Capítulo 34 - Jade

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-E como você está se sentindo? -Kim pergunta.

Eu não olho para o seu rosto, olho para a vista da janela no seu consultório. Estou nervosa, cansada, estressada, e principalmente triste. Tudo que eu ouvi desde o dia do acidente foram perguntas do tipo: você está bem? Como se sente? Você está melhor? Eu não quero responder, eu nem queria estar aqui.

-Não sei como me sinto. -respondo.

-O que aconteceu depois do tempo separado? O que você está fazendo durante essas semanas?

-Cuidando do meu irmão, ficando com a minha família, com a Emily, ajudando a Joe com o casamento...coisas que me distraiam. -murmuro. É como se eu estivesse admitindo uma derrota, uma bela derrota.

-E Nike?

-Eu não sei, a gente não se fala à duas semanas. Ele visitou o Jhon, mas ele sempre vem quando não estou em casa, e também não me ligou. Foi tudo tão de repente, um dia nós estávamos bem e depois eu decidi que não voltaria para casa com ele e nós...nós terminamos, ou não, nem sei.

Duas semanas parecia tanto tempo, não nos falamos, também não nos vimos desde o dia em que ele me ajudou trazendo Jhon para casa. Meus pais fizeram um jantar, ele ficou e comeu conosco, mas quando o jantar já acabou ele apenas me deu um abraço e foi embora. Pensei em ligar, talvez pudéssemos resolver, conversar sobre o nosso relacionamento, podiamos estabelecer um tempo, talvez até Jhon melhorar, até eu recuperar a minha memória. Mesmo sabendo que a porcentagem é mínima.

Talvez eu jamais volte a recuperar a minha memória, talvez a terapia não esteja ajudando em nada. A minha vida vai continuar sempre cheia de falhas, com lacunas vazias. Seria egoísmo arrastar Nike para isso.

-Jade, você me disse sobre as lembranças que estavam voltando. Como você está lidando com isso?

-Lembrei de alguns momentos, alguns vezes são flashs, outras vezes parecem sonhos, nem sei se são reais. E tem um diário, com poucas anotações, coisas que eu não entendo. -dei de ombros.

-O que você viu nesse diário? -ela pergunta.

Gosto de Kim, ela sempre parece interessada no que estou dizendo. Mas algumas vezes suas perguntas parecem evasivas, eu me sinto desconfortável. Eu finalmente me viro e encaro seu rosto, ela está inexpressiva, ela não está exigindo, mas espera que eu responda.

-Alguma coisa aconteceu, eu não sei, talvez uma briga. -agora realmente parece que eu to por fora de tudo, eu não sei de quase nada, estou como um peixe em marte. -Eu estava chateada com Nike, eu o xinguei, depois um poema, quer dizer...parecia um poema. Tanto faz, se fosse algo imperdoável eu não teria me casado com ele, ou teria, não faço a menor ideia de que tipo de pessoa eu me tornei.

-Jade, você passou por muita coisa. Tudo parece confuso, você não lembra como era antes e nem sabe o que quer agora. Está muito difícil, mas acredito que você está indo pelo caminho certo. As suas lembranças estão voltando com frequência, creio que em breve você possa ter os momentos cruciais de volta. -ela diz e um sorriso caloroso surge em seu rosto pequeno.

Olho para o relógio acima da sua mesa, hoje eu tenho um almoço, só de meninas, como se não fosse assim sempre. Estou enfrentando problemas com a minha relação não definida e minha memória ausente, mas ainda tenho minhas amigas e meu irmão. Eu me despeço de Kim, e ela parecia feliz quando digo que vou sair com minha amiga e minha irmã. Ela sempre passa a impressão de que quer apenas o meu bem. Talvez nós já tenhamos ultrapassado a linha de paciente e doutora, para amigas.

Quando estou no conforto do meu carro, sozinha e sem precisar responder perguntas, apenas ligo o rádio e deixo que a música preencha tudo a minha volta. Faz um longo tempo que eu não canto, a última vez fora no dia em que Nike pensou que minha memória havia voltado. A música que está tocando é eletrônica, bastante animada, isso me contagia, eu já me sinto um pouco mais confortável e pronta pra mais uma enxurrada de perguntas.

Procura-se Por Nós  #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora