[Ross]
Saí do anexo pouco depois de Thea adormecer. O cansaço dela tinha tomado proporções absurdas porque, cada vez que fechava os olhos, lembrava-se do Isaac, e tinha medo de voltar a sentir e a passar por tudo o que passara.
E a culpa era toda minha. Não olhei a meios para atingir os meus fins e, pela primeira vez na vida, senti um aperto no peito, envolvido por toda a culpa que me assombrava. Sempre achei que havia uma linha que separava tipos como o Isaac de tipos como eu mas, na verdade, éramos perfeitamente iguais, como dois irmãos que cresceram dentro do mesmo meio (o que, de certo modo, era verdade).
Calafrios percorriam o meu corpo sempre que pensava no caos que tinha causado a alguém tão inocente como ela. Thea era uma vítima de todas as mentiras da mãe e de toda a sua civilização, cega pelas coisas que via e ouvia, sem buscar saber se a história que lhe tinham contado era ou não uma farsa.
Encontrei Derek e Isaac na cozinha, debatendo algo que parecia demasiado sério. Assim que me viram, a conversa cessou, e os quatro olhos foram postos em mim. Isaac esboçou um sorriso amarelo, enquanto o meu tio me continuava a observar inexpressivo.
Antes que pudesse sequer reagir, o sargento-mor estava em cima de mim, com um facão colado à minha garganta. Ri-me ironicamente: se ele me queria matar teria de ser mais inteligente que aquilo.
-A que devo esta honra?- perguntei, ridicularizando o ato tenebroso do meu tio. Senti a arma a ser pressionada ainda mais contra a minha pele, o que me fez pensar sobre o que teria acontecido para ele estar a comportar-se daquela maneira.
-Chegou-me aos ouvidos que andas a passar tempo extra com a refém.- engoli em seco após ele terminar a frase. Isaac fazia-se mostrar num plano secundário, ainda com o sorriso aparvalhado na face.
Tinha sido aquele filho da mãe a chibar-se. Depois de tudo, ele era capaz de piorar ainda mais a situação; depois de tudo o que lhe fez, estava naquele momento a tornar o cenário ainda mais feio. E, com aquela conversa, eu sabia exatamente onde Derek queria chegar.
-Quero-a morta até ao final do dia.- ele anunciou- Se não o fizeres tu, faço eu.
(...)
O sol punha-se por detrás da colina, fazendo irradiar pela casa uma luz avermelhada. Dylan encontrava-se diante de mim, a comer silenciosamente. Não sabia se o que estava prestes a fazer era o mais acertado, porém, sem ela para cobrir o plano que pensara e repensara durante todo o dia, este iria completamente por água a baixo.
-Preciso da tua ajuda.- acabei por dizer. Tudo o que recebi foi um olhar desconfiado.- Dylan, preciso mesmo.
-Calma, Lynch. Nunca te vi a implorar tanto.- respondeu, continuando a sua refeição.
-Se não fosse importante não o faria. Eu preciso de tirar a Thea daqui.
Assim que proferi o nome dela, recebi toda a atenção da soldado. Ela franziu o sobrolho, olhando fixamente para mim. Depois, riu-se descaradamente, e quando percebeu que estava mesmo a falar a sério, esbugalhou os olhos raiados de sangue.
No lugar dela, também eu estaria surpreso. Ainda o estou.
-A sério? Que se passa contigo, meu?- interrogou bruscamente, ao que eu pedi que ela falasse mais baixo. Assim o fez, e continuou.- Que é que tens na cabeça? O Derek nunca te deixará fazer isso.
-Por isso é que ele não o vai saber.
Dylan não era de fugir às regras, mas sabia que, pelo motivo correto, ela concordaria com tudo o que dissesse. Por baixo de todo aquele manto de frieza e maldade, eu sabia que havia uma réstia de dor que continuava presente na vida dela. E essa dor era a única que a poderia mover a fazer algo fora do esperado.
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East Side | Ross Lynch
FanfictionNum futuro apocalíptico, depois do "fim do mundo", uma civilização chamada East Side ergue-se das cinzas e assegura a continuidade do Homem. Thea Black, a filha da atual Governadora, faz parte dos "50 Afortunados", que terão o privilégio de sair pe...