12- A Recusa de deixar seus entes queridos.

70 6 0
                                    

Já havia se passado 5 meses des de minha morte e muita coisa havia mudado.

Ninguém entrava no meu quarto. Ele estava exatamente como eu tinha o deixadi. Papai sorria cada vez menos. Alguns breves sorrisos de quando ele lembrava de algo engraçado e quando perguntavam do que ele estava rindo ele apenas dizia
"Hazel".
Isso doía no fundo do meu ser, ver ele em um estado tão profundo de tristeza. Porém me dava uma leve alegria quase psicótica de saber que ele me amava tanto a ponto de entrar naquele estado.
Eu sei que é egoísta e um sentimento horrível porém você não pode me julgar, não se você não morreu o que eu acredito que não.
Mamãe fez uma coisa que me machucou muito. Ela negava que eu já cheguei a existir.
Nunca vou esquecer de quando ela conheceu uma mulher no Shopping e elas entraram em uma conversa animada até que a Mulher perguntou:

-Quantos filhos você tem?

Minha mãe engoliu em seco.

-Apenas três.

-Quais são os nomes?

-Micael, Louis e esse que eu estou esperando, ainda não vi nome para ele.

E assim continuou, se alguém perguntava quantos filhos ela tinha, seja quem quer que fosse, ela sempre respondia a mesma coisa.
Apenas três.
E com o tempo apenas aceitei.
Mic sofreu muito no começo. Ficou horas e horas trancando no quarto chorando. Muitas vezes teve um ataque de fúria e destruiu tudo em seu quarto e começou a gritar.

-PORQUE? PORQUE? -então sem pausas ele começou. -PORQUE? PORQUE? PORQUE? PORQUE?

Mais com o tempo ele aceitou e foi voltando a sua rotina normal. Arrisco dizer que por mais que ele continue fazendo suas palhaçadas e sorrindo, o seu sorriso nunca mais foi o mesmo.

Louis foi uma coisa muito estranha e boa. Todas as noites depois de mamãe o beijar na testa e lhe dar boa noite ele esperava alguns minutos até tudo estar silencioso e ligava o abajur, então começava a falar comigo... Como se eu estivesse ali do lado dele. Ele falava de como tinha sido o seu dia, das brincadeiras, das confusões, das discussões e principalmente de como ele sentia a minha falta. Certa vez ele estava falando de sua primeira paquera o que pela primeira vez des que eu morri dei boas risadas.

-...Ae eu fui lá e dei boas puxadas no bebelo dela e e ao envés dela me beja ela me deu um tapa. -ele disse com un beicinho nos lábios, então depois de uma longa pausa, suspirou. - Eu sinto fata de voxe Lazel , o papai disse que voxe não vai mais vota . -ele logo se deitou e fechou os olhinhos. -Espero que seja mentila dele.

E com isso adormeceu.
Dias e Dias foram passando e eu estava sempre lá. Eles não me viam, mais eu sempre estava lá. Minha mãe já estava entrando no 8° mês de gestação o que fazia ela ficar bem impossibilitada. Papai estava sempre trabalhando, devagar, Louis estava parando de falar comigo. Todos estavam seguindo suas vidas.
Menos eu.
Até porque não havia mais vida para eu seguir...

Depois de uns dias papai entrou no meu quarto e o esvaziou. Tirou tudo de lá de dentro e doou tudo. Ele virou um grande quadrado vazio e por um tempo eu não entendi o porque dele ter feito isso. Até os móveis do Bebê chegarem, todos brancos já que eles ainda não sabiam o sexo do mesmo. E logo o quarto já estava cheio com moveis novos do novo filho. Logo eles foram se esquecendo de mim e isso me fez entrar em estado de pânico.
Eles iriam me apagar da vida deles?
Usar esse bebê para tapar o buraco que a minha ausência deixou?
Iam agir como se eu nunca houvesse existido?
Foi o que eu pensei.
E mesmo assim, me recusei a sair e a deixa-los. Eles eram minha familia! Jamais os deixaria ou os esqueceria. NUNCA! Isso estava fora de cogitação.

O tempo foi passando e logo eu fui sendo esquecida.
Comecei a vagar pela cidade a noite e de dia ficar em casa vendo a rotina da minha família. Um dia meu pai estava arrumando o sótão enquanto minha mãe se esbaldava em um pote de sorvete e quando ele puxou um pano decima de um grande armário que tínhamos lá, uma caixa caiu e varias fotos se espalharam. Fotos minhas, de quando eu era apenas um bebê. Meu pai ficou o dia inteiro vendo aquelas fotos e no final chorou. Chorou depois de muito tempo. Então eu vi.
Eu os causava dor.
E não podia fazer isso. Eles mereciam uma vida feliz! Eles mereciam viver tudo oque eu não vivi! Tudo que tiraram de mim a força! Então com muita dor e tristeza sai da casa de meus pais. E só havia um lugar para aonde eu poderia ir.

Eu só não queria ter que encara-lo.

A Última Estrela  { Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora