A nova Eu

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Izzie acabou de telefonar. Parece que Tony comentou com Paola que me achava uma "menina doce". Que espécie de palavra é essa? Doce? É como alguem dizer que você é boazinha. Agradável. Argghhh.
O que faz de mim "Eu mesma? Eu sou doce. Argh.
Eu não quero ser doce. Quer ser uma supergata. Um imã para os garotos.
Mas não. Eu sou doce.
Doooce. Uma menina doce. Garotinha.
Mas pelo menos ele me notou. E falou alguma coisa para Paola.
Olho para minha imagem refletida no espelho doo banheiro. Suponho que eu pareça meio doce, mesmo. Pequena, uma tábua, sem o menor indício de busto. É, essa é outra coisa. Izzie e Paola têm seis - na verdade, Izzie diz que os dela ganharam vida própria nos últimos tempos. Mas eu, nada. Pontinhos. Espinhas. Eu tenho o corpo de um garoto de nove anos.
Eu poderia cortar o cabelo. Sempre usei cabelão comprido. Poderia fazer um corte moderno, com as pontas desfiadas. E que tal tingir? Ou descolorir? Embora ele seja loiro, eu poderia fazer umas luzes ainda mais claras. Sim, pensei. Mas como? Com a minha semanada?
Dou uma olhada pelo quarto. Foi pintado pela última vez quand o eu tinha dez anos. De rosa-choque. O início da minha fase pink. E brinquedos de pelúcia por toda parte, sobre a borda da janela, no guarda-roupa, na cama. Peguei o sr. Mackety, meu ursinho favorito. Ele é gordo, com uma cara zangada, e eu o tenho desde os cinco anos. Pensei em jogá-lo fora. Não. O sr. Mackety num certo de material usado? Horrível! De jeito nenhum. Não posso. Nôs passamos por muita coisa juntos. Ainda assim, não dá para negar que o efeito geral de meu quarto é doce. Doooce.
Desci a escada para ver o que todos estavam fazendo, mas, por milagres, não ouvi barulho. Mamãe tinha saído para as compras de sábado. Papai estava na loja de produtos naturais e os garotos, jogando futebol.
Vi as Cartas do Anjo de mamãe num vaso sobre a mesa da cozinha. Peguei o maço de cartas e as embaralhei.
"Oh, oh, cartas sabichonas, vamos ver que palavras de sabedoria você têm hoje para mim." Puxei uma carta e li.
- "As pessoas que vencem no mundo são aquelas que se levantam e procuram as circustâncias que desejam. E, se não conseguem encontrá-las, elas as criam." George Bernard Shaw.
Bem, esse é o recado. Se elas não as encontram , elas as criam.
Tudo bem, vou fazer isso, sr. Shaw. Vou fazer meu próprio tratamento de beleza. Já perdi tempo demais vagando por ai, me sentindo miserável, uma garotinha doooce de segunda categoria. Normalmente eu não sou assim. Foi só nos últimos tempos que comecei a me sentir estranha. Mas vou reagi. Vou mostrar a todo mundo quem é a "menina doce".
Sentei-me à mesa e fiz uma lista de todas as mudanças que pretendia fazer.

1 Meu cabelo.
2 Meu quarto.
3 Minhas roupas.
4 Minha vida.

Mamãe entrou pela porta da cozinha, carregando sacos de compras.
- O que está fazendo? - ela perguntou.
- Mudando - respondi, e a seguir li para ela minha Carta do anjo.
- Mas você é encantadora do jeitinho que é - ela disse, e me abraçou. - Minha encantadora e doce Lucy.
Arrggghhhh. Aquela palavra outra vez.
- Não quero mais ser doce.
- Bem, e o que você quer ser?
- Não SEEEEI!
Mamãe sentou- se e me olhou preocupada.
- Você é feliz, Lucy? Isso é o principal.
- Sim. Não. Mais ou menos. Às vezes.
Mamãe riu e em seguida avistou meu papel com a lista.
- Coisas que eu quero mudar - falei.
- Oh, mas não o seu cabelo, seu cabelo lindo! - Ela continuou a ler a lista. - Mas tem uma coisa. Você pode decorar o seu quarto se quiser. Está precisando faz tempo.
- É mesmo? Posso?
- Pegue algumas latas de tintas, e os meninos podem dar uma ajuda na pintura. Depois a gente procura cortinas. Sei de um lugar em que vendem cortinas seminovas. Eles têm uma grande variedade e com certeza vamos encontrar alguma coisa bacana. Ou então podemos comprar tecido e fazer nossas próprias cortinas.
Fantástico. Um começo.
Então olhei para a colcha de retalho de cores na parede diante de mim.
- Mas, mãe, e a cozinha? Há século que você quer termina isso.
- Oh, a cozinha pode esperar - disse ela. - Eu me acostumei, acho até engraçado. Não. Está decidido. Lucy vai ter um quarto novo.
Eu mal podia esperar para começar.
- Vou chamar Izzie e ela pode me ajudar a escolher as cores - falei. Se você não consegue encontrar as circunstâncias que deseja, trate de criá-la. Gosto disso.
Fui telefonar para Iz.
- Não tente mudar tudo de uma tacada só - falou mamãe. - lembre-se, quem quer subir pela escada deve começa de baixo.
Enfiei minha cabeça pela porta.
- Eu sei. E Roma não foi construída em um dia. Veja, mamãe, você não é a única por aqui que conhece ditados. A propósito, para onde foi todo aquele material da Associação Beneficente?
- De volta para o armário sob a escada. Por que? O que você pretende fazer?
- Esta é a nova eu. Vou "brincar" de personalizar umas coisaa novas, diferentes. Espere e verá. Aquele top foi só o começo!
Mamãe riu enquanto eu corria para o telefone.

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