Acordei desorientada num espaço desconhecido. Estava deitada sob uma cama a poucos centímetros do chão, coberta com um lençol velho e descolorado.
Olhei em todo o meu redor, tentando obter informação suficiente do local. Era uma divisão pequena, toda em madeira, com a cama onde me encontrava, uma cozinha minúscula e uma estante negra e empoeirada.
Mal tive tempo de me levantar, pois assim que o tentei fazer, Ross apareceu de rompante, fechando a porta atrás de si e ignorando por completo a minha presença. Tinha um olhar cansado e a palidez da sua pele realçava drasticamente as suas olheiras. O cabelo estava completamente desvairado, mas isso já era costume.
Tossi com o objetivo de chamar a sua atenção, porém, só recebi um olhar de canto.
-Não me lembro de vir aqui parar.- anunciei, coçando a cabeça. E a verdade é que não sabia mesmo. A última lembrança que possuía era do lago onde já tínhamos estado.
-Desmaiaste antes de chegarmos.- contou-me, permanecendo de costas voltadas, enquanto que cortava algo com uma faca.- Devia ter presumido que isso iria acontecer, basta olhar para ti.
-O que é que eu tenho de errado?
-Estás magra. Esquelética. Pálida. Precisas de te alimentar.- ele disse, virando-se finalmente com uma maçã descascada desajeitadamente.
Cresceu-me água na boca de imediato, pelo que aceitei. Não tinha dado conta que tinha tanta fome, muito menos que estava assim tão magra. Não me olhava ao espelho fazia quanto tempo? Três semanas? Três meses? Não tinha a mínima noção de quanto tempo passara desde que fui sequestrada.
Assim que ia a dar a minha primeira dentada, congelei. Ross fitava-me perplexo. Ele estava naquele momento sentado diante de mim, no chão frio e velho.
-Onde arranjaste isto?-perguntei, completamente atónita.
-Lá fora.- Ross respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não sabia exatamente o que se passava com ele. Tanto parecia preocupado como furioso, e não queria, de todo, lidar com o seu mau humor.
-A Terra está infértil desde 2094.
Ele riu-se cinicamente, ajeitando o cabelo. Dentro daquelas quatro paredes, Ross parecia inofensivo. Quase uma pessoa pela qual eu me poderia apaixonar, se não me recordasse de tudo aquilo que ele me fez antes de ali chegarmos.
-Thea, tens de perceber de uma vez por todas que tudo o que te disseram é mentira.- ele sussurrou, dizendo aquilo que eu já esperava.
Suspirei calmamente, tentando processar a ideia de que tinha vivido numa grande bolha de enganos. Ao fim da minha terceira dentada, quebrei novamente o silêncio que se instalara.
-Conta-me a tua versão.
-Desculpa?
-Conta-me aquilo que tu sabes sobre o fim do mundo.- pedi, não esperando que ele o fizesse (ele continuava com a expressão facial preocupado/furioso, por isso não tinha grandes expectativas). Contudo, ele inspirou tranquilamente, e depois começou a falar.
-A Terra era um bom planeta para se viver. Muita vegetação, muita água, muitas espécies. E quando falo em espécies, falo em animais de que nunca sequer ouviste falar, plantas inimagináveis, coisas incrivelmente lindas que pareciam ter sido desenhadas à mão. Mas o ser humano é uma porcaria.
Ele fez uma pausa, e olhou para paisagem de lá de fora. O sol começava a pôr-se numas montanhas longínquas, espalhando uma cor alaranjada pelo céu.
-Nós tínhamos o mundo, literalmente.-continuou.- E só estragamos. Poluímos todos os oceanos, incendiámos todas as florestas. Deixámos que todas as espécies entrassem em extinção e não fizemos absolutamente nada para reverter o desastre. Depois, surgiu algo à qual demos o nome de "aumento do efeito de estufa", deves ter ouvido falar disso, presumo.
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East Side | Ross Lynch
FanficNum futuro apocalíptico, depois do "fim do mundo", uma civilização chamada East Side ergue-se das cinzas e assegura a continuidade do Homem. Thea Black, a filha da atual Governadora, faz parte dos "50 Afortunados", que terão o privilégio de sair pe...