Capítulo 18 - Bônus por Leonardo

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"E se amar você é um crime eu aceito a sentença, porque amar você é um crime, é um crime que compensa. E por amar você ser crime talvez eu viva pra sempre como um fora da lei, como um fora da lei. Mas não vou viver fugindo, eu me rendo, eu me entrego, fico preso em teu sorriso, preso em teu olhar sincero. Deus é meu juiz e essa causa está diante dele. Eu confesso, eu me escondi, como eu pude te enganar. Eu confesso o meu crime, mas pra Deus nunca foi crime amar"  

Crime - Henrique Cerqueira 


🎵🎵🎵


      Admito que as coisas não saíram como imaginei. No momento que encontrei aquele par de olhos azuis, tive um estalo. Parecia mais um alerta, como se meu coração dissesse: cuidado! No primeiro instante não dei importância, nem de longe Malu me atrairia, não por falta de beleza – que, diga-se de passagem, ela tem de sobra –, mas pelo seu jeito louco de ser. Somos completamente opostos e eu nunca dei crédito à famosa frase "os opostos se atraem". É perigoso demais manter um relacionamento amoroso com uma pessoa completamente oposta, como Malu e eu, principalmente quando isso fere os nossos costumes, podendo interferir em nossa vida com Deus.

      Tendo em vista todas essas coisas, tentei ao máximo não me envolver com Malu. No primeiro instante, quando a vi sozinha e bêbada no ponto do ônibus, eu só quis ajuda-la naquela noite, entretanto meus pensamentos mudaram logo após ela ter acordado. Depois do ridículo desempenho com a caneta, descobri uma mulher sensível e repleta de problemas. Foi nesse momento que senti em meu coração o desejo de cuidar e trazer para fora a doce menina que estava escondida atrás de tantos complexos, soube de início que era Deus falando ao meu coração. Nada é por acaso, inclusive Malu aparecer em minha vida. Deus tinha um plano para ela, só não imaginava que futuramente eu iria querer fazer parte desse plano. À medida que ela foi se revelando para mim, consegui enxergar outra Malu. Quando percebi que estava perdendo o controle dos meus sentimentos, tentei me afastar, mas é claro que não consegui.

     Eu me compadeci da sua dor. Embora nossas histórias sejam completamente diferentes, eu também não fui criado por minha mãe e sabia exatamente como é doloroso a falta desse carinho. Minha mãe morreu quando eu tinha um ano, foi tudo rápido demais, o câncer se espalhou e ela não teve tempo de ver seu filho crescer.

     Apesar de todas as coisas, eu precisava falar do amor de Deus para Malu, não podia ser egoísta e guardar a alegria de ser dependente de Deus só para mim. Era exatamente dessa alegria que ela precisava e tudo ia muito bem até a nossa primeira briga. Certamente ela deve ter me odiado a noite toda, sabia que para Malu as coisas eram completamente diferentes e é por isso que desde o início achei tudo muito perigoso. Para ela não havia problemas de namorarmos, enquanto eu podia enumerar dezenas deles. Não posso negar o fato de ter sentido certa felicidade ao saber que meus sentimentos eram correspondidos, mas pela primeira vez eu não soube como agir. Eu a queria e ao mesmo tempo não queria. Estava certo dos meus sentimentos por Malu e senti um medo terrível por ter tanta certeza.

     Mas nada se comparou ao medo que senti quando recebi a notícia de que Malu estava no hospital, mal acreditei no que ela fez. Embora soubesse que ela não estava em seu melhor estado emocional, não imaginei que chegasse a tanto, tampouco pude reprimir a culpa de que nossa discussão fosse o motivo disso. Minhas mãos suavam como nunca, de relance via a preocupação estampada no rosto de Jussara e Aluízio, enquanto andava de um lado para o outro no corredor do hospital.

— Está demorando demais — falei, por fim, parando em frente os dois. — O que será que tá acontecendo lá dentro?

— Não sei, Leo, mas espero que não seja tão grave como imaginamos — disse Aluízio, enquanto amparava Jussara que chorava copiosamente.

     Sentei, levantei, andei de um lado para o outro e por fim sentei novamente. Era extremamente insuportável ter que esperar notícias, mas, para meu alívio provisório, o médico surgiu em meio ao corredor, vindo direto ao nosso encontro.

— O que aconteceu? — Jussara pulou da cadeira, a voz ainda trêmula. — Como está minha filha?

— A paciente foi levada para sala vermelha as pressas, tivemos certa dificuldade para encontrar a veia, pois ela chegou muito debilitada, mas já encontramos e colocamos no soro fisiológico...

— Ela já acordou? — Jussara questionou, sem dar chances de o médico terminar.

— Não — ele respondeu e apesar do seu rosto inexpressível, senti um pesar em sua voz. — Os sinais vitais estão bons, mas ao que parece ela entrou em estado de coma. Ainda não sabemos exatamente o motivo, geralmente quando os pacientes perdem muito sangue como ela, eles reagem ao soro. Em todos os meus anos de experiência, nunca vi algo parecido acontecer. Vamos deixa-la em observação e seguir com os procedimentos. Tudo que podíamos fazer nesse caso já fizemos, agora só depende dela acordar.

     Então ele some no corredor agitado e deixa o desespero pairando sobre nós. Jussara não se conteve e acabou desmaiando, Aluízio acompanhou a mulher até uma sala para que ela fosse medicada. Liberaram visitas para Malu, então Aluízio permitiu que eu fosse o primeiro, pois ele queria entrar com Jussara, assim ela teria mais tempo para se acalmar.

     Saber que Malu estava viva já era uma grande notícia, mas saber que inexplicavelmente havia entrado em coma sufocava o pequeno alívio da notícia anterior. Embora o que mais desejasse era ver Malu, hesitei um pouco ao imaginar como a encontraria. Sabia que dessa vez estaria pior do que quando a vi pela primeira vez e o pior de tudo é que, dessa vez, estava de mãos atadas, eu não podia fazer nada.

     Passei pela porta e me deparei com a pior cena da minha vida, não ela aparentasse estar sofrendo, mas eu estava. Meus olhos fitaram seus pulsos, eu queria ver o corte, saber qual era a profundidade, o tamanho, se já haviam dado ponto, se parecia ter sido tão doloroso como eu imaginava - não suportei a ideia de saber que ela havia sentido dor, não só física, mas na alma também, sem que eu estivesse lá para ampara-la - porém os pulsos estavam devidamente enfaixados. Me chamou atenção o fato de seu rosto estar estranhamente sereno, ninguém diria que perdeu muito sangue. Ela parecia estar bem, me perguntei onde Malu estava.

— Não pude te ajudar dessa vez, né? Me desculpa... desculpa por tudo — toquei seu rosto sereno. — Não entendo por que fez isso... quer dizer, não pense que eu sou insensível, eu sei que você diria que não te entendo, mas... você sabia que essa não era a saída. Em hipótese alguma, lembra?

     Alisei seu braço, passando pelo pulso enfaixado até chegar à mão.

— As coisas podiam ser diferentes, Malu... eu queria que fosse. Mas agora você tem que lutar pra voltar para nós. Prometo que farei o possível pra ser diferente. Você vai tirar essa ideia maluca de que morrer é a melhor saída. Não vou desistir tão fácil, nem se você me ameaçar com uma caneta — dei um ligeiro sorriso, relembrando a cena. — Vou estar aqui te esperando. Não demora. Aproveita para orar... mas nada de reclamar com Deus ou fazer exigências! Sei que você faria isso — as lembranças da sua primeira oração me fizeram gargalhar. — Eu vou estar aqui orando por você também. Não me deixa, ok?

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Eis aí o bônus do nosso príncipe Leo. Eu estou completamente apaixonada por esse capítulo.

E, sim, o capítulo está menor que o normal. O que o anterior teve de grande, esse teve de pequeno, mas é apenas um bônus.

Não sei vocês, mas eu quero um Leo pra mim haha ♥

Em relação ao próximo capítulo, vou postar amanhã normalmente. A partir desse capítulo a história vai entrar nas cenas ápices. Estou nervosa e ansiosa com os próximos capítulos, foram eles que fizeram surgir o livro. Imaginei primeiro o final para escrever o início e o meio, que louco né? hahah

Irresistível AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora