Sempre me questionei o por que de nós seres humanos sermos tão maldosos ao ponto de maltratarmos e machucamos as pessoas que menos merecem sofrer. Isso sinceramente é algo totalmente incompreensível e inevitável, tanto que até eu mesmo já pratiquei tal ato, estarei mentindo se negar, afinal, ninguém é perfeito, mas confesso que não machuquei essa pessoa por maldade, por eu querer me vingar ou algo parecido, machuquei sem querer, machuquei sem saber que estava machucando, difícil acreditar né? Mas essa é a verdade, posso garantir a vocês, fui tão vítima quanto essa pessoa na história. Vou contar a para você a história da minha vida conturbada que me trouxe para a cidade que nunca dorme.
A muito tempo atrás conheci uma mulher, ela era linda, seus cabelos eram compridos e iam até seu quadril, seus olhos eram de um negro intenso e hipnotizante, seu perfume inebriante e sua risada contagiante, aquela mulher me tirava o foco com apenas um sorriso. Mas existiam coisas que me impediam de ficar com ela, coisas que até hoje me atormentam e me prendem a essa vida tão difícil de largar.
Flashback On:
- O que acha de sairmos hoje, Mat? - perguntou ela sorrindo e olhando para mim com seus lindos olhos negros.
Até cogitei em aceitar o convite, mas não posso, tenho trabalho para hoje, o Salles não perdoaria mais uma falta minha.
- Desculpa, mas hoje não dá, Clarissa. - pronuncie essas palavras e logo o sorriso que ilumina meus dias se apagou e deu passagem para os lábios prensados e uma expressão de decepcionada.
- Por que? - perguntou ela baixinha fazendo meu coração se apertar mais ainda por ter que deixá-la.
- Tenho compromisso muito importante.
- Posso saber que compromisso é mais importante que eu? - perguntou ela fazendo biquinho e demonstrando seu total desapontamento por estar sendo trocada.
- Infelizmente não, ainda não é a hora de você saber, quando chegar eu contarei.
Ela bufou deixando transparecer totalmente sua frustação por eu sempre lhe dar a mesma resposta, sei que é difícil para ela entender, mas é mais difícil para mim ter que viver essa vida tão agitada e cheio de perigos.
- Ok, então... Até amanhã. - disse ela me dando um beijo na bochecha e me deixando sozinho em minha casa.
Fui para o meu quarto e me arrumei o mais rápido possível, já estava atrasado, são 19h40 e eu tinha que estar no lugar marcado as 19h30, o Salles deve estar muito puto pensando que vou pisar na bola novamente. Mando uma mensagem de texto para ele pedindo para me esperarem que já chegarei e vou correndo colocar a roupa a qual sempre uso para fazer esse tipo de serviço.
(...)
Estamos parados na frente da casa que realizaremos o assalto e o sequestro, o Salles me garantiu que nessa casa a família não demorará e nem questionará para pagar a quantia que pedirmos.
Entrei na casa pela janela de um quarto, enquanto o Salles e Augusto foram pelas portas do fundo, eu fiquei com a responsabilidade de saquear e eles de pegarem a garota, espero que ela não tente reagir, aqueles dois nunca têm piedade com gente que reage.
Pego "emprestado" tudo que vejo pela frente, a família realmente tem coisas que valem bastante e eu só tenho que agradecer por eles serem tão trouxas assim ao ponto de deixar tudo tão fácil para mim.
Acabo de pegar as coisas e vou para o carro esperar os meninos, não vou ficar aqui dando muito mole, alguém pode chegar e me pegar. Espero exatamente por meia hora, já estou começando a ficar preocupado nunca vi eles demorarem tanto para pegar somente uma menina, será que ela é tão forte assim que os dois não conseguiram dar conta? Rio com esse pensamento, nem no sonho uma simples garota conseguiria conter aqueles 2 ou conseguiria? O sorriso que estava em meu rosto sumiu na hora em que ouvi uma armar ser engatilhada e apontada para a minha cabeça. Engoli em seco e fiquei totalmente imóvel.
- Quem é você? - perguntou uma voz trêmula que eu conhecia muito bem. Olhei para o lado e confirmei minhas suspeitas, era a Clarissa, a minha Clarissa, ela está com um olho roxo e lábio cortado, ao ver meu rosto sua expressão mudou totalmente e a arma caiu de sua mão.
- Ma...ma-theus? - perguntou ela incrédula colocando as duas mãos na boca.
Sai do carro e tentei me aproximar dela, mas a mesma se afastou me olhando com repulsa, ela deve desconfiar que estou com os mesmo caras que a machucaram, afinal, estamos vestidos iguais.
- Eu posso explicar, Clary eu... - quando ia completar a minha frase fui interrompido pelo som de um tiro e pelo corpo da Clarisse que caiu totalmente inerte sobre os meus braços.
Levantei seu rosto para olhar em seus olhos e dizer que tudo ficaria bem, mas logo me arrependi, a bala ficou presa em seu olho esquerdo e ela estava totalmente inconsciente em meus braços, soltei um grito que consumiu toda o ar do meu pulmão e cai no chão com seu corpo junto de mim.
Meu coração está em pedaços e minha alma parece não existir mais, perdi minha fala, perdi meu movimentos e minhas reações, me sinto vazio e horrível, a Clary acabou de descobrir o que eu sou da pior forma possível e ainda perdeu sua vida por minha culpa, mas eu juro que não sabia, juro que não queria machucá-la, eu nem sabia que era aqui que ela morava, eu nem sabia que era ela a mulher que sequestraríamos, nessa história eu não sou o único culpado, não era só eu guardava segredos, ela também tinha os seus... Mas se eu soubesse quem eram seus pais e aonde ela morava isso nunca teria acontecido, ela ainda estaria viva e talvez até jantando comigo naquele restaurante que me convidou para ir hoje, se ela tivesse me contado a verdade eu poderia ter impedido essa tragédia.
Flashback Off.
Esse dia eu me senti a pior pessoa do mundo, apesar de não ter matado-a tive culpa em seu assassinato, afinal, eu estava junto com o cara que atirou em sua cabeça, e o pior de tudo é que eu era como ele, eu já havia matado tantas pessoas quanto ele e de formas pioras, formas que eu gostaria de esquecer, mas que me atormentam desde o dia em que o amor da minha vida descobriu o que eu fazia da pior forma possível, nesse dia descobri que a mentira e segredos podem tirar vidas e levar pessoas amadas para bem longe de nós. E hoje estou aqui, em Nova York tentando fugir de mim mesmo na cidade que nunca dorme.
Kathia Rios
São Paulo, 23 de março de 2016.
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Contos De Uma Cidade Que Nunca Dorme
Krótkie OpowiadaniaA cidade que nunca dorme pode guardar muitos segredos, conter várias histórias e esconder mistérios surpreendentes. Os contos que se passam nela, podem nos mostrar lados que poucos conhecem, lados obscuros e atrativos. Nela presenciaremos paixões d...