Draco Lucius Malfoy
No meu sonho, suas bochechas atingiam uma cor de vermelho que eu não acreditava ser possível. Era uma das poucas vezes que eu estava em plena consciência de que eu estava, sim, sonhando. Ela parecia confusa, os dedos brincando com os cachos de se cabelo. Assim, sob a luz da lua, ela parecia um leãozinho. Meu eu do sonho riu, mas ela não se moveu.
Ela gesticulava, como se falasse com ele, mas apenas sua presença estava ali. Seu corpo, em si, não estava. O que ela dizia se tornou audível. Dizia que nunca podiam ficar juntos e que ele não era digno de estar com ela. O Draco do sonho assentiu, derrotado.
A dor, acreditávamos - eu e o meu colega do sonho, é universal, como o amor, a guerra e a morte. Então ela ultrapassou a linha tênue que me desligava da Hermione de cachinhos e me despertou, bem ali, na minha cama. Eu já havia esquecido o que era dormir nela, pra ser sincero. Eu dormia no sofá na maioria das noites e quando finalmente ia pro quarto, acordava na sala. Normalmente o teor dos meus sonhos era parecido: Hermione dizia que não me queria, Morgana me atormentava ou Tyler aparecia com Hermione e a beijava nos corredores. Alguns eram com a minha mãe, onde ela gritava e esperneava, amarrada numa sala sem porta, com uma janela que mostrava o céu azul.
Aí eu levantava - bem como fazia agora e ia pro banheiro, tomava um banho caprichado e voltava pro quarto. Geralmente, isso se dava pelas cinco da manhã. Então eu lia algum livro roubado de Hermione - geralmente ela largava alguns pelo complexo e eu os pegava pra quando não tivesse o que fazer. Certa vez, até me peguei na biblioteca, buscando por uns exemplares. Madame Pince me enxotou, é claro, pensando que eu estava lá de brincadeira. Hermione nunca me via, mas seu rosto estava sempre inchado e rosado, o lábio franzido e a cabeça apoiada na mão, como se fosse dormir.
Pansy me cercava de vez em quando, perguntando quando voltaríamos a nos ver. Eu até sentia vontade de dizer que sentia pena dela, mas me limitava em dizer que não queria mais nada. Dizer a verdade para Hermione tinha tirado um peso dos meus ombros que eu já não aguentava mais segurar. No começo, eu também não entendia nada. Tinha medo do que isso podia acarretar. Fui ensinado a viver no controle. Ou você controla as coisas, ou as coisas controlam você. Até que eu me vi totalmente descontrolado. Dar uma surra em Grey foi o meu ápice. Peguei um mês de detenção, mas ver seu nariz sangrando foi quase como ganhar um Ótimo nos N.O.M.'s. Tudo bem que Minerva me deu uma bronca que eu nunca vou esquecer, mas foi sensacional.
Sentei na poltrona. Eu simplesmente a amava. Segurava a pequena camiseta vermelha na mão, sem entender como a peça podia caber na garota. Seu cheiro de repente tomava toda a sala. Era levemente amadeirado. Tivera que ameaçar um dos elfos para poder roubar uma das peças de Hermione da pilha que ela enviara para ser lavada. Quando tinha sonhos sinistros sobre ela, segurava a blusa bem perto do rosto, sentindo o cheiro que ela emanava, e aí podia lembrar-se dela.
Uma hora antes do café da manhã segui para o depósito de poções, onde carregava centenas de ingredientes e poções e as organizava. O livro mostrava qual ingrediente deveria ser guardado com qual. Tinha que limpar a sala de poções, arrumar os livros e só então sair para tomar café. Depois, tinha que fazer rondas pelo castelo, advertindo alunos só por esporte por coisas que eles até poderiam estar fazendo.
"Largue a garota, Landess. Menos cinco pontos para Lufa-Lufa!" e eu já tinha mais alguns sorrisos pro fim do dia. As aulas corriam bem, como sempre. Mas aquele dia parecia diferente de todos os outros. Um alvoroço do lado de fora se deu logo de manhã. Alguns minutos depois, descobri ser Molly e Ronald Weasley, que chegavam na escola. A mulher estava aos prantos, a cara tão vermelha quanto seu cabelo. Minerva tentava consolá-la, mas não parecia ter muito sucesso. Hermione estava do outro lado, assistindo a tudo com a cara mais assustada do mundo, como se tivesse visto a pior coisa do mundo. Andei até ela, que me puxou e corremos para um canto, onde ninguém podia ouvir.
- Recebi uma carta. Quem está com Gina, a libertou!
"As coisas mudaram
O rumo se alterou
Os desejos são outros
O jogo virou
Com um feitiço, tudo será esquecido
E o caos não mais estabelecido
O silêncio será eterno
E suas vidas, que pena, ainda serão um inferno."O papel estava amassado, com uma caligrafia que percebi que Hermione conhecia bem. No pergaminho, algumas partes estavam em relevo, secas, como se lágrimas estivessem caído sobre ele. Era a letra de Gina, constatei.
E quando Molly Weasley apareceu, com Gina à tira colo, entendi. O que quer que a pessoa quisesse, não precisava mais de Gina para conseguir. Hermione sumira, apertava a amiga com tanta vontade que parecia que ia matá-la.
Mais tarde, Hermione apareceu. Eu estava no sofá, como de costume, lendo um exemplar de qualquer livro (Onde há uma varinha há uma solução). Ela sentou na poltrona, o que me fez arquear a sobrancelha. Eu sentia um pouco de ciúme da minha poltrona.
- Gina não se lembra de nada. Até riu quando eu disse que pensei que ela tinha sido sequestrada. Disse que se lembrava de ter falado com Minerva e depois tudo ficara nublado. Disse que estivera com um amigo, andando por aí. Acho que ela criou falsas memórias. Obliviate, sem dúvidas.
Foi aí que eu entendi. E procurei pelo Profeta Diário em todo e qualquer lugar e quando o achei, não havia nenhuma notícia sobre a volta da minha mãe. A pessoa ainda estava com ela. Isso fez meu corpo tremer. Caí no sofá, inerte, sem saber o que dizer. Hermione sentou ao meu lado e por um tempo não disse nada.
- Fui muito egoísta. Fiquei tão feliz com a volta de Gina que esqueci que sua mãe estava aprisionada com ela. - "Não é culpa sua", ouvi a minha própria voz, mas minha cabeça ainda girava. - Vamos passar por isso. Vamos achar a sua mãe. - Ela disse, com convicção. Segurou minha mão e a apertou. Nem mesmo seu corpo tão próximo ou sua pele quente tocando a minha me tirou do meu foco. Eu precisava sair do castelo. E não existia uma viva alma que pudesse me impedir de matar o desgraçado que mantinha minha mãe em cativeiro.
Just know that I'll be gone and you won't need me
Só sei que vou embora e você não precisará de mim.
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Problem || Harry Potter ff
Novela Juvenil"Well, I know when you're around 'cause I know the sound of your heart; - The 1975" As coisas estavam indo bem até onde elas podiam ir. A guerra havia acabado, aquele-que-agora-pode-ser-nomeado estava reduzido a pó e o castelo de Hogwarts se ergui...