Capítulo 17 - A dor que ninguém vê

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"O vazio dentro de mim eu me pergunto se você vê. O erro é meu e está me machucando. Eu sei onde estivemos, como chegamos tão longe? E se, e se começarmos de novo?"

Start Again - RED

 
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     De duas uma: ou a luz no fim do túnel está se apagando ou estou ficando cega demais para enxerga-la. É como se a vida me desse a oportunidade de viver bons momentos e depois arrancasse tudo de mim da pior forma possível. E isso é mais doloso. Pior do que não ter, é ter tido e ver ser arrancado de nós. Amostras grátis nunca funcionaram comigo, porque o desejo de querer mais, sem poder ter, desmotiva, acaba com a gente aos poucos. E desmotivação era tudo que eu não precisava! Já perdi todo sentido da vida, vi meus sonhos morrerem, minha vida piorando gradativamente. Cheguei ao ponto de achar que a morte fosse uma bela saída, desisti dessa ideia e, por fim, voltei a cogitar essa hipótese novamente.

     Nunca encarei a morte como a coisa mais terrível do mundo, para mim o mundo já é terrível demais. A antiga Malu voltou átona depois da inútil visita a Leonardo. Com ela, todos os pensamentos e mais uma tonelada de dor. Tentei manter meus pensamentos longe de qualquer coisa que tivesse ligação a Leonardo — nada que tenha dado muito certo. Nem mesmo a música pôde desviar meus pensamentos dele. Maldita paixão não correspondida!
     O dia parecia interminável. Dessa vez eu não tinha Letícia para me fazer companhia. Passei o dia me sentindo a mais egoísta de todos os tempos, eu queria ver minha amiga e, como se só houvesse meus problemas na face da terra, queria que ela me consolasse. Pensei em visita-la, porém vetei a ideia de perturba-la com meu dramalhão. No fundo eu não era aquele poço de egoísmo. Decidi ficar em casa e esperar que ela tivesse alta, como Jussara havia falado. Horas depois recebi uma ligação de Janaína comunicando que ela só teria alta no dia seguinte. Mais uma dose de tristeza me abateu. Ainda assim preferi esperar que Letícia voltasse, aquela altura eu não era uma boa companhia para ninguém — inclusive para mim.

     O dia seguinte chegou me trazendo um certo alívio. Bem... em partes, eu ainda não estava em condições de consolar ninguém, porém minha amiga estava — dentro do possível, fisicamente — bem. Faltei aula mais uma vez e tive a casa só  para mim durante toda tarde. O dia seguiu como todos os outros, mais entendiante impossível!

     A noite, depois de tentar me convencer de ir para o culto, e eu recusar, Jussara e Aluízio foram para igreja. Após a saída deles, me tranquei em meu quarto e fiquei em baixo do meu edredon por horas. Não sei dizer exatamente por quantas horas, pois para mim o tempo havia parado. Ainda estava encarando o teto — um dos meus exercícios constantes naqueles últimos dias — quando escuto o som da campainha. Cada partícula de mim desejou que fosse Leonardo, porém, para minha surpresa, era Letícia.

 — Letícia... nossa que surpresa. Eu ia te visitar hoje, assim que tivesse notícias...

     Sem se importar com o que eu digo, ela passa pela porta em silêncio. Sua expressão séria me levou a pensar no quanto estava zangada comigo por não ter visitado no hospital ou então ligado, mandado mensagem, feito sinal de fumaça ou qualquer coisa do tipo. Admito que também ficaria. Ela caminha sem parecer ter pressa, enquanto eu preparo meu psicológico para ouvir um dos seus sermões. Enquanto ela permanecia em silêncio, eu analisava todo seu corpo. Ninguém diria que um caminhão colidiu com seu carro, haviam algumas manchas roxas em seus braços, arranhões e machucados espalhados pelo corpo. Uma mão estava enfaixada, mas nada que a paralisasse por completo.

— Cadê ele? — questionou, virando-se para mim.

     Franzi o cenho, confusa. Caminhei até ela e me sentei no sofá, logo em seguida ela faz o mesmo.

Irresistível AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora