Mal acordei senti o desconforto a invadir todas as partes do meu corpo. Por ter dormido no chão frio e sujo, as minhas costas encontravam-se doridas- ainda mais do que estavam da última vez que dormi. As lágrimas que haviam escorrido pelo meu rosto no dia anterior (supus que se tinha passado um dia, apesar de estar completamente sem noção das horas) tinham secado por todos os cantos das minhas bochechas.Abri lentamente os meus olhos azuis e concentrei toda a minha atenção nos meus braços. O sangue proveniente dos cortes estancara, mas os ferimentos ainda tinham muito mau aspeto.
Ainda sentia a dor como se passasse pelo ocorrido naquele mesmo momento. Ainda podia sentir a força com que o fragmento de espelho perfurava profundamente a minha pele. E ainda me recordava daqueles olhos cor âmbar a fitarem-me, repletos de crueldade, sarcasmo e prazer naquilo que me estava a provocar.
Eu odiava aquele rapaz desde o momento em que ele me pôs as mãos em cima. Ele era completamente louco, e, para piorar a situação, ele tinha tomado controlo sobre mim. Ele podia fazer tudo o que quisesse comigo, como já tinha demonstrado. E isso fazia com que eu lhe tivesse um medo tremendo.
Arrastei-me até a um canto e encostei-me à parede suja e degradada. Fechei os olhos por uns segundos, e pensei em tudo o que deixei por fazer.
Cheguei à conclusão que durante 16 anos nunca aproveitei a vida. Nunca convivi com ninguém da minha idade, não tive oportunidade de ter experiências repletas de adrenalina e loucura, nem tive hipótese de cometer erros para depois aprender com eles. A minha vida sempre foi passada trancada numa casa, sem que ninguém alguma vez pudesse aproximar-se de mim.
De súbito, ouvi alguém a abrir a porta do anexo. Prendi a respiração por uns momentos, enquanto esbugalhava os olhos. Ele vinha aí.
Mal tive tempo de me preparar para o que iria acontecer, uma vez que o rapaz loiro entrou de rompante com a sua arma na mão. Ele trazia ainda um objeto pontiagudo e enferrujado na outra mão, e foi para este que toda a minha atenção se virou- naquele dia ele ia torturar-me com aquela ferramenta.
-Bom dia, queridinha.- ele anunciou rindo-se. Afinal, as minhas especulações sempre estavam certas: tinha-se passado um dia.
-Que é que vocês querem de mim...- sussurrei, tentando conter as lágrimas. A minha voz transmitia perfeitamente a angústia, o desespero e agonia que eu tinha dentro de mim. Claro que o rapaz ignorou tudo isso, e começou a falar.
-Sabemos que és a filha da Governadora.- ele disse, colocando-se de cócoras, com o objetivo de olhar para o seu rosto.
Estando próxima dele, apercebi-me que o rapaz loiro possuía uma falha na sobrancelha esquerda. Precisamente neste lugar, surgia uma cicatriz, que se estendia para perto da sua testa.
Engoli em seco, esperando que aquela cicatriz não fosse uma marca de guerra na qual o rapaz saiu vitorioso.
-Que é que vocês querem da minha mãe? Dinheiro? Poder?- perguntei a medo, receando que ele quisesse acabar a conversa dando-me um tiro ou cortando-me a garganta.
-Vingança.- ele apenas respondeu, e eu entrei em choque.- A tua mãezinha e todos os outros governadores deixaram o nosso povo aqui fora, por conta própria. Nem foram capazes de nos acolher.
-Isso é mentira. Nós achávamos que não havia vida em West Side.
-West Side?- ele repetiu, com uma certa ironia na voz.- É isso que vocês chamam à nossa terra? Ficas sabendo que vocês não têm poder nenhum sobre Mortem Hostia. Não são suficientemente dignos para nomear esta porcaria de sítio como West Side.
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East Side | Ross Lynch
FanfictionNum futuro apocalíptico, depois do "fim do mundo", uma civilização chamada East Side ergue-se das cinzas e assegura a continuidade do Homem. Thea Black, a filha da atual Governadora, faz parte dos "50 Afortunados", que terão o privilégio de sair pe...