Capítulo 14 - Isso não podia ter acontecido

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     Depois daquela visão impossível – pelo menos aquilo ainda era impossível para meu pobre raciocino – mal pude prestar atenção no aconteceu em seguida. Só percebi que minhas mãos ainda premiam e meu coração permaneceu com o mesmo ritmo acelerado. Seria aquilo uma alucinação?, pensei o culto inteiro. Não, eu estou sóbria hoje!, respondi a mim mesma, balançando a cabeça, tentando inutilmente afastar as indagações que povoavam meus pensamentos.

      Na volta para casa, quis contar para Leonardo, todavia eu estava desacreditada demais para convence-lo de que não foi uma mera visão. Corria o risco de ser chamada de maluca ao até mesmo pensaria que estivesse com febre, tendo alucinações. E talvez realmente estivesse. Por que Deus, em sua infinita glória, se daria ao trabalho de aparecer logo para mim, uma descrente, resmungona, tão incrédula, cheia de erros e pecados? Não é possível que dentre aquelas pessoas que estão servindo a Deus, eu tenha sido a escolhida para uma aparição. Por que Ele faria isso? Realmente não faz sentido!

— Você tá bem, Malu? — questionou pela quinta vez.

     Conto ou não conto? Pergunte-me mentalmente. Não conto? Tá bom. Não conto!

— Sim — respondo, incerta.

— Não parece — retrucou. — Desde a hora do louvor você está assim. Não seria exagero meu dizer que você ficou até pálida por algum tempo. Se estiver se sentindo mal, eu te levo no hospital mais próximo. Podemos ir agora se quiser.

     Me mantive em silêncio, ainda questionando se deveria contar tudo. Talvez devesse esperar mais alguns minutos, horas ou até mesmo dias. Deveria, no mínimo, ter certeza de que não tive um lapso de loucura e toda aquela visão não passou de uma alucinação. No entanto, sabia que Leonardo não se contentaria com o meu silêncio, agora ele parece preocupado demais para ignorar a minha estranheza. Poderia, então, inventar qualquer motivo fútil para acobertar esse meu momento de loucura, porém, naquele momento, Leonardo era o único que poderia esclarecer toda essa história de "Deus se dando ao trabalho de aparecer para pecadores como eu".

— Aconteceu uma coisa muito... muito, sei lá, não sei como explicar. Foi algo muito surreal. Impossível! — comecei, tentando arranjar as palavras certas. — Algo sobrenatural... Isso! Sobrenatural! essa é a palavra certa.

— Malu, vai logo ao ponto, por favor! — ordenou com certa curiosidade na voz.

     Me ajeitei no banco do passageiro, e ficando de frente para ele, comecei a detalhar o ocorrido. De inicio o alertei que estava totalmente sóbria e, até onde eu sabia, meu estado mental estava perfeitamente bem. Então, diante dessas afirmações, não havia condições de eu ter imaginado algo daquela proporção, nem mesmo em meu melhor sonho consegui dar tanta vida as coisas como aquela visão.

     Ao longo da explicação, Leonardo não esboçou um espanto sequer. Pensei, então, que talvez ele também tivesse visto a mesma coisa que eu. Tão logo descartei a ideia quando ele disse:

— Consegue entender o que aconteceu, Malu? Você teve uma visão! — ele alternava os olhares entre a estrada e eu. Um sorriso empolgado acompanhando cada palavra. — Por que não me falou antes?

— Porque pensei que você ia me chamar de maluca — respondi como se fosse óbvio.

— Eu nunca te chamaria de maluca — esclareceu, parecendo ofendido por eu pensar que ele se prestaria a esse papel diante que um acontecimento tão sério.

— Mas ia pensar! — insisti de um forma mais sutil.

     Ele entra em uma rua desconhecida e estaciona o carro sem dizer uma palavra. Observei tudo em silêncio também, esperando por um explicação e quando percebi que ela não viria, me atrevi a perguntar:

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