Consequência

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Me chamo Cecília Sampaio, quem me vê hoje não imagina a minha história de vida. Eu era uma criança frágil, inocente, não conhecia nada da vida. Meus pais eram dois monstros que apenas me criaram para me usar. O meu pai me agredia todas as vezes que negava a me deitar com ele e minha mãe me obrigava a limpar e cozinhar sozinha, eu tive que aprender as coisas na prática sem nem ter noção do que estava fazendo.
Depois de muitos anos eu já não aguentava mais essa vida de escrava que levava e meu pai estava passando dos limites. Ele devia a muitos homens e para pagar suas dívidas eu era obrigada a me deitar com homens sujos bêbados e nojentos.
Flashback On.
- Não me obriguem a fazer isso - digo chorando desesperada.
- Cala essa boca sua vaca - levo um tapa em meu rosto e assim sou obrigada a fazer o que mandam, por medo, novamente.
Flashback Off.
Depois de sofrer muito eu resolvi fugir de casa levando comigo uma quantia de dinheiro que havia pegado da carteira de meu pai.
Eu morava no interior, especificamente em uma fazenda, onde raramente se via alguém de fora. Tive que andar a pé por um longo caminho, e por muita sorte, ao chegar na pista, um caminhoneiro estava a passar e me ofereceu uma carona, confesso que tive um pouco de medo de entrar no caminhão, pois não o conhecia e ele poderia fazer algum mal a mim e ninguém ficaria sabendo, mas ele era a minha única chance de sair desse inferno e como raramente passava carro naquela estrada aceitei a corona. Foi Deus que o enviou, pois além do homem de meia idade ter me dado carona ele foi muito respeitoso e me ofereceu algo para comer, ele havia percebido que estava faminta então quis pagar meu almoço, eu não podia usar o dinheiro que tinha pois era pouco e gastar não seria uma boa ideia.
Andei muito ao lado daquele Senhor até chegar em Nova York e foi aqui que minha vida mudou completamente. Assim que cheguei aluguei uma pensão possuindo apenas um quarto e no outro dia depois de descansar sai à procura de um emprego para conseguir me manter aqui.
***
Já se passava quase um mês e eu não havia encontrado nenhum emprego, o mês que tinha pago na pensão estava quase acabando. Mas não desanimei e graças a minha última esperança eu consegui um emprego como atendente em uma lanchonete que por sinal era bem luxuosa. Ficava próxima onde estava morando e não tinha tanto perigo para ir embora, havia um amigo que também trabalhava na lanchonete, ele sempre se oferecia para me acompanhar até a pensão, mas eu preferia ir sozinha.
Em um belo dia, por sorte, um homem de aparência muito bonita e bem vestido entrou na lanchonete e logo veio falar comigo e disse que era dono de uma agência de modelos e que a dias vinha reparando em mim e eu era o perfil de modelo que ele estava à procura. Fiquei em choque quando disse que eu era bonita, na verdade eu não me achava feia, mas também não me considerava grandes coisas. O homem me entregou um cartão com o seu telefone, fiquei um pouco com medo, pois nada de muito bom tinha acontecido comigo, até então.
Desta vida podemos esperar de tudo e por isso tive medo de o procura-lo e ser uma armadilha, mas apesar desse medo eu tinha que tentar, então eu o procurei e desde aquele dia a minha vida mudou completamente. Acabei me tornando uma modelo profissional e muito conhecida por todo o mundo.
Depois dessa vira volta que minha vida deu agora sim eu me enxergava diferente, uma mulher muito linda, com os cabelos longos e loiros e olhos cinzas que fazia muitos homens ficarem aos meus pés sem fazer esforços para isso e toda essa atenção me deixava um pouco envergonhada.
Marcos dono da agência não havia transformado só meu visual como também meus modos, eu não era mais uma menininha frágil e com medo de tudo, agora eu era uma mulher linda e preparada para a vida.
***
Depois de alguns anos eu descobri, através de pesquisas, que as pessoas que diziam ser meus pais não eram os biológicos como pensava. Eles me compraram de uma quadrilha que roubava crianças de seus pais verdadeiros para vender a casais desesperados para ter um filho, mas os meus "pais" não queriam uma filha para amar e sim para escravizar. Durante anos eu fui obrigada a transar com desconhecidos se não apanhava com chicote e ainda jogavam álcool em mim. Entre a dor e o sexo, eu preferia o sexo apesar de ser algo contra a minha vontade e em alguns homens me machucassem, era algo menos pior do que levar uma surra da maneira que faziam. As chicotadas que levei nas costas me deixou com marcas horríveis o que só me motivava a cada dia que me olhava no espelho a fazer vingança.
Quando descobrir que fui usada por aqueles monstros eu jurei a mim mesma que não sossegaria enquanto não os visse implorando para mim os deixar vivos e sem dó e nem piedade eu iria cortar pedacinho por pedacinho e vê-los agonizar. E assim fiz, depois de algum tempo treinando para matar e me preparando psicologicamente pelo o que eu estava a fazer eu fui atrás de Clara minha "mãe" e Alberto meu "pai".
Cheguei na casa onde muito sofri e gritei por Clara para que viesse me atender e logo a mesma apareceu na porta para verificar quem estava ali a chamar.
- Posso ajudar em algo? - Diz parecendo não me reconhecer.
- Alberto está? - Pergunto com cautela.
- Sim, está - Diz e o chama o mesmo aparece na porta juntamente a Clara.
- Olá Papai e Mamãe - Digo sendo irônica e rindo da cara que os mesmos fazem.
- Cecília? - Pergunta Alberto pálido com minha presença.
- Em carne e osso - Digo me aproximando do casal.
Vi estampado em seus rostos o medo do que tinha por vim, pois perceberam que eu não era mais a garotinha inocente e assustada que eles maltrataram durante anos, eu agora era uma mulher determinada, cheia de atitudes e com sede de vingança.
Durante um período eu havia aprendido a lutar, então usei alguns golpes para poder apaga-los o que não foi tão difícil. Ambos já desacordados eu aproveitei para coloca-los amarrados em sua cama de casal que tanto fui abusada sexualmente. Já tinha todo esse plano em minha cabeça. Assim que acordaram eu comecei a falar tudo que havia planejado.
- Bom, mãezinha querida, eu sofri muito nas suas mãos. Eu não fui uma criança feliz, eu não tive infância, fui obrigada a cuidar da casa sozinha e transar com pessoas que eu nunca vi na minha vida - falo com Clara que esta amarrada ao lado de Alberto em um lado da cama. Passo minha faca de serra por toda ela e a mesma chorava desesperada pedindo para que eu não a machucasse.
Ela até que tentou, mas nada que falava iria me afetar. Eu me preparei para isso e não ia desistir por conta de palavras inúteis e lágrimas de crocodilo. Não iria mais perder tempo, então comecei minha vingança por ela cortando com a faca de serra lentamente cada membro que a vadia possuía. Eu não a matei, mas a deixei a beira da morte. Logo fui para o outro lado da cama fazer o mesmo com Alberto.
- Papai, você abusou de mim sexualmente, tirou a minha pureza para o seu prazer sem se importar com nada, e me usou como um objeto sexual para que você pudesse quitar as suas dívidas - Falo e ele não diz nada, apenas chora.
Não tenho pena desse drama todo e o corto vagarosamente como fiz com Clara e por fim arranco seu pênis e o mesmo fica inconsciente.
Assim que acabei minha vingança os vi agonizando como desejava, então fui embora daquele lugar que tanto me trazia maus lembranças.
Por todo o percurso de volta para casa eu chorei, não por arrependimento, mas por enfim o ódio que sentira por aqueles monstros havia de se acabar pela melhor vingança.
***
Anos se passaram depois da morte daqueles ordinários e eu não adquiri nenhum remorso pelo que fiz, eu simplesmente segui a minha vida como se nada tinha acontecido, pois isso foi apenas "consequência" do que fizeram a mim.
Eu encontrei meus pais verdadeiros depois de muito procurar e eles eram muito ricos por sinal e me ajudaram a crescer na vida, eles me acolheram e me amaram verdadeiramente como nunca havia sido amada antes.
Bom e para minha felicidade ser completa eu encontrei meu grande amor. Ele havia me contratado para ser a modelo de sua revista, mas acabamos nos evolvendo e se apaixonando perdidamente e por fim se casando, e me tornei sócia de sua agência. Eu e Layon Rechberger tivemos muitas dificuldades, mas o nosso amor era maior e com ele conseguimos superar os obstáculos juntos. Fomos abençoados por um casal de filhos gêmeos e vivemos hoje muito feliz em Nova York na cidade que nunca dorme.

Jane Medeiros
( janee16 )
Laranja da terra ES, 28 de março de 2016

Contos De Uma Cidade Que Nunca DormeOnde histórias criam vida. Descubra agora