[ Reese ]Transportava Thea há uma semana e meia. A maioria das vezes era ao colo, mas como começaram a gozar comigo, ela mudou-se para as minhas costas sem reclamar. Por ser magra, não acrescentou muito peso, uma vez que eu já levava uma mochila com os meus essenciais aos ombros.
O pé dela estava a recuperar rapidamente, o que era bom sinal. Conseguia reparar muitas vezes o quanto ela estava aborrecida por estar inválida. E isso era o que mais me chamava à atenção nela: o facto de querer mostrar aos outros que era forte, corajosa e uma durona capaz de fazer o que quer que fosse, a quem fosse.
A meu ver, Thea Black era adorável. A sua pele morena- mas não assim tão morena- contrastava perfeitamente com os seus olhos azuis. Mas não eram uns olhos azuis quaisquer, como a maioria das pessoas possui.
Perto da jovem, podia-se reparar no quanto eles eram límpidos e selvagens, como as ondas dos oceanos quando ocorre uma tempestade. Perscrutá-los era como fitar o céu, aquele azul puro, indiscritível e maravilhoso.
E sem dúvida que os olhos da Thea eram do mais maravilhoso que há.
Tínhamo-nos aproximado mesmo muito desde que ela se magoou. A menina do cabelo longo e castanho-escuro deixou de me ver como uma pessoa que apenas se interessava por bens-materiais, e permitiu-me ter conversas profundas com ela, por baixo das estrelas, enquanto que todos os outros dormiam.
Houve uma noite em que ela não conseguia adormecer. Não sei se era das dores da entorse, ou de algo mais, mas ela estava inquieta. Estava perturbada, e eu sentia-o.
-Thea?- chamei-a, na tentativa de perceber o que se passava.
-Sim?- ela sussurrou. As suas palavras misturaram-se com o vento noturno que embatia na minha cara.
Quando a avisei que os restantes Afortunados poderiam acordar se ela não parasse de se mexer, Thea observou-me inexpressiva. Acostumado à escuridão, consegui perceber que ela comprimira os seus lábios carnudos e avermelhados.
-Vem cá.- pedi-lhe, virando o meu corpo de lado. Pus o braço esquerdo a apoiar a cabeça, com o objetivo de ter uma melhor visão da rapariga.
Ela mostrou-se confusa. Acho que não estava a perceber para onde é que eu queria que ela fosse, o que me fez soltar uma risada baixa.
-Anda lá, Black.- dessa vez implorei, dando-lhe um espaço no saco-cama que trouxera comigo.- Não te vou fazer mal.
Ela gatinhou por entre a noite, e cobriu-se devidamente quando se aproximou de mim. Depois de se deitar da maneira que desejava, suspirou três vezes, e fechou os olhos por uns segundos. Quando os abriu, cuspiu as palavras de uma vez só:
-Eu vi uma mancha de sangue no sítio em que torci o pé.
-Não há vida fora da East Side, Thea.- repliquei, esboçando um pequeno sorriso. Ela manteve-se preocupada, e desviou a sua atenção para as estrelas que se instalaram por cima de nós. Haviam pouquíssimas naquele dia.
-Eu também acreditava nisso. Mas eu tenho a certeza que aquilo era sangue, Reese. Aquele cheiro não engana ninguém. E o mais impressionante é que era recente.- conseguia-lhe ver a alma através dos olhos. Acho que isso me fez acreditar mais nela.
-Provavelmente era de algum animal de pequenas dimensões que sobreviveu. Um rato, ou algo do género.- expliquei, e ela assentiu, mordendo o lábio inferior.
-Talvez.- ela concordou- Agora, tu dormes nesse canto, e eu neste. E não te atrevas a aproximar-te mais.
No dia a seguir, acordámos agarrados um ao outro. O nosso líder, o Lewis, não conseguiu parar de rir durante meia hora, o que foi bastante vergonhoso. Tanto eu como a Thea corámos até o nosso rosto ficar da cor de um tomate.
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East Side | Ross Lynch
FanficNum futuro apocalíptico, depois do "fim do mundo", uma civilização chamada East Side ergue-se das cinzas e assegura a continuidade do Homem. Thea Black, a filha da atual Governadora, faz parte dos "50 Afortunados", que terão o privilégio de sair pe...