Suicida

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— Para! Não faz isso. — Ouvir aquela voz ainda me faz arrepiar. Como puderá ter o mesmo efeito depois de tudo?

(...)

2 anos atrás...

— Gorda!

— Baleia!

— Feia!

— Nerd!

Todos riem de mim, motivo? Pesar mais do que deveria, mais do que as meninas de minha idade.

A cada novo dia, é um dia a menos para mim. Maldita! Como pode me passar uma doença? Eu era uma criança quando minha mãe descobriu que havia contraído Aids, ela ficou furiosa, chegou até me bater. Porque? Porque quem transmitiu tal doença foi meu pai. Antes de morrer, a três anos a trás, ele me contou toda a história, ele era um ótimo pai, um exemplo de pessoa, mas por um descuido passou a doença para minha mãe, e ela engravidou de mim. Não nasci com Aids, mas quando era pequena, minha mãe furiosa, após uma discussão com meu falecido pai, pegou uma injeção e tirou sangue dela, depositando-o em mim. Mas o que tem haver com minha descriminação na escola? Bom, eu sou gorda e por isso sofro bulliyng, e todos na minha escola sabe quem tenho HIV, alguns nem passam perto de mim, por medo de contrair a doença. E o pior, o menino que eu gosto foi o portador da notícia. Certo dia ele chegou na escola fazendo maior arruaça e gritando aos sete cantos: ELA TEM AIDS!

Aquele dia nunca saiu da minha cabeça, foi sem dúvida, um dos piores dia da minha vida, poderia ter sido qualquer pessoa, mas não, foi ele.

Senti-me humilhada, senti nojo de mim mesma. Mas nunca foi minha culpa, como uma menina de dezessete anos iria querer ter uma doença? E ainda, que muitas vezes - ainda - leva a morte, como aconteceu com meu pai.

O pior ainda é chegar em casa e ver minha mãe. Todo dia, sem excessão, ela me xinga, diz que sou a pior coisa que já aconteceu na vida dela, que sou sua destruição. Isso me fere, mais que um tapa. Mas o clímax da briga é quando ela solta, que por minha culpa ela não pode ter o tão sonhado filho homem. Após meu nascimento, ela ficou estéril, eu quase morri para nascer, e ela me culpa todo dia por isso.

Visto apenas uma calcinha e sutiã, olho para o espelho, o mesmo reflete uma gorda, pura banha, como meus colegas dizem. Onde já se viu uma menina na flor da idade pesando 65kg? É muita gordura em um só corpo, além de ser feia, sou gorda. Todos riem de mim. Todos.

Vou fazer regime, isso! Ah, também tem aquele negócio de colocar o dedo na garganta. Aquela patricinha da escola faz, e acham ela linda. Vou fazer! — Pensava eu ser a melhor escolha.

E eu fiz!

Emagreci dez quilos em pouco tempo. Mas mesmo assim não pararam de rir de mim, e pior, começaram a me chamar de osso. Será que foi demais? Mas eu ainda olho no espelho e vejo muita gordura. Já sei! Eles querem fazer com que eu pense que é para parar de emagrecer. Mas não, eu vou continuar.

E eu continuei...

Cheguei a pesar 43kg. Estava horrível, puro osso como dizia vovó. Acabei sendo internada, ou morreria. Por que Deus? Porque não deixaram-me escolher a segunda opção.

Quando completei 18 anos, vivi o pior momento da minha vida, sem dúvidas, aquele superou qualquer outro vexame. A perda da virgindade.

Eu já havia engordado uns quilinhos, havia conhecido uma menina - que se tornou minha melhor amiga - ela dizia que estava ficando gostosa. Mel era super legal, me levava para sair, me arranjava meninos, mas foi embora do país, fiquei destroçada, mas antes dela ir, eu perdi minha virgindade. Com nada mais, nada menos que o menino que eu ainda, infelizmente, amava.

Contos De Uma Cidade Que Nunca DormeOnde histórias criam vida. Descubra agora