Irresistível Amor

Capítulo 07 - Liberte-se de você. Seja livre!

"E eu anseio pela noite ou pelo dia, dia sublime, tão sublime. E na saudade por alguém que eu ainda não vi me imagino correndo pra teus braços, ó Pai"

Sublime - Leonardo Gonçalves   

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     Viver é uma droga!

     Forte, não é? Eu passei praticamente a minha vida toda dizendo o quanto viver é uma droga, mas depois de ver Lilian morrer daquela forma, cheguei a conclusão que morrer é uma droga também; sendo assim, eu tô ferrada!

     No primeiro instante, Leonardo sentou ao lado do corpo, pôs as mãos no rosto, sujando o local com sangue que ainda havia em suas mãos, e se manteve em silêncio. Ele não chorou, apesar de ter a impressão de ver seus olhos marejados. Minutos depois, ele levantou o olhar e num sussurro disse: obrigado, Senhor! O céu está em festa agora. Minha primeira reação foi xinga-lo mentalmente, como assim? Uma pessoa acabou de morrer e ele diz que o céu está em festa, isso não faz sentido. Apesar de ter achado estranho e querer falar umas poucas e boas, me mantive calada, quieta em meu canto, pedindo, quase implorando para que aquela cena sumisse da minha mente.
     Tive a ligeira impressão que minha vida está, realmente, seguindo um roteiro de filme de terror. Qual será a próxima cena grotesca?

— Malu, precisamos ligar para polícia e avisar os pais dela — Leonardo diz, ainda sentando no mesmo lugar.

     Olhei para Lilian, seu corpo ficando cada vez mais branco, todo mutilado, completamente diferente daquela menina que costumava ver todos os dias na escola. Uma garota saudável, pelo menos aparentemente. Tão cheia de vida exteriormente, mas com o coração doente.
     Como dar uma notícia tão cruel para sua mãe? Não faz muito tempo quando resolveu denunciar seu marido depois de saber dos abusos. Mesmo não dando toda atenção que a menina precisava, eu sabia que, no fundo, Lídia a amava de verdade. Por tanto, não sabia como dizer que tentei ao máximo salvar sua filha, mas falhei... E ela se foi.

— Malu, olha pra mim! — ele segura meu rosto, prendendo minha atenção nele. — Você tá bem?

     Balanço a cabeça, dizendo que não.

— Certo — ele continua — Nós vamos sair desse banheiro e esperar a ambulância lá fora, mas eu preciso que você me ajude a achar o número dos pais dela, tudo bem?

— Não tenho o número da mãe dela — respondo, ainda mantendo meus olhos nele. — E ela não tem pai.

— Tudo bem, vamos sair daqui então.

     A ambulância chegou, exatamente, quinze minutos depois.  

     Antes de levantarmos, escuto vagamente a sirene da ambulância. Passamos para a sala e lá esperamos os enfermeiros entrar. Leonardo explicou tudo que aconteceu, mostrou o lâmina jogada no chão e respondeu algumas perguntas que foram feitas.
     Enquanto dois dos enfermeiros pegava o corpo, outro fazia algumas ligações, em poucos minutos  o SAMU chegou, a casa foi fechada e depois fomos para a delegacia prestar depoimento. Eu olhava todo aquele movimento apavorada, sem conseguir digerir tudo que havia acontecido. Há quase uma hora atrás eu fui tomada por um súbito de raiva, estava decidida a despejar esse sentimento em Lilian. Agora me encontro desestabilizada, apavorada, confusa e angustiada. Fechei meus olhos diversas vezes, esperando que as cenas fossem apagadas da minha mente, porém elas me atavam a todo momento.

     Leonardo se manteve forte, mas parecia confuso, ele me olhava com um ar de indagação, certamente não conseguia entender o motivo de Lilian ter se entregado a morte. Mesmo não o conhecendo bem, sabia que para ele aquilo era loucura; na verdade, para muitos é. Poucos são aqueles que conseguem entender essa dor. Não entendem que ela nos mata aos poucos, acabando com nossa vontade de viver. Apesar de tudo, eu entendi perfeitamente os motivos de Lilian. A vida não é perfeita, mas, para alguns, ela é uma grande tragédia.
     O desgosto que Lilian sentia pela vida ficou nítido em uma das cartas que escreveu. Ela costumava escrever cartas desde muito nova e embora não tenha tido a oportunidade de ler todas, a única que li me causou grande comoção. Antes de cometer o suicídio ela escreveu sua última carta, uma despedida e desabafo.
     Chorei amargamente ao ler cada palavra.