- O que você faz aqui, Ronald? – Minha voz, que devia parecer forte e imponente àquela altura, parecia desaparecer a cada segundo, como se eu fosse apenas uma criança assustada com medo de apanhar dos pais por ter cometido algum delito. Luto contra o desejo de fechar os olhos e só abrir quando ele desistisse de falar e fosse embora pra sempre, mesmo que parte de mim quisesse abraçá-lo pra nunca mais soltar. – Como você entrou aqui?
- A Luna me passou a senha. – Ele diz como se fosse a coisa mais normal do mundo invadir minha comunal e meu quarto àquela hora da manhã. Vejo-o deslizar a palma até a parte de trás do pescoço com um sorriso travesso. – Eu precisava mesmo falar com você, não foi tão difícil conseguir convencê-la.
- Você é impossível. – Digo, sentando-me de volta na cama, e assim que o faço, me pergunto o porquê de deixá-lo falar. Ele fecha a porta atrás de si enquanto um sorriso se instala de ponta a ponta de seu rosto. Sinto-me levemente claustrofóbica, analisando cada milímetro do chão antes de juntar a coragem necessária para olhar pra ele e ver seus olhos a me fitarem silenciosamente.
- Agora que estou aqui, não sei exatamente o que falar. – Ele senta ao meu lado e não consigo evitar sorrir. – Bem, eu sinto a sua falta. E Harry também. Tem estado um caos sem você, sabe, mostrando o caminho certo e sendo a sabe-tudo entre nós. Não parece tão certo como antes.
- Eu também sinto, em parte... – É tudo o que sai da minha boca enquanto puxo um fio solto da coberta da cama, tentando me distrair, mas sem sucesso algum. Sinto-o levantar e puxar uma camiseta negra da poltrona com suas sobrancelhas arqueadas, sua boca se abre como se fosse perguntar algo e mordo meu lábio ao contemplar a camiseta de Draco nas mãos de Ron. Ao mesmo tempo, a porta se abre com um rangido contido e Draco entra por ela com os cabelos molhados e um sorriso que gradualmente diminui ao ver Ron ali.
- Não sabia que estava com... alguém aqui. – Draco diz após alguns segundos, e sinto que vou encolher até virar uma formiga enquanto os dois se entreolham como dois inimigos no campo de batalha. – Isso me pertence. – Ele puxa o pano negro da mão de Ronald, que cerra o punho esquerdo. Draco me lança um último olhar de juízo final enquanto bate a porta com uma força maior que a necessária, me deixando à deriva por alguns segundos antes de reagir realmente.
- Por que você dá tanta intimidade a esse cara, Hermione? E por que a camiseta dele está aqui? – Ele vocifera. – Ele costuma entrar aqui assim? Sem bater? E se você estivesse... e se... e... Por que a camiseta... Vocês... Vocês... – Sua voz some e ele cerra os punhos cada vez mais, e sinto-me no direito de intervir
- Não pense nada. Não é nada disso. Ele apenas esqueceu aí. E por favor, Ron, isso é problema meu. Você veio numa péssima hora. Estou atrasada. – Me sinto uma idiota por não arranjar nada melhor para dizer ou desculpa melhor pra dar a ele, mas ao mesmo tempo não sei o que fazer diante daquilo. Nunca tive que passar por aquilo antes.
- Péssima hora pra vir. – Ele repete entre dentes, passo a mão lentamente pelo cabelo, impaciente. – Mais tarde, quem sabe? – Ele diz ironicamente, mas percebo que ele espera minha resposta.
- Sim, caso não seja muito tarde. – Eu sou uma idiota completa; é o que repito enquanto ele sai do quarto, batendo a porta com ainda mais força que Draco. Meu corpo cai debilmente no colchão enquanto monto mentalmente uma forma de fugir de tudo sem sentir que estou fazendo tudo errado, pra variar.
{...}
O caminho entre o retrato e o sofá da nossa pequena comunal parece cinco vezes maior enquanto me arrasto pelo caminho. A última aula havia acabado e com ela o dia, e enfim eu poderia deitar e dormir a noite toda, sem interrupções.
Demoro alguns segundos – de puro deleite depois de me arrastar por todo o corredor – no sofá até perceber que Draco está no canto da sala, sentado sob a poltrona. Os olhos cinzentos me fitam como um predador prestes a abater sua presa, e percebo que ele não está ali pra brincadeira enquanto desliza o dedo debilmente pelo braço da poltrona, como quem pensa em algo.
- Posso perguntar uma coisa? – Sua voz está mais rouca que o habitual, e isso provoca um sentimento diferente em mim, que começa na minha espinha e sobe até a nuca, eriçando todos os meus pelos.
- Sim. – Ele parece lutar uma batalha dentro de si mesmo, como se em sua cabeça houvesse dois Dracos a disputar se diz-me ou não.
- Vocês estão juntos? – Parte de mim sorri, e abstenho-me de fazer o mesmo por fora. Conter-me nunca foi o meu forte, então abaixo a cabeça. O que se passa comigo, merda?
- Não. – Ele não diz mais nada antes de subir as escadas sem demostrar expressão alguma. Assisto sua silhueta enquanto ele se move pelos degraus até que tudo o que vejo é sua sombra. Entender não parece fazer parte do plano dele, então levanto do sofá e faço meu caminho até o meu guarda roupa, alcançando um pijama de flanela qualquer e tomando um banho demorado e quente antes de deslizar para baixo das cobertas
O sono demora a vir, mas assim que vem, adormeço rapidamente enquanto ouço barulhos no quarto ao lado.
{...}
Eu sentia seus lábios percorrendo toda a extensão do meu pescoço até o ombro, e logo retornando de forma a me torturar mais e mais. Formigava toda a pele da região da minha clavícula até meu busto por onde sua boca passava, trilhando um caminho que queimava sob seu toque. Alguns gemidos involuntários preenchiam todo o quarto, e por Merlim, eu sabia que ele adorava me deixar daquele jeito.
Entregue. Era essa a palavra perfeita para descrever meu estado naquele momento, enquanto ouvia-o sussurrar contra a minha boca o que eu sempre quis escutar, tornando tudo aquilo mais intenso e surreal. A partir dali, tudo estava apagado da minha mente, nem meu nome se fazia importante o suficiente para ser lembrado. Gemo novamente entre um beijo interminável, dessa vez nossos lábios unidos e nossas línguas disputando espaço uma contra a outra. Não queria que o tempo passasse. Não queria sair dali. Só queria senti-lo mais e mais perto.
- Ninguém precisa saber. – Foi a primeira e última coisa que escutei desde que ele entrou em meu quarto durante a madrugada. Apenas concordei com a cabeça enquanto ele deslizava a seus lábios até a pele desnuda da minha cintura.
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Problem || Harry Potter ff
Ficção Adolescente"Well, I know when you're around 'cause I know the sound of your heart; - The 1975" As coisas estavam indo bem até onde elas podiam ir. A guerra havia acabado, aquele-que-agora-pode-ser-nomeado estava reduzido a pó e o castelo de Hogwarts se ergui...