Insuficiente

223 16 4
                                    


         "Lembra de quando nós nos conhecemos? Da primeira vez em que nos falamos? Da primeira vez em que você me tocou? Eu me lembro... tudo ainda está bem vivo em minha memória.

Estávamos na terceira série, fazia exatamente uma semana que minha mãe havia morrido. Foi numa segunda-feira, eu tinha ficado a semana toda sem ir para a escola mas naquela manhã, meu pai achou melhor eu ir. Ele não aguentava mais o clima estranho e silencioso que estava em nossa casa, nem eu.

Eu tinha chegado cedo e não sabia ao certo o que fazer. Temia os olhares e as palavras que possivelmente receberia. Não queria ouvir um "sinto muito" nem nada do tipo. Ninguém me entendia, ninguém entendia minha dor e eu odiava como as pessoas chegavam até mim achando que sabiam de tudo.

Ao adentrar na sala, reparei que já havia alguns poucos alunos ali, incluindo você. Baixei minha cabeça e me encaminhei até o meu lugar, mas antes que eu pudesse chegar lá, você se colocou em minha frente impedindo minha passagem. Fechei meus olhos brevemente pensando que já teria que aguentar tudo aquilo, todas aquelas palavras e coisas típicas. Mas você é única, Lydia. Você não é nada do que eu poderia esperar ou encontrar em uma pessoa.

Quando eu abri meus olhos novamente, reparei que você tinha seus punhos fechados e que eles estavam apoiados em sua cintura, você parecia até a Supergirl, pronta e preparada para tudo. Ao olhar em seus olhos, percebi que eles encaravam os meus e assim ficamos por cerca de 20 segundos, até você agarrar em meu pulso e me arrastar numa rapidez inimaginável para fora daquela sala. E você não parou quando chegamos no corredor, você não parou até que estivéssemos no pátio dos fundos da escola. Eu não estava entendendo nada, mas você estava tão determinada que preferi não questionar o motivo daquilo. Ao parar, você se virou ficando de frente para mim e alguns instantes depois, senti meu corpo indo para trás, tamanha era a força com que você me abraçou. Você envolveu meu pescoço e assim ficamos. Eu não ousei me mover de primeira, mas parecia que havia uma força me controlando, era mais forte que eu, então meus braços involuntariamente envolveram sua cintura e assim ficamos por cerca de 10 segundos até eu começar a chorar. Aquela foi a primeira vez que eu chorei desde a morte da minha mãe, Lydia. Você foi o único ombro capaz de me consolar no momento que eu julgava ser o mais difícil de minha vida.

A partir daquele momento, eu sempre soube que se eu precisasse de um ombro amigo, poderia contar com você. E você me ajudou, você me ajudou em tudo! Você me ajudou a superar cada dificuldade que eu tinha, me ajudou a quebrar toda barreira que por conta da dor e do medo, eu fui construindo. Eu posso de coração dizer que eu não saberia o que seria de mim sem você... E é por isso que eu estou assim, perdido. Porque eu não estou sabendo o que fazer sem você, Lydia. Eu queria tanto que você estivesse aqui, queria tanto sentir o cheiro do seu cabelo, o seu abraço... Eu sinto tanto a sua falta que chega a doer.

Eu queria que você pudesse se sentir do mesmo modo em relação a mim. Eu queria poder ter sido o seu ombro amigo no momento em que você mais precisou. Por favor, me perdoe por não ter sido o suficiente... Eu não sabia lidar com a minha própria dor. Eu não sabia como te ajudar, mas eu sei que preciso de você!

Duvide que as estrelas sejam fogo. Duvide que o sol se mova. Duvide que a verdade seja mentira. Mas nunca duvides do meu amor.

Com amor,

Stiles."

Stiles olhou a carta que acabara de escrever, dobrou-a, pegou um envelope e escreveu a data nele, não precisava olhar no calendário pois desde que Lydia havia partido, contara todos os dias, horas, segundos... Ele sabia que assim era pior, que só dificultaria tudo para ele. Mas ele não queria esquecer, não queria superar... Ele só queria que ela voltasse o mais rápido possível para o calor de seus braços. Colocou a carta dentro do envelope e colocou-a com as outras. Olhou a quantidade de cartas que já havia escrito, eram muitas, mas ele considerava a coisa certa a ser feita.

Passou seus olhos sobre a escrivaninha e parou quando encontrou o que procurava. Abriu o álbum e observou as fotos, como fazia todas as noites. Observou os sorrisos e os olhares que ele e Lydia trocaram no dia do seu casamento. Era visível o quanto se amavam e o quanto estavam feliz. Ele se perguntava se poderiam ser felizes assim novamente.

Após olhar o álbum se encaminhou até a cama, apagando as luzes durante o trajeto, deitou-se e abraçou o travesseiro em que Lydia costumava dormir. Fechou os olhos lembrando-se das fotografias que acabara de ver. E enquanto esperava o sono vir, se perguntou se voltaria a ver Lydia novamente.

All I WantOnde histórias criam vida. Descubra agora