23 - Sempre frio.

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Eloisa

Desperto assustada sentindo uma dor forte na minha cabeça e tento me levantar quando percebo que estou dentro da banheira. Uma blusa branca ensopada cobre o meu corpo. Meus cabelos estão flutuando sobre a água e alguns resquícios do sangue colorem a mesma. 

Levanto-me um pouco desorientada e apoio-me na banheira para escorregar. Minhas pernas doíam como se estivessem machucadas e assim que olhei para as mesmas constatei que estavam.

Anjo

Essa era a palavra escrita em minhas coxas, ele havia me marcado. Eu era o seu anjo, mas mesmo assim eu não viveria? 

Comecei a descer as escadas, tudo parecia quieto, talvez ele tivesse saído e essa seria a minha chance de buscar ajuda. 

Agarrei no corrimão tentando descer mais rápido e minhas pernas congelaram com a imagem que estava na sala. 

Minha mãe estava amarrada na parte debaixo do alto da escada, seus braços esticados e assim como eu vestia uma camiseta branca. Vadia era o nome gravado em sua testa e em seus braços.

- Não. - Sussurrei sentindo as lágrimas descerem. - Por favor, não. - Pedi tentando encontrar o meu pai e o vi logo mais a frente. 

Suas mãos estavam amarradas para trás, sua barriga tinha um corte profundo e sua cabeça estava abaixada. 

- Linda cena não? - Virei-me assustada e vi Harry vindo da cozinha. Ele ostentava um sorriso e em sua mão uma faca com sangue assim como em sua camisa. 

- Harry...

- Tenho que admitir, eu briguei muito internamente comigo para decidir o que seria de você. - Afirmou. - Não sei, talvez seja o sexo, é deve ser isso. 

- O quê? - Sussurrei. 

- Você é boa nisso, talvez seja isso que tenha me feito pensar duas vezes. Mas a razão falou mais alto.

- Razão? 

- Você vai morrer Eloisa. - Afirmou e ofeguei. Minha respiração parecia difícil, o choque parecia eletrizar todo o meu corpo.

- Você é um monstro. - Murmurei sentindo as lágrimas escaparem e Harry sorriu. 

- Não era bem isso que você dizia lembra-se? Você gostava da forma que eu te tocava, te beijava, te abraçava... - Murmurou enquanto me rodeava. - Gostava da forma que eu te fodia. - Afirmou e me afastei. 

- Como você pode? - Perguntei.

- Esse sempre foi o plano Eloisa, desde que te vi naquela varanda eu soube que queria você. 

- Você é louco. - Afirmei seguindo vagarosamente para as escadas. 

- Não, ou sim, eu não me importo. - Sorriu e comecei a subir as escadas correndo. - Eloisa sério que quer brincar agora? - Ouvi sua gargalhada e seus passos na madeira velha.

Tentava conter minha respiração ofegante enquanto encolhia-me dentro do guarda roupa. Ele havia matado os meus pais. O que eu faria agora? A quem eu pediria socorro? 

- Sabe nunca tive muita paciência para brincadeiras. - Afirmou e ouvi sua voz mais alta no quarto. - Acho que nunca tive paciência para nada. - Disse chutando o guarda roupa dos meus pais e me segurei. 

Como ele conseguia? Ele se mostrou alguém carinhoso, companheiro. Como ele conseguia esconder essa personalidade podre?

- Tudo bem, eu vou contar até três. Um...

Eu iria morrer

- Dois.

Mas eu não quero morrer.

- Três! - Gritou abrindo a porta do guarda roupa fazendo-me gritar de susto. - Achei... - Debochou. 

- Não... Para com isso, por favor, não! - Pedi chorando enquanto o mesmo arrastava-me para fora do guarda roupa. 

- Implora Eloisa, um pouco mais. - Pediu e olhei para ele. 

Ali estava o seu prazer. O seu prazer era me ver chorando, implorando pela minha vida como todas as suas vitimas, como os meus pais. 

- Vai pro inferno. - Murmurei entre dentes cuspindo em seu rosto. Harry me encarou por alguns segundos e rapidamente voltou a me arrastar pela casa dessa vez com mais brutidão fazendo meu corpo bater contra as coisas. 

- Vagabunda. - Esbravejou jogando-me para dentro do banheiro dos meus pais. - Vai! Implora agora pela sua vida. - Sorriu. 

- Eu jamais irei pedir a sua misericórdia. Você acha que você merece misericórdia Harry? - Confrontei-o. 

- Eu tenho certeza que você não merece. - Afirmou me empurrando para dentro da banheira. Segurei em seus braços tentando para-lo e o mesmo afundou meu corpo mantendo-me debaixo d'água.

Uma...

Duas...

Três...

Quatro... 

Harry me puxou novamente e mesmo atordoada encontrei os olhos daquele que eu um dia disse amar. Agarrei em sua camisa tentando me manter firme e o mesmo sorriu pronto para me afundar de novo. 

- Você... Vai morrer Harry... - Afirmei. 

- É mesmo e quem vai me matar? Você? - Gargalhou e senti minha visão ser tomada pela água. Meu aperto no pulso de Harry foi se tornando mais fraco, meus pulmões foram deixando de lutar e eu enfim não senti mais nada.

      *Dia seguinte*

Policial

- Eu não via uma cena assim desde os últimos moradores dessa casa. - Disse meu parceiro conforme a pericia fotografava o local. 

O corpo da mulher estava amarrado na escada como da última vez e um nome estava escrito em sua testa. A casa estava toda revirada, tudo parecia destruído por alguém em um acesso de raiva. 

O pai estava ajoelhado alguns metros da mãe, com as mãos amarradas para trás e o mesmo corte encontrado na vitima anterior. 

- Encontramos mais um corpo. - Avisou e subimos para o andar de cima. Dentro do banheiro que parecia estar no quarto do casal havia o corpo de uma jovem. 

Cabelos escuros, magra, baixa... Seus olhos ainda estavam abertos e sem vida refletindo debaixo d'água. Suas mãos estavam penduradas para fora da banheira e seu corpo boiava junto com a camisa branca. 

Anjo

Era a palavra escrita em suas pernas. E naquela madrugada fria do Alasca havia sido desfeita mais uma família.

Retiraram o corpo da jovem da água após as fotos da pericia e a colocamos no saco e fechamos. 

- É esse lugar definitivamente não é mais o mesmo. 

- Não... Não é.

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Gente, esse não é o último, ainda tem um antes do Epílogo na versão do Harry.

Espero que tenham gostado, votem e comentem e acompanhem até o final. Beijinhos :)

Neighbour H.S ( Completa. )Onde histórias criam vida. Descubra agora