Capitulo 24 - Jade

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Gesso, esse era o material do teto do meu quarto. Eu lembro das diversas vezes em que dormir olhando pra esse teto, ele era como uma tela em que eu pintava os meus pensamentos. Quando estava sozinha, eu cantava olhando pra ele porque o branco meio amarelado me relaxava. No entanto era apenas o teto que continuava o mesmo, as paredes estavam rosas, havia um berço inutilizado no canto próximo ao banheiro, caixas estavam espalhadas pelo chão, em cima da cômoda velha, e alguns livros de estudo estavam amontoados na prateleira de forma bagunçada. Minha cama ainda estava no mesmo lugar, mas estava coberta por um grande pano branco. Isso tudo era um retrato da minha ausência, eu já nem conhecia esse lugar, mas ainda sim, conhecia o maldito teto de gesso.

Não era como se eu esperasse que tudo estivesse como eu havia deixado antes de dormir em mais um dia comum da minha vida e acordar sem memória no hospital. Mas eu ainda queria que tivesse um pouco de mim no lugar onde era o meu refúgio muitas vezes. Não tinham fotos nas prateleiras, na mesa onde costumava ficar meu notebook, nem nas paredes. Minha mãe avisou que o quarto estava inabitado, e que o berço quebrado de Jules estava lá, as caixas que eu disse em um passado distante que eu voltaria para buscar também estavam lá, ela me avisou tudo, mas eu ainda sim prefirir ficar aqui.

Ouvi uma batida na porta e levantei da cama, eu sabia que isso levantaria uma grossa poeira, mas quando me deitei eu só precisava olhar para a única coisa que ainda parecia normal, o teto. A porta não estava aberta, ele apenas bateu de leve para avisar que estava presente.

-Essa é sua última mala, Jay. -Tommy murmurou e sorriu.

Ele e Joe me ajudaram a trazer minhas duas únicas malas para a casa dos meus pais. Joe ainda mora com eles, então não foi um problema para ela. Eu não entendia o porquê dela ainda continuar aqui, já que era noiva e mãe. Ela me dissera que ainda estava avaliando se Tommy era uma boa pessoa para morar, e isso nos rendeu grandes risadas, tanto eu quanto ela sabemos que ela só está esperando o dia em que uma aliança vai ser colocada em seu dedo esquerdo.

-Obrigado Tommy. -falei. Ele piscou um olho e depois saiu.

Eu ainda me sentia muito calada ao lado das pessoas, eu sabia que nós nos conhecíamos, mas eu ainda não estava bem. Ele sorria como um menino inocente, exalava sexo mas ainda sim parecia puro. Os olhos selvagens e sexy de Nike, eram totalmente diferentes dos azuis de Tommy.

Caminhei até minha mala tirei uma calça e camiseta, fechei a porta e troquei de roupa. Eu tinha que visitar Jhon. Hoje fazia dois dias desde que Nike viajou, eu me sentia deslocada no apartamento sem ele, e agora, eu me sentia deslocada na casa onde eu cresci. Eu não aguentava ficar sozinha lá e no entanto, não consigo ficar sozinha aqui. Tirei uma muda de roupa da minha mala e a levei até a cômoda, quando abri a primeira gaveta eu podia ver um caderno preto com o meu nome na capa, eu reconheceria esse caderno em qualquer lugar. Era onde descrevia, não so que me acontecia diariamente, mas o que mais me afligia. Deixei a muda de roupa em cima da cômoda e abrir a gaveta ainda mais para conseguir tirar o caderno de dentro. Eu o abri devagar sentindo o peso das folhas, alguns eram composições próprias, outras eram textos aleatórios, e outros eram as malditas descrições do que estava acontecendo ao meu redor. Lembro de me sentir patética quando escrevia a maioria das descrições, como uma adolescente idiota.

Eu não lembrava de muitas das anotações, sabia que era por minha falta de memória. Talvez alguns deles me ajudassem a ver algo do meu passado. Eu abri em uma página qualquer e comecei a ler o que lá estava.

13 de Agosto, 2013.

Quantas vezes eu te avisei Jade? Quantas vezes eu repeti? Não se deixe envolver, ele no final das contas só vai te provar que você nunca deveria ter se entregado para ele. Eu odeio que quando ele está por perto eu sorria sem perceber, odeio quando sinto calafrios quando me toca, odeio que o seu beijo me cause dor nas partes íntimas, odeio que eu me sinto tão triste quando ele não está por perto, odeio que ele seja totalmente errado para mim e mesmo assim eu esteja cega pela atração descontrolada que sinto por ele. E eu odeio principalmente que ele tenha me dado um bolo, e nem me avisou nada. Eu liguei, mandei mensagem, deixei um recado na secretária eletrônica, esperei, dormir, acordei, fui para universidade, tive aulas chatas, e quando voltei ainda não tinha notícias dele.

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