até ali, talvez mais forte que eu, então ela ficou fraca e caiu de joelhos, senti suas mãos gelarem e seu corpo estremecer, talvez todo stress e o sol quente havia feito mal a menina, peguei ela no colo e fui entrando devagarinho na água fiquei na parte rasa mesmo, sentei e coloquei deitada em meu colo, lágrimas rolavam por seu rosto, então segurei firme seu rosto e ergui a cabeça dela para que olhasse em meus olhos, e pedi:

_Não chore minha pequena, estou aqui para me bater quantas vezes quiser, mas não chore, meu coração se despedaça quando isso acontece, e eu nunca sei muito o que fazer.

Então passei as costas das mãos que não eram tão grosseiras por seu lindo rosto para secar as lágrimas, enquanto ela me olhava meio perdida em meio um mar de confusão que sentíamos tanto de um lado quanto do outro, e ao mesmo tempo de quem pede socorro, nós dois queríamos estar ali, queria aquilo, queríamos o beijo, queríamos o o calor um do outro, queríamos o toque, então a beijei, beijei como nunca havia beijado ninguém, e o beijo que antes era calmo como uma brisa agora se foi aquecendo como se todo aquele tempo o único lugar que os dois queríamos estar fosse ali, então com uma mão a sua nuca com o cabelo e com a outra na cintura firme, trazendo-a para mais perto de mim, ela correspondia levando a mão ao meu cabelo segurando forte, só paramos porque precisávamos respirar, coloquei seu rosto de frente pro meu e disse não fique tão triste linda menina, você é mais forte que qualquer touro desses que eu munto então, não chore, quando ia beijar ela de novo alguém chegou até nós, era o seu Zé, então ela se desvencilhou de meus braços, e como num pulo e já estava fora da água, dizendo:

_ vamos seu Zé, ainda bem que o senhor me encontrou, não saberia voltar sozinha. E já vi que esse lugar representa muitos perigos.

Seu Zé apenas acenou e saiu logo atrás dela.

Oieee amoras, esta parte me fez perder o fôlego, e vocês?

Beijocas!!!!

Laçada por um cowboyOnde histórias criam vida. Descubra agora